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'Super Mario Bros' acerta pela sua mediocridade e ao fazer acenos aos fãs

Filme baseado na franquia de videogames de um encanador bigodudo se sustenta inteiramente em referências aos jogos

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João Montanaro

Super Mario Bros. - O Filme

  • Onde Estreia nesta quinta (6) nos cinemas
  • Classificação Livre
  • Elenco Chris Pratt, Jack Black e Anya Taylor-Joy
  • Produção Estados Unidos, 2023
  • Direção Aaron Horvath e Michael Jelenic

"Super Mario Bros – O Filme" talvez seja o primeiro longa-metragem que se sustente —com sucesso— só em saudosismo de fãs e referências.

O filme adapta o videogame para as telas em um filme de animação. Mario e seu irmão Luigi são encanadores vivendo no Brooklyn nova-iorquino que acidentalmente vão parar em um mundo mágico de cogumelos falantes, princesas e tartarugas malignas.

No caminho, os dois acabam se separando e Mario precisa juntar forças com a princesa Peach para resgatar Luigi das garras do tirano Bowser, uma tartaruga gigante que pretende destruir reinos inteiros para impressionar a princesa e casar com ela. A alternativa é sequestra-la mais uma vez e forçá-la ao casório

Cena da animação 'Super Mario Bros. - O Filme', dirigido por Aaron Horvath e Michael Jelenic
Cena da animação 'Super Mario Bros. - O Filme', dirigido por Aaron Horvath e Michael Jelenic - Divulgação

O filme é criativo em utilizar enredos e dinâmicas de diferentes jogos da franquia da Nintendo. Sequências remetem ao suspense de "Luigi’s Mansion", à ação vertiginosa de "Mario Kart" e até Baby Mario faz uma ponta.

É ainda mais bem sucedido em justificar idiossincrasias do material original — simplesmente ignora a maior parte e atesta, assim, o tamanho do personagem no imaginário popular. O filme diverte explorando na animação a excitação de quebrar um bloco amarelo ou consumir um cogumelo vermelho.

Mas esta não é a primeira adaptação de Mario para as telas. Em 1993, Super Mario Bros tentou a sorte com atores de carne e osso interpretando a dupla de encanadores. Mesmo com a popularidade astronômica do personagem, os produtores optaram por contar uma história marxista cyberpunk, antirrepressão policial com contornos de body horror.

Em boa parte do filme, Mario não usa vermelho e nem Luigi verde. O resultado foi justificadamente mal interpretado por fãs no mundo todo e o filme foi um fracasso de público. É o que acontece quando você pretende dar vida demais para um personagem que não é ninguém até qualquer um controlá-lo.

Quando Shigeru Miyamoto desenvolveu seu primeiro jogo para a Nintendo, ele quis adaptar o marinheiro Popeye para as cabines de arcades. Visto as dificuldades que encontrou em conseguir os direitos de uso do personagem, optou por substituir Brutus, Olivia Palito e Popeye por criações próprias.

Quando o jogo foi lançado, no Natal de 1981, o encanador baixinho e bigodudo italo-americano tinha que escalar plataformas para salvar a princesa de um gorila gigante. "Donkey Kong" não apenas apresentou Mario para o público como foi o primeiro jogo a contar uma espécie de história para o jogador ver se desenvolver na tela. Uma história de desejo.

Quatro anos mais tarde, na ocasião do lançamento do primeiro console doméstico da Nintendo, Miyamoto e seu time reutilizaram o já famoso personagem em um jogo próprio. Expandiram na mesma proporção sua mitologia e jogabilidade.

O encanador agora movimentava-se livre por um cenário lateral, viajava por canos entre mundos de cogumelos, quebrando blocos de concreto com a cabeça atrás de moedas e poderes, e abusava fisicamente de tartarugas ao resgate da sua amada princesa Peach —agora sequestrada não por um gorila gigante, mas por Bowser.

Ainda nos primeiros anos de uma mídia, Super Mario Bros definiu seu formato original e Mario tornou-se o seu maior símbolo. Um jogo passou a ser definido pelo quão perto ou distante ele está em relação à sua órbita.

Talvez mais do que em qualquer outro meio, nos videogames a forma segue a função. Boa parte das características que definiram o mundo de "Super Mario Bros" surgiu da necessidade de superar as limitações tecnológicas do seu tempo.

O vermelho e azul de suas roupas foram impostos por uma paleta de cores limitada, suas luvas brancas contrastavam o suficiente para facilitar a visualização da animação dos seus movimentos e a boina existe porque, na época, ainda não sabiam como animar cabelo. A lógica se estende para os cenários, vilões e mecânicas. É injusto dizer que tudo foi randômico, mas a interatividade do meio acaba por compensar grandes justificativas para o que é mostrado na tela.

Formas passivas de mídia, como o cinema, tendem a exigir um pouco mais de justificativas. No novo filme, seu herói se justifica por ser a epítome do padrão de um meio —e a sua história é a celebração dessa mediocridade. No rudimentar design original, a face do encanador é composta de pouquíssimos pixels. Os olhos se limitam a um único quadrado negro no grid da tela. Tanto se anunciou num único ponto.

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