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O que é o prêmio Camões, que será entregue com atraso a Chico Buarque após recusa de Bolsonaro

Ex-presidente se recusou a assinar documentação necessária para que artista recebesse o diploma, apesar de o governo português tê-lo feito

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Luís Barrucho
Lisboa | BBC News Brasil

Depois de quatro anos de espera, o cantor, compositor e escritor Chico Buarque, de 78 anos, vai finalmente receber nesta segunda-feira em Sintra, Portugal, o prêmio Camões, o mais importante da literatura de língua portuguesa.

Um dos motivos da demora se deveu à recusa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em assinar a documentação necessária para que o artista recebesse o diploma, segundo explicou à BBC News Brasil o ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva. A entrega também ficou prejudicada pelo confinamento imposto pela pandemia de Covid-19.

Retrato de Chico Buarque, que recebe o prêmio Camões
Retrato de Chico Buarque, que recebe o prêmio Camões - Divulgação

Como resultado, todos os vencedores do prêmio —quatro no total, incluindo Buarque— ainda não o receberam.

Chico Buarque estreou como escritor de ficção em 1974, com a novela "Fazenda Modelo". Em 1979, publicou o livro infantil "Chapeuzinho Amarelo". Seu primeiro romance, "Estorvo", foi lançado em 1991.

Quatro anos depois, publicou o segundo, "Benjamin". Em 2003, lançou "Budapeste"; em 2009, "Leite Derramado" e em 2014, "Irmão Alemão". Ele escreveu as peças de teatro "Roda Viva" (1968); "Calabar" (1972); "Gota D'Água" (1974), e "Ópera do Malandro" (1978).

O prêmio Camões foi criado em 1988 "com o objetivo de consagrar um autor de língua portuguesa que, pelo conjunto de sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural do idioma", segundo o Ministério da Cultura (Minc).

É considerado a mais importante premiação da língua portuguesa e contempla anualmente autores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Seu nome homenageia o poeta português Luís de Camões (1524-1580), uma das maiores figuras da literatura lusófona.

O ganhador do prêmio recebe € 100 mil (R$ 555 mil), sendo metade desse valor subsidiado pela Fundação Biblioteca Nacional, entidade vinculada ao Ministério da Cultura. A outra metade é paga pelo governo português.

O diploma entregue aos laureados contém o nome de todos os países lusófonos e é assinado pelos chefes de Estado de Portugal e do Brasil.

A escolha é feita por um júri de seis membros, dois do Brasil, dois de Portugal e dois escolhidos em comum acordo por outros países lusófonos (Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste).

O primeiro a receber o prêmio, em 1989, foi o poeta e escritor português Miguel Torga.

Desde então, outros 33 escritores foram agraciados, entre os quais 14 do Brasil, 14 de Portugal, três de Moçambique, dois de Angola e dois de Cabo Verde.

Entre os brasileiros laureados, estão Raduan Nassar (2016), Ferreira Gullar (2010), Lygia Fagundes Telles (2005) e Jorge Amado (1994).

Devido à recusa de Bolsonaro em conceder o prêmio a Buarque, os seguintes escritores ainda puderam recebê-lo: o português Vitor Manuel de Aguiar e Silva (2020), a moçambicana Paulina Chiziane (2021) e o brasileiro Silviano Santiago (2022).

Primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, Chiziane é a primeira mulher e a primeira negra a vencer a premiação. "Niketche: Uma História de Poligamia" é um de seus romances mais famosos.

'Viramos uma página'

Em declaração no sábado, dia 22, em Lisboa por ocasião da abertura da 13ª Cúpula Brasil-Portugal, que já não acontecia havia sete anos, o primeiro-ministro português, António Costa, fez alusão ao prêmio Camões.

Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Costa usou a recusa de Bolsonaro em entregar a premiação como um exemplo do esfriamento das relações entre Brasil e Portugal nos últimos anos. Segundo ele, no entanto, é momento de "virar a página".

"Queria sublinhar a importância do dia de hoje, em que depois de sete anos de interrupção retomamos as cimeiras [cúpulas] anuais entre Portugal e o Brasil. Retomamos estas cimeiras na segunda visita que em poucos meses o presidente Lula faz a Portugal e na primeira visita que o presidente Lula faz à Europa", disse.

Costa falou da "interrupção de contatos" entre os dois países. Em sua visão, a consequência mais clara disso foi o fato de "só na segunda-feira, dia 24, ser entregue a Chico Buarque de Hollanda o Prêmio Camões, que ganhou há quatro anos, em 2019".

"Viramos, por isso, uma página", disse.

Lula está em viagem oficial a Portugal, aonde chegou na última sexta-feira (21). Ele fica no país até terça-feira (25), quando segue para a Espanha. Seu retorno ao Brasil está previsto para a noite de quarta-feira, dia 26.

Este texto foi publicado originalmente no site BBC Brasil

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