Show do Paramore em São Paulo tem hits emo, noivado, chuva e bronca de vocalista

De volta ao Brasil depois de nove anos, banda liderada por Hayley Williams cantou para 18 mil pessoas na Luz

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Luccas Oliveira
São Paulo

Em São Paulo, Hayley Williams, a carismática e elétrica líder da banda norte-americana Paramore, disse mais de uma vez aos 18 mil fãs presentes que a ideia de seu show era compensar a espera deles.

Afinal, o trio de pop punk do Tennessee —que vira um hepteto poderoso no palco— não tocava no país desde 2014, quando foi atração secundária do festival Circuito do Brasil.

O reencontro deste sábado repetiu o repertório de dois dias antes, no Rio de Janeiro, e deve ser o mesmo neste domingo (12), quando o Paramore volta ao mesmo Centro Esportivo Tietê, na Luz.

A cantora Hayley Williams em show da banda Paramore na Qualistage, casa de shows no Rio de Janeiro
Hayley Williams, vocalista do Paramore, em show da banda no Rio de Janeiro - Alessandra Tolc/Divulgação

Em cerca de 1h45, a banda que explodiu como um dos expoentes do fenômeno do pop punk na década de 2000 teve que botar a saudade em dia sob forte chuva. A água começou a cair cerca de três horas antes do início da apresentação, às 20h, e não deu trégua.

"Nem a chuva consegue parar vocês! Ela também não vai nos parar", garantiu Hayley, em sua primeira interação com os fãs.

Apesar do perrengue, que contou ainda com longas filas na entrada, o show teve um pouco de tudo —os hits da fase emo e pop punk do grupo; as novidades do sexto álbum do Paramore, "This Is Why", lançado em fevereiro; um pedido de casamento entre duas mulheres na grade; cinco fãs cantando no palco o hino pop punk "Misery Business", excluído dos shows entre 2018 e 2022 por conter versos machistas; e até uma bronca de Hayley quando parte do público vaiou um dos fãs convidado à cantoria coletiva mais empolgado ("só pode vaiar quem for racista, homofóbico, transfóbico e machista").

O novo "This Is Why" mistura as duas vertentes da discografia do grupo: a energia do pop punk do fim da década de 2010, quando o Paramore chacoalhou a indústria com o álbum "Riot!", lançado em 2007, e a maturidade lírica e sonora proposta em "After Laughter", de 2017, que fincou os pés do grupo no synth-pop. Neste sentido, a turnê faz jus à divulgação do álbum novo.

O grupo tocou dez músicas da fase madura, pós-2017, e nove da leva mais púbere —apenas o álbum de estreia, "All We Know Is Falling", ficou de fora. Para celebrar a volta do baterista Zac Farro, que ficou fora do Paramore entre 2010 e 2017, ele assumiu o papel de vocalista em "Scooby’s in the Back", de seu projeto paralelo HalfNoise —um dos momentos mornos do show em São Paulo.

Apesar de ainda se chacoalhar das mais diversas formas no palco e interagir muito com o público, Hayley entrou em sintonia com o momento da banda e assumiu uma faceta mais equilibrada no palco. Isso, somado ao fato de que ela e os fãs são nove anos mais velhos que em 2014, reflete num show menos frenético de ambas as partes, dosando a energia pueril, a dança estimulada pelo pop funkeado dos últimos seis anos e os diálogos apaixonados com o público.

Na hora de acelerar, "That’s What You Get", "Ain’t It Fun", "Still Into You" e "Misery Business" garantiram o arranque. A balada romântica "The Only Exception" embalou o pedido de casamento na grade. Enquanto isso, "Running Out of Time", "This Is Why" e "Hard Times" trouxeram a viagem sonora por outras décadas anteriores a eles.

Aliás, Hayley vestia uma camisa preta de alguma turnê da cantora de soul Sade e citou versos de "I Wanna Dance with Somebody", de Whitney Houston, na metade final de "Rose-Colored Boy", também faixa de "After Laughter".

Antes de "All I Wanted", a música pré-bis, a vocalista ainda pediu que os fãs cantassem num volume "até liberar a Mariah Carey dentro de vocês, ou a Sade, a Whitney Houston".

Sumido de shows e festivais desde a posse presidencial, o grito pelo presidente Lula reapareceu em outro discurso, quando Hayley falava sobre os tempos difíceis que o mundo teve que superar nos últimos anos, ao introduzir a sugestiva "Hard Times".

Outro tema abordado pela cantora mais de uma vez foi a da saúde mental. "C’est Comme Ça", do novo disco, foi apresentada com um discurso sobre o tema: "Se você tem ou já teve depressão, ansiedade, ter que seguir em frente é sempre complicado. Essa é para vocês que estão sentindo algo assim."

"Vamos chacoalhar esse estresse para fora", disse Hayley, que costuma discutir, tanto em entrevistas quanto em composições, os desafios que enfrenta, desde muito jovem, por ser a vocalista de um dos grupos de rock mais famosos do mundo.

"A vida não é sempre simples. Esta é uma das razões pelas quais eu morreria pela música. É ela que faz isso ter sentido. E o Brasil é o melhor lugar do mundo para sentir isso coletivamente. Obrigado por constantemente nos lembrar por que devemos continuar fazendo isso", agradeceu ela.

Bossa nova em inglês na abertura

Antes do Paramore, o público recebeu Elke, projeto de art-pop da cantora e modelo americana Kayla Graninger, como atração de abertura.

Chamou atenção a voz de Elke, que em momentos remete a uma adaptação feminina de vocalistas de tons profundos como Nick Cave e Leonard Cohen.

Ela lançou seu primeiro álbum, "No Pain for Us Here", em 2021, com produção do namorado Zac Farro, baterista do Paramore. Numa das faixas cantadas no show, "Zubie Zubie", ficou clara a influência da bossa nova na criação do disco.

Mais ainda quando Elke fez uma presepada bem recebida pelo público: misturou a melodia de "Águas de Março", de Tom Jobim, com a letra de "Mr. Brightside", sucesso do grupo de indie rock The Killers. Saiu aos gritos de "Elke, eu te amo!".

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