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'Nintendo e Eu' é filme simpático sobre ser jovem nas Filipinas

Em vez de falar de jogos, como sugere o título, longa traz uma realidade familiar, mas com dramas particulares

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Nintendo e Eu

  • Quando Em cartaz nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Noel Comia, Jr., Kim Chloe Oquendo, Jigger Sementilla
  • Produção Filipinas, EUA, Singapura, 2020
  • Direção Raya Martin

Ao contrário do que possa sugerir o título "Nintendo e Eu", este não é um filme sobre jogos eletrônicos que tanto seduzem crianças e adolescentes. Pode-se dizer que ele trabalha nessa fronteira delicada em que as crianças deixam de ter como referência central os personagens desses jogos para entrar em contato com a realidade.

Realidade que significa, no caso, antes de tudo, sexualidade. Mas também tensão com o mundo que os pais idealizam para seus rebentos. No caso, tensão com mães abandonadas que se tornam superprotetoras em relação a eles.

Elijah Alejo e Ante Cheng em cena do filme 'Nintendo e Eu', de Raya Martin
Elijah Alejo e Ante Cheng em cena do filme 'Nintendo e Eu', de Raya Martin - Divulgação

Em resumo: se, depois de décadas dedicadas às fantasias de super-heróis salvadores do universo, as Filipinas parecem dispostas a reensinar ao cinema como tratar da vida dessa faixa de idade com algo que lhe diga respeito.

No caso, temos um grupo de garotos em situações, vamos dizer, elementares. Ou que ao menos parecem elementares a quem já passou por essa idade. O encontro com meninos mais fortes, o primeiro sentimento amoroso, o primeiro desgosto amoroso, a primeira viagem longe dos pais.

O centro é Paolo, filho de mãe superprotetora, que precisa escapar para encontrar a garota bonita do pedaço, Shiara, pela qual se sente apaixonado. Ele faz parte de uma turma que inclui Miwan, irmã de um dos garotos, que por sua vez se sente atraída por Paolo.

Tais coisas acontecem num mundo um tanto diferente do brasileiro urbano, mas é óbvio que esse tipo de drama, o da passagem da infância à idade adulta, se repete desde mais ou menos sempre: não há novidade nele. É uma meia verdade, já que, para quem o está vivenciando, o drama é completamente original.

No caso, estamos em um país distante do nosso e em um tempo idem, os anos 1990. Também há costumes diferentes. A comunidade visada, aqui, vive à sombra de um vulcão que parece simbolizar menos os perigos de uma erupção do que os do crescimento.

Também há paisagens que não conhecemos, é claro. O mais interessante, porém, são certos costumes. Primeiro, estamos em um país e um lugar fortemente marcados pelo catolicismo, em que, a Sexta-Feira Santa ainda é um dia santo. Isso determina algumas das situações no filme, mas, sobretudo, um modo de relacionamento com as coisas.

Certas sequências chamam a atenção por assinalarem diferenças com os hábitos brasileiros (ou talvez ocidentais), como o da circuncisão. Entre nós ela praticada de preferência logo após o nascimento dos meninos —entre os israelitas, obrigatoriamente, entre os demais, suponho, de modo voluntário.

Nas Filipinas, ou naquela aldeia, em todo caso, a circuncisão significa a possibilidade de entrada na atividade sexual envolvendo o outro. Mas, como é feita na adolescência, reveste-se de um sentimento de ansiedade pela chegada desse momento, misturado com o terrível terror de saber alguém cortando o prepúcio. Trata-se, aliás, de um momento bem resolvido (envolvendo um curandeiro que realiza a operação) tanto no roteiro como pela direção.

"Nintendo e Eu" trata, assim, de ser um filme não só sobre a adolescência como para um público adolescente. É de suas angústias, afinal, que trata.

O roteiro de Valerie Castillo Martinez é construído com modesta inteligência. Segue todos os ritos dos manuais de roteiro, mas conduz a ação com habilidade bastante para dar conta das questões que aborda, evitando o hábito tão brasileiro de exacerbar as questões de sexualidade e de tocar em outras que parecem pouco interessar a nossos cineastas (como paternidade ou maternidade na adolescência): questão de um cinema feito quase sempre por filhos da classe média.

A direção do filme é simples, modesta. Renuncia à inventividade em troca da possibilidade de criar uma empatia com seu público alvo. "Nintendo e Eu" é, para resumir, um filme bem simpático.

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