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Disco revela virtuosismo de Wanderléa com clássicos do choro

Disco do Selo Sesc traz faixa inédita do gênero e parcerias com Hamilton de Holanda, Douglas Germano e João Poleto

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​Renan Guerra

Wanderléa Canta Choros

  • Quando Lançamento nesta sexta-feira (12) nas plataformas digitais
  • Autoria Wanderléa
  • Gravadora Selo Sesc

Na infância, Wanderléa sempre foi uma miniestrela. Fazia sucesso ao se apresentar para a vizinhança. Por volta dos dez anos, começou a frequentar os programas musicais da rádio Mayrink Veiga e foi por lá que começou a cantar choros ao lado do Regional do Canhoto, fundamental grupo da era do rádio.

Depois, se tornou a ternurinha da Jovem Guarda, ditou moda e fez uma série de discos que navegaram por muito sons para além do iê-iê-iê, porém agora a cantora retorna ao choro, ritmo que fez parte de sua formação musical. "Wanderléa Canta Choros", que chega nesta sexta-feira (12) às plataformas de streaming pelo Selo Sesc, é um belo reencontro da artista com esse clássico gênero brasileiro.

Em foto preto e branco, a cantora, compositora, instrumentista e atriz Wanderléa posa para a câmera sorrindo
A cantora, compositora, instrumentista e atriz Wanderléa - Divulgação/Ione Cadengue

Para a artista, o disco de choros é um resgate afetivo. Já para os ouvintes é a possibilidade de ver Wanderléa se debruçando por novos campos sonoros depois de sete anos desde seu último disco cheio — o ótimo "Vida de Artista", de 2016, em que ela visitava a obra de Sueli Costa.

Com direção e produção musical de Mario Gil e direção artística de Luiz Nogueira, "Wanderléa Canta Choros" destaca a virtuose da voz de Wanderléa, que cada vez mais madura, se mostra também mais segura e ciente de si.

O disco abre com "Delicado" (de Waldir Azevedo e Ary Vieira), que conta com participação do bandolinista Hamilton de Holanda. Baião de 1950, a faixa é um bonito cartão de visitas do disco, pois traz esse diálogo com um sucesso clássico, mas demonstra o registro contemporâneo de Wanderléa e já dá o tom do que virá a seguir.

Sobre a presença de Hamilton de Holanda, é importante frisar que ele é um nome fundamental do choro brasileiro moderno, sendo um dos fundadores da primeira escola de choro no mundo, em 1997, e idealizador de uma petição ao Congresso Nacional para conceder ao choro um dia nacional —o 23 de abril.

"Wanderléa Canta Choros" passa por diferentes momentos, indo do romance a galhofa, sem abrir mão da leveza. "Acariciando" (de Abel Ferreira e Lourival Faissal), por exemplo, traz a voz de Wanderléa se derramando em amores e sedução, mesmo com toda a sua melancolia, para que logo na sequência ela caia no baião com "Galo Garnizé" (de Luiz Gonzaga, Antônio Almeida e Miguel Lima).

Destaca-se a presença de "Apanhei-te Cavaquinho", polca de Ernesto Nazareth, lá de 1914, que ganhou diferentes letras ao longo do tempo. Aqui Wanderléa opta pela versão de Darci de Oliveira e Benedito Lacerda, em um resumo de sua relação com o choro: "Inda me lembro do meu tempo de criança/ Quando entrava uma dança toda cheia de esperança [...] E hoje ouvindo neste choro a voz do pinho/ Relembrando o bom tempinho da mamãe e do maninho".

Na segunda metade do disco destaca-se o retorno de "Uva de Caminhão" ao repertório de Wanderléa. Sucesso na voz de Carmen Miranda, a canção de Assis Valente já havia sido gravada pela artista no disco "Maravilhosa" (1972), que virou clássico cult dentro de sua discografia, tanto que rendeu show especial na Virada Cultural de 2013. É uma canção interessante pelo seu ritmo sincopado, com a voz transitando entre o canto e a fala e, em comparação, a voz de Wanderléa parece ainda mais firme nessa nova versão.

"Wanderléa Canta Choros" ainda resgata dois clássicos fundamentais de nossa música em versões díspares: "Carinhoso" (de João de Barro e ) —canção que é a mais regravada do Brasil, com mais de 400 versões -, soa bonita na voz de Wanderléa, mas lhe falta algum frescor, deixando uma sensação de déjà vu. Já "Brasileirinho" (Waldir Azevedo e Miguel Lima), é o contrário e pode ser considerada o ponto alto do disco, com Wanderléa se mostrando solta e leve em uma canção cheia de meandros e que, regravada à exaustão, poderia soar repetitiva, mas não o é.

Dentre todos os clássicos, o disco se encerra com a inédita "Um Chorinho para Wandeca", de Douglas Germano e João Poleto, dois nomes importantes do samba e choro paulistano. Esse encerramento do disco é excelente, tanto pela ótima letra quanto por ser uma espécie de aceno de Wanderléa para o novo, apontando tanto a sua relação histórica com o choro como também flertando com a vivacidade e modernidade desse gênero que ainda resiste.

"Wanderléa Canta Choros" não é necessariamente um disco que traz grandes inovações ao gênero do choro, mas a virtuose do trabalho, bem como o cuidado vocal de Wanderléa, imprime no disco uma marca muito forte de uma artista que entende a sua importância enquanto cantora popular e que sabe usar disso para apresentar repertórios e expandir diálogos.

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