Mostra de Lenora de Barros inaugura nova galeria na avenida Paulista

Obras inéditas da artista da última Bienal de Veneza discutem o tempo em espaço da Gomide & Co

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São Paulo

O tempo é uma entidade que resiste na obra de Lenora de Barros. O tema, uma constante em sua carreira, volta agora em "Não Vejo a Hora", exposição que inaugura sede da Gomide & Co nesta quarta-feira (8), no corredor cultural da avenida Paulista.

A galeria deixou a vila modernista de Flávio de Carvalho na alameda Lorena.

"Não Vejo a Hora" reúne 12 trabalhos de Lenora de Barros, a maioria deles inéditos. A artista usa fotos, vídeos, sons e objetos para discutir não só a passagem do tempo, mas as possibilidades de enfrentá-la. O próprio nome da exposição representa uma dualidade. Se por um lado representa uma expectativa, por outro carrega uma ignorância, isto é, o tempo que não é visto ou percebido, nas palavras da artista.

Obra de Lenora de Barros - Divulgação

A visita à exposição começa ainda na rua, no caminho para a galeria. Quem vem a pé ou fica preso no semáforo no encontro das avenidas Angélica e Paulista, de ônibus ou de carro, é abordado por um grande letreiro digital no estilo da Times Square onde lê-se um poema da artista.

"Não vejo a hora", "posterior", "adiantar" e "tempolábil" compõe, em letras vermelhas e garrafais, o vocabulário da autora sobre tempo.

Se entrar pela porta principal da galeria, a próxima parada é em uma instalação sonora. "Quanto Tempo o Tempo Tem" traz uma conversa de Lenora com sua mãe, Electra Delduque de Barros, gravada em 2008, dois anos antes de Electra morrer. "Foi uma experiência especial. É brincadeira de criança", diz a artista.

Indo mais a fundo no espaço expositivo, o visitante encontra fotografias e vídeos. As séries "Nebulosas" e "Previsão" mostram minúsculos ponteiros de relógio. Na primeira, aparecem sobre fundos pretos, como uma poeira cósmica. Na outra, sobre palmas de mãos, conectando a previsibilidade do tempo com a previsão do destino, que alguns acreditam que está escondida nas linhas das mãos.

"Camadinhas" une a pequeneza dos ponteiros com a dos diminutivos. Os termos —ou terminhos?— surgem entre as pontas entre duas finas lâminas de vidro.

Já "O Ventre.", já exposta na Pinacoteca, foge das peças de relógio para retratar, em fotos de barro sobre o corpo, a origem da contagem do tempo de vida, marcado na saída do ventre materno.

Em certo espaço da galeria, o visitante vai se deparar com uma mesa adornada com um espelho. "Mesa para Ping-Poems" dá continuidade aos paralelos que a artista traça com o pinguepongue desde os anos 1990.

A mudança de ares marca uma nova fase da Gomide & Co. Além de um novo endereço, a galeria passa a contar com Fabio Frayha, ex-diretor do Masp, como sócio de Thiago Gomide, e Luisa Duarte como nova diretora artística.

A escolha da Lenora foi natural. A artista é representada pela galeria há dois anos e ainda não tinha tido uma exposição individual. Do ano passado para cá, ela tem conquistado cada vez mais visibilidade, com exposições na Bienal de Veneza e na Pinacoteca.

"Estar na Paulista tem um simbolismo. A galeria entra em um circuito que é predominantemente de grandes espaços institucionais", diz Gomide. "Você acaba entrando em uma situação que é muito incrível, chamando um público que não vai tanto em galeria. Vai muito mais em museu do que galeria."

Apesar de sedutor, o antigo prédio da galeria, uma casa modernista e intimista projetada por Flávio de Carvalho, não tinha sido pensado para ser uma galeria. O novo espaço une dois desejos do time da Gomide & Co.

Um deles é ter um ambiente confortável para exposições, com uma estrutura adequada, dos banheiros à área expositiva. O outro é a conexão com a rua, evidente já nas vidraças externas da galeria, que expõe o interior para quem o vê de fora.

Não Vejo a Hora

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