C6 Fest começa em São Paulo com bom som e público apático no Ibirapuera

Evento que dá continuidade ao legado do Tim Festival teve Dry Cleaning e Arlo Parks em primeiro dia na capital paulista

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São Paulo

"É legal cantar para as árvores", disse Florence Shaw, vocalista da banda Dry Cleaning, em show no primeiro dia do C6 Fest em São Paulo. Apesar de ser realizado no parque do Ibirapuera, o evento tem seu palco com mais atrações em uma tenda fechada, com um piso improvisado do qual saem algumas árvores.

O Dry Cleaning, banda inglesa de pós-punk, foi a segunda atração desta sexta-feira, que teve apresentações de Xênia França, Arlo Parks, Christine and the Queens e Nubya Garcia, entre outros. No Rio, o festival começou e termina um dia antes em relação a São Paulo, onde os shows vão até domingo.

Florence Shaw, vocalista da banda inglesa Dry Cleaning durante show no C6 Fest, realizado no parque do Ibirapuera, em São Paulo
Florence Shaw, vocalista da banda inglesa Dry Cleaning durante show no C6 Fest, realizado no parque do Ibirapuera, em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

No show do Dry Cleaning, a plateia ainda estava vazia, com apenas metade do espaço para 5.000 pessoas ocupado. Ao longo da noite, o público aumentou, mas não chegou a ocupar todo a tenda. Foi fácil, por exemplo, chegar caminhando até a grade do palco.

O C6 Fest marcou a primeira apresentação no Brasil do Dry Cleaning, que surgiu no Reino Unido em 2019. É o mesmo caso da maioria das atrações da tenda nos próximos dias.

Entediado, o quarteto britânico soou mais repetitivo ao vivo do que em estúdio.

As músicas andaram em círculos, e houve uma economia de elementos que ressalta o som dos instrumentos, como se o grupo rezasse pela filosofia do menos é mais. A guitarra remetia a bandas como o Wire, o baixo não saia do lugar e a bateria era austera como numa banda típica de pós-punk.

Com um longo vestido preto folgado no corpo, a vocalista Florence Shaw não cantava, mas declamava as letras como se nos contasse uma história rica em detalhes. Mais animado dos quatro, dosando efeitos de eco, saturação, distorção e microfonia, o guitarrista Tom Dowse teve problemas técnicos e deixou o show perto do fim, pedindo desculpas.

A frieza dos integrantes de certa forma se refletiu na plateia, mais quieta e apática do que a fama dos brasileiros sugere. O clima melhorou no show de Arlo Parks, cantora de voz doce que assumiu o palco da tenda na sequência.

Britânica, ela seguiu a noite com sons que misturavam soft listening, pop, trip hop dos anos 1990, R&B e romantismo careta. Ao vivo, tudo veio embalado na equalização vintage do som, como se estivéssemos ouvindo as músicas por caixas antigas de madeira.

Este liquidificador de referências não significa que ela tenha uma longa carreira. A poucos dias de lançar seu segundo disco, a jovem, que vive em Londres, tem menos de 25 anos. Desde o primeiro álbum, "Collapsed in Sunbeams", de 2021, já é considerada um grande nome da música pop alternativa.

Parte do público estava animado, gritando e cantando as letras, identificando-se com a jovem de cabelo rosa, camiseta oversized de Bob Dylan e bermuda de skatista em cima do palco. Parte da empatia vem do fato de ela advogar por questões de saúde mental.

O artista que fechou as apresentações da tenda foi o francês Christine & The Queens, que entrou no palco com um vestido de noiva. Já na primeira música, a roupa deu lugar a uma calça e a um colete vermelho e preto.

Ao longo do show, que teve problemas de iluminação, mas foi o mais animado da noite, o cantor declamou poemas, usou asas de anjo e fez sua performance tipicamente teatral. Ele destacou músicas dos álbuns "La Vita Nova", de 2020, e "Chaleur Humaine", de 2014.

Christine ainda cantou o single "Tears Can be so Soft", do álbum "Paranoia, Angels, True Love", que lançará este ano, e fez um cover breve de "Under the Bridge", do Red Hot Chili Peppers, para introduzir sua "Tilted".

O C6 Fest é uma espécie de continuação do Tim Festival, que fez fama com edições espalhadas por capitais do Brasil entre 2003 e 2008. O evento, por sua vez, era a continuação do Free Jazz.

Assim como o Tim, o C6 tem como nome forte na curadoria a produtora Monique Gardenberg. Diferente do festival da companhia telefônica, contudo, o novo evento mira nomes menos populares e alternativos —o mais conhecido é o Kraftwerk, em contraste com Kanye West, Arctic Monkeys, Björk e The Killers, que passaram pelo Tim.

Além da tenda, o C6 conta com mais três espaços —o auditório, para 800 pessoas, uma pista de música eletrônica e uma área externa, esta para 10.000 pessoas. O último desses espaços só abre no fim de semana. Vai receber os alemães do Kraftwerk, no sábado, e Caetano Veloso, entre outros, no domingo.

Samara Joy, jovem cantora de jazz que ganhou o Grammy de artista revelação e derrotou Anitta, é uma das atrações dos próximos dias. Além dela, gente como o jazzista Jon Batiste, outro vencedor do prêmio americano, os americanos do The War on Drugs e a cantora Weyes Blood também passam pelo festival.

Do lado brasileiro, o evento terá homenagem a Gal Costa tocada por Tim Bernardes e a celebração do ano de 1973 com Kiko Dinucci e Juçara Marçal, além de Arnaldo Antunes, Giovani Cidreira, Jadsa, Linn da Quebrada e Tulipa Ruiz.

Divididas pelos diferentes espaços no Ibirapuera, as atrações funcionam como pequenos festivais dentro do evento principal. Isso porque os ingressos para cada área foram vendidos separadamente. É possível comprar apenas para ver os shows da tenda, ou somente da área externa.

A julgar pela sexta, o C6 se sai bem no que é o mais importante —a qualidade do som—, mas a comunicação visual como um todo fica aquém. No Pavilhão das Culturas Brasileiras, onde acontecem as festas, há grades de proteção desnecessárias junto aos guarda-corpos do lado da rampa, o que prejudica o desenho de Oscar Niemeyer para o prédio.

Também não há sinalização para acessar as pistas a quem entra pelo portão do auditório do Ibirapuera. Funcionários ficam gritando com megafones a direção dos palcos para quem está perdido na imensidão do parque.

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