'7 Leituras' inaugura ciclo de seus 17 anos celebrando peças brasileiras

Projeto traz obra de Bosco Brasil que se inspira em Samuel Beckett e tenta recuperar o público após a pandemia

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São Paulo

Foram necessários dois anos para que a diretora baiana Eugênia Thereza de Andrade conseguisse um contato com o dramaturgo paulista Bosco Brasil, que abrirá a 17ª edição do projeto "7 Leituras" nesta terça-feira, dia 4, com a peça "Os Corvos"

Andrade nutria admiração pelo autor desde que leu "Novas Diretrizes em Tempos de Paz", peça escrita e montada em 2001, com Tony Ramos e Dan Stulbach, sobre um judeu polonês que foge para o Brasil na época da Segunda Guerra.

O rapaz encontra um período conturbado do Brasil, durante a derrocada da ditadura de Getúlio Vargas. Para entrar no país, precisa passar por um interrogatório comandado por um oficial que não vê vantagem em deixar um ator viver no país.

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Fernando Paz e Eduardo Silva em encenação de 'Esperando Godot', do projeto '7 Leituras' - Edson Kumasaka/Divulgação

"Se [Bosco Brasil] fosse americano, estaria milionário. ‘Novas Diretrizes’ é uma das melhores peças da dramaturgia mundial", diz Andrade, que encabeça o "7 Leituras" há 17 anos, ciclo que promove leituras encenadas de clássicos e inéditos do teatro mundial.

Daí surgiu "Os Corvos", que será encenado no palco do Sesc 24 de Maio sob a direção da baiana. Embora o elenco, formado por Iuri Saraiva e Fernando Paz, possa ter o texto em mãos eventualmente, a diretora reforça que o ideal é que eles o tenham decorado e possam se movimentar pelo palco.

A liberdade dos atores em cena foi um fator determinante para que a diretora vencesse seu ceticismo acerca do projeto quando sua filha, a também diretora Mika Lins, o propôs há quase duas décadas. "Essa coisa de leitura eu sempre achei que seria uma chatice. Mas foi o maior sucesso", afirma.

"Os Corvos" flagra o diálogo entre um coveiro e o novo administrador de um cemitério que, a partir deste encontro, discutem as mazelas e os vícios da sociedade brasileira. Para o texto, Brasil se inspirou nos diálogos da peça do dramaturgo irlandês Samuel Beckett, que também já ganhou leituras encenadas dentro do projeto.

Em 17 anos, o "7 Leituras" já navegou por obras de dramaturgos clássicos, como Ionesco, Shakespeare e Harold Pinter, passando pelos modernos Caryl Churchill e Mauro Rasi.

Embora assine a direção de "Os Corvos", Andrade distribui os textos entre outros nomes de destaque do cenário teatral, entre eles Marco Antônio Pâmio, Mika Lins e Aury Porto, que, ao lado de Frederico Barbosa e Paula Autran, também assinam a curadoria dos textos que ganharão leituras.

A nova edição destaca o teatro brasileiro atual com autores como Ana Saggese e Maíra Dvorek —criadoras de "Só um Up", agendado para 16 de maio—, Fábio Brandi Torres —autor de "O Mata Burro", para 6 de junho— e duas peças ainda sem data definida. "Hotel Jasmim", de Cláudia Barral, também está na lista. O texto evoca o universo de Plínio Marcos ao narrar o encontro de um michê e um garçom num quarto na grande metrópole.

Já Leonardo Cortez, que soma quatro indicações ao Prêmio Shell, terá sua "Pousada Refúgio" lida em cena. A obra narra o encontro de dois casais de amigos para discutir a abertura de uma pousada no interior. À medida que o jantar se desenrola, os segredos, as mágoas e os problemas ganham o protagonismo.

"Fico atenta ao que está acontecendo no mundo, na política, nas discussões sobre racismo, direitos das mulheres, e vejo a dramaturgia refletindo isso", diz Andrade.

Embora tenha vencido o ceticismo da diretora, com plateia cativa e filas que faziam com que muitas pessoas fossem embora sem conseguir um lugar para assistir, o projeto assume um novo desafio de recuperar o público pós-pandemia e num espaço novo.

Após mais de uma década no Sesc Consolação, o projeto já contabiliza dois anos no palco do Sesc 24 de Maio — com edições virtuais durante a pandemia— e sem a mesma presença massiva do público, mesmo com ingressos gratuitos. A diretora encara esse processo como um desafio comum em projetos de longa duração que mudam de espaço.

"Agora em um lugar novo, temos que construir um público praticamente do zero, porque as pessoas que frequentam esta unidade não estão acostumadas com este tipo de evento", afirma a diretora.

7 Leituras - Os Corvos

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