Descrição de chapéu Rita Lee

Folha foi o primeiro jornal a entrevistar Rita Lee, no começo de Os Mutantes

Artista, porta-voz do grupo, comentou início no programa de Ronnie Von e definiu sua arte como vinda de outro planeta

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Luiz Carlos Ferreira
São Paulo

A cantora Rita Lee morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos. Maior estrela do rock nacional, a artista deixa um grande legado para a música em sua carreira solo e com Os Mutantes, banda com o qual despontou na carreira.

A Folha foi o primeiro jornal de grande circulação a entrevistar o grupo, em 14 de novembro de 1966. O grupo, formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, foi um dos grandes nomes da tropicália, movimento que revolucionou a MPB nos anos 1960. A ocasião foi relembrada em texto, publicado em 14 de novembro de 2016.

Era 1966. O Brasil vivia o segundo ano sob domínio dos militares. Nas grandes capitais, estudantes secundaristas começavam a ocupar as ruas em protesto contra o novo sistema de governo. No cinema, Leila Diniz se consagrava na comédia romântica "Todas as Mulheres do Mundo", de Domingos de Oliveira. E o escritor baiano Jorge Amado lançava o romance "Dona Flor e seus dois maridos". Era também o início da era dos grandes festivais de música popular brasileira na TV, que projetaram Tom Zé, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Chico Buarque, entre outros astros.

A atração musical de maior audiência era o dominical "Jovem Guarda", liderado pelo trio Wanderléa, Roberto Carlos e Erasmo Carlos, na TV Record, onde a guitarra elétrica se popularizou no país. O instrumento, até então limitado à turma da Jovem Guarda, já era experimentado em outros gêneros e ritmos por um talentoso e irreverente grupo de jovens paulistanos chamado Os Mutantes, que se tornou um dos principais agentes transformadores da música brasileira naquela segunda metade da década de 60.

Ainda em 1966, no dia 14 de novembro, a Folha foi o primeiro jornal de grande circulação a fazer uma reportagem com o trio, que era formado por Sérgio Dias, 16, seu irmão Arnaldo Baptista e a amiga Rita Lee, ambos com 18 anos.

Os cantores e músicos Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias, do grupo Os Mutantes, em novembro de 1966 - Edvaldo/Folhapress

Sérgio, vocalista e guitarrista, havia abandonado os estudos para se dedicar integralmente à música. Arnaldo (vocais, teclados e baixo) era o principal arranjador do grupo. E Rita, além de percussionista e principal vocalista, tocava harpa, flauta e berimbau. Nas horas vagas, dava aulas de inglês, francês, violão e bateria.

Os Mutantes apareceram pela primeira vez na TV em 15 de outubro, na estreia do musical "O Pequeno Mundo de Ronnie Von", exibido aos domingos pela TV Record.

Foi Ronnie Von, então príncipe da Jovem Guarda, quem sugeriu o nome Mutantes para o trio. A ideia veio de sua admiração pelo livro de ficção científica "O Império dos Mutantes", do francês Stefan Wul, que estava lendo na ocasião.

Em "O Pequeno Mundo de Ronnie Von", os Mutantes já se mostravam um tanto originais e inovadores ao executarem com duas guitarras a Marcha Turca, de Mozart. Em outra edição do programa, no entanto, foram impedidos pelos diretores de executar uma versão de "Ave Maria", de Schumann, conforme afirmaram à Folha na época.

"O programa dele, infelizmente, começou a ficar igual aos outros. O Ronnie não manda mais nada, faz o que os diretores querem. Ele pretendia fazer um programa com música renascentista, bossa nova e tudo o mais, mas não deu certo", contou Rita Lee.

Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, integrantes da banda Os Mutantes - Edvaldo/Folhapress

No início de 1967, a incompatibilidade de ideias com a direção artística da Record fez o trio deixar a atração. Depois os Mutantes foram convidados pela TV Bandeirantes para o programa musical "Quadrado e Redondo", de Sérgio Galvão.

Porta-voz dos Mutantes naquela primeira entrevista, Rita definiu o grupo com a seguinte frase: "Ele vem de outro planeta para tomar conta do mundo. É moço, inteligente e vai longe, porque encontrou o mundo cheio de mediocridade".

A história da banda começou dois anos antes, em 1964, com a criação do "Six Sided Rockers", depois denominados "O’Seis". O grupo se originou da junção de integrantes de duas bandas formadas por adolescentes de São Paulo: o quinteto de rock Wooden Faces, dos irmãos Cláudio, Arnaldo e o caçula Sérgio Dias –com os amigos Raphael Villard e Luiz Pastura–, e o quarteto feminino de folk Teenage Singers, de Rita Lee, Suely Chagas, Jean e Beatrice.

No "O’Seis" faziam parte Rita, Suely, Arnaldo, Sérgio, Raphael e Pastura. Cláudio, irmão mais velho de Sérgio e Arnaldo, passou a se dedicar à fabricação de instrumentos para a banda. Suely, de mudança para os EUA, foi substituída pela vocalista Mogguy, namorada de Raphael. Com essa formação, gravaram um compacto simples com as músicas "Suicidas" e "Apocalipse", com pouca repercussão na mídia.

À Folha Rita Lee contou que Mogguy era "briguenta" e que um dia, após desentendimentos com os colegas, abandonou de vez o sexteto. Raphael, que namorava Mogguy, resolveu acompanhar a amada e deixou o conjunto. Pastura, grande amigo de Raphael, também seguiu os passos do casal, restando então Rita, Arnaldo e Sérgio. Antes de se tornarem Mutantes, foram conhecidos ainda pelos nomes "O Konjunto" e "Os Bruxos".

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