Lygia Fagundes Telles, uma das principais escritoras brasileiras, tinha 103 anos quando morreu em abril de 2022, e não 98 anos, conforme divulgava. Na conta dela, Lygia comemoraria seu centenário nesta quinta (19), mas na verdade completaria 105 anos. A história foi publicada na ocasião da morte da autora pelo genealogista Daniel Taddone.
Taddone fez uma publicação em seu site reunindo reproduções dos registros de nascimento, batismo e do primeiro casamento —com Goffredo Teixeira da Silva Telles, em 17 de abril de 1947—, obtidos via portal da FamilySearch, uma entidade de pesquisa genealógica, todos apontando para a data corrigida.
A certidão de casamento aparece no registro original, remetendo à Corregedoria Geral da Justiça.
Procurada, a assessoria do Tribunal de Justiça de São Paulo não conseguiu confirmar a autenticidade do documento até a publicação da reportagem, por se tratar de um documento físico antigo.
Entretanto, o que confirma que Lygia tinha mesmo 103 anos quando morreu é uma nova via dessa mesma certidão, emitida em fevereiro de 2020, e que possui um selo digital verificável, encontrada pela Folha.
A consulta no site do Tribunal de Justiça comprova a veracidade do documento que aponta, ao lado do nome de Lygia, o nascimento em 19 de abril de 1918.
Já a fonte do registro de nascimento é ofício de registro civil do subdistrito de Santa Cecília, e nele lê-se que o documento foi registrado em 23 de abril de 1918, citando que Lygia teria vindo ao mundo "no dia 19 do corrente mês".
O de batismo, por sua vez, está no rodapé do livro de batismos da igreja Nossa Senhora da Consolação, citando o evento no dia 3 de maio de 1918.
A assessoria da Academia Brasileira de Letras diz não ter informações sobre o dado, e, conforme publicou em seu site oficial, sugere que o ano de 1923 seja a data correta.
Tadonne contou à reportagem que todo o material no FamilySearch faz parte de um esforço de catalogação da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que financia a plataforma e tem, entre suas doutrinas de salvação, uma relacionada à genealogia e à união com seus antepassados. Por isso, desde o século 19, os mórmons —como são conhecidos popularmente— recolhem documentos referentes a isso.
No Brasil, explica, isso começou a ocorrer principalmente após os anos 1970 e hoje, com as cópias digitais, muitos desses documentos estão disponíveis e de maneira indexada por inteligência artificial.
Sobre a origem dos documentos, o genealogista explica que grande parte é oriunda da digitalização de microfilmes, mas outros, como a própria certidão de Lygia, foram digitalizados recentemente diretamente do arquivo do estado.
Em 2016, os mórmons fecharam um acordo com Arquivo Público de São Paulo para catalogar quase 200 mil livros, conforme noticiou a revista Pesquisa, da Fapesp.
Lygia Fagundes Telles foi um marco na literatura brasileira e recebeu os principais prêmios —foi ganhadora do prêmio Camões em 2005, o maior troféu da literatura em língua portuguesa, além de ter vencido o Jabuti em 1966, 1974, 1996 e 2001. Ela fazia parte da Academia Brasileira de Letras desde 1985, além de pertencer também à Academia Paulista de Letras.
Sua obra conta com títulos incontornáveis como "Antes do Baile Verde", de 1970, "As Meninas", de 1973, "Ciranda de Pedra", de 1954, "O Jardim Selvagem", de 1965, entre outros.
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