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Remake de 'Resident Evil 4' reinventa o original com menos galhofa

Versão repaginada do clássico moderniza jogabilidade, mantém trama, mas deixa humor absurdo de lado

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Resident Evil 4

"Resident Evil 4", lançado originalmente em 2005, chegou a maioridade neste ano, e seu aguardado remake reflete bem a maturidade desse clássico e da franquia como um todo. Afinal, muitos dos 140 mil jogadores simultâneos, só para falar dos PCs, que correram para aproveitar o lançamento nesta sexta-feira (24) não devem ser marinheiros de primeira viagem.

O resultado é uma aventura viciante que traz diversas mudanças, modernizando a jogabilidade, mas maneirando no tom burlesco e apostando num verniz nostálgico. Ao contrário do remake de "The Last of Us", esse novo "Resident Evil 4" não quer nem irá substituir a sua fonte —acessível hoje em versões remasterizadas em diversas plataformas.

Cena do remake de 'Resident Evil 4'
Cena do remake de 'Resident Evil 4' - Divulgação

Há 18 anos, o game dividiu os fãs da franquia de terror por se centrar mais na ação e menos na agonia do gênero "survival horror", e sobretudo por acabar com a câmera fixa, que foi para as costas do personagem.

Em vez da adrenalina para se esconder de um monstrengo e preservar parcos recursos navegando por perspectivas predefinidas, a nova estratégia prezou pelo tiroteio, ainda encavalado graças ao famosos controles "tank", que não permitem andar e atirar ao mesmo tempo.

Goste-se ou não da mudança, o fato é que o design do jogo de Shinji Mikami era ótimo —vide a diversão proporcionada pelo modo "Mercenaries", cujo único compromisso é matar zumbis-parasitas— e definiu os passos seguintes da franquia até a retomada do horror em "Resident Evil 7", de 2017.

O remake tem méritos próprios, a começar pelas novas mecânicas —já podendo andar e atirar ao mesmo tempo, Leon pode ainda agachar e entrar em modo furtivo para acabar com inimigos silenciosamente, bem como correr e desviar de ataques.

Diferença notável também para o uso da faca. Antes um instrumento para poupar munição, agora ela tem uma durabilidade finita. Quando quebra, dá uma pontada de frustração, mas incentiva o uso estratégico, já que também pode ser usada para bloquear golpes e garantir um contra-ataque.

Os "quick time events" também praticamente sumiram —a Capcom parece ter aprendido com o paroxismo de "Asura's Wrath"— e se restringem a esquivas.

Com mais liberdade de movimento, espere também inimigos mais agressivos, variados e menos previsíveis, em hordas que mal deixam você abrir o inventário para recuperar a vida. O controle do equipamento, restrito a uma maleta, é um desafio à parte, mas um novo botão de organização automática dá praticidade.

O comerciante que oferece armas, melhorias e outros bônus também foi repaginado e oferece missões secundárias, além de um clube de tiro lúdico, que expandem a aventura principal. Sua risada marota, porém, está menos carismática, o que se reflete na embalagem geral do game.

Esse "Resident Evil 4" não mexe tanto na história do agente Leon Kennedy, enviado para um vilarejo remoto da Espanha em busca de Ashley, filha do presidente dos EUA, e logo de cara se vê em meio ao culto a um parasita ancestral, Las Plagas.

A recriação dos cenários sombrios, da vila ao castelo, passando por minas e ruínas, dá boa parte do impacto visual do jogo —belo, mesmo em configurações baixas. O mundo está maior do que antes, com novas áreas exploráveis e recompensas úteis.

No detalhe, a memória do jogador levantará algumas dúvidas. A sequência dos acontecimentos quase não é alterada, mas a abordagem muda bastante —a galhofa é menos gritante, seja com diálogos que se levam mais a sério, limando cenas de humor absurdo e monstrengos menos caricatos.

Isso se vê claramente na nova versão do nobre Ramon Salazar, que no original parecia preso ao corpo de uma criança mimada e putrefata, e aqui está mais para um marquês de Sade topetudo.

Não deixa de ser ridículo, mas a voz rouca do personagem repaginado é mais ameaçadora, e Leon não o desafia com frases esdrúxulas dignas Sessão da Tarde —aliás, a dublagem em português está no nível das melhores matinês.

Também sumiram as câmeras lentas que davam leveza às interações com Luis —o cientista que aparece vez o outra para ajudar nas lutas—, e major Krauser —professor de Leon que se bandeou para o lado dos vilões— e boa parte das piadas constrangedoras.

Até Ashley está mais elegante, vestindo jaqueta e echarpe no começo do game. Ainda um problema para o jogador, que deve protegê-la por boa parte da trama, pelo menos a garota não tem mais uma barra de vida própria, prescindindo de itens de cura próprios.

Essa suposta maturidade transforma ainda boa parte das lutas com os chefes, alguns bens diferentes do original, se adaptando à agilidade do remake. Mas faz falta, ainda mais tratando-se de um jogo japonês, momentos que mergulhem no nonsense —como a conhecida corrida contra uma estátua gigante.

A graça, no final, está em ver como o remake muda pequenas peças de lugar, brincando com a expectativa dos fãs —que tomarão sustos ao ver as coisas fora de lugar—, enquanto é perfeito para iniciantes e proporciona um bom desafio para ambos os públicos.

Se o aguardado modo "Mercenaries" ainda não está disponível no lançamento, vale aguardar um pouco —em 7 de abril ele chega para todos gratuitamente. Se for tão divertido quanto o original, será a cereja no bolo para relembrar que "Resident Evil", para além de sua roupagem macabra e séria, ajuda a ditar os rumos da indústria há décadas.

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