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Teté Ribeiro

Imortal, Rita Lee se tornou a minha maior e melhor má influência

Sexo, drogas e rock'n'roll eram apenas um tira gosto do menu diverso que a artista me ofereceu para desfrutar a vida

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São Paulo

"Rita não é nome. Rita é adjetivo", me disse outra Rita, a Wainer, quando eu ainda tinha uma ponta de dúvida se chamaria mesmo aquele bebê recém-nascido de cabelos muito lisos de Rita. Era uma noite de novembro, dez anos atrás, e eu estava na Índia, onde tinha ido buscar meus dois bebês, nascidos por meio de uma barriga de aluguel.

Não sabia os sexos, então a lista de nomes tinha todas as combinações. O primeiro nome feminino era Cecilia, como a minha mãe. E a outra, que não era a Cecilia, a primeira que o hospital liberou para passar uma noite comigo no quarto, era muito rock‘n’roll.

Rita Lee - Instagram/ritalee_oficial

Dois dias de vida e a criança já queria saber tudo. Mas eu já tinha uma gata chamada Rita, como ia ser isso?

Confuso e divertido como as minhas Ritas favoritas. Tem também a adorável Rita Siza, uma jornalista portuguesa que me ensinou que, em Portugal, pé na bunda se chama "chute no cu". O que, aposto, faria a Rita Lee gargalhar.

E a Wainer, que encerrou qualquer possibilidade de alternativa com aquela afirmação que abre este texto.

Mas eu já devia ter desconfiado. Desde que, aos seis anos, a trilha sonora que dominou a casa da minha família por meses foi o disco "Fruto Proibido", que minha irmã ganhou de aniversário e que até hoje é um dos meus álbuns indispensáveis. Conheço de cor.

Ela ouvia na vitrola da sala, a alternativa ao rádio na maioria das casas nos anos 1970. Todo mundo ouvia e, milagre, gostava. Meu pai, que sempre teve preferência por música caipira —para nosso total desespero; minha mãe, que era mais Elis, Gal, Caetano e Gil; minha irmã, a dona do disco, do alto dos seus dez anos de idade. E eu.

Foi a primeira cantora de quem eu soube o nome. E foi com ela que aprendi a gostar de rock. Depois de pop, de disco, de balada. Cada fase musical da Rita embalava uma revolução que eu vivia.

Mas era a vida dela, ou o que chegava até mim da história, que me dava um certo passe livre para me comportar mal. Ou, melhor, para fazer experiências não previstas pela moral e pelos bons costumes.

Como Rita, também me encantei pela possibilidade de alterar minha percepção e minhas sensações com um comprimidinho aqui, um pedacinho de plástico que alguém trouxe de fora ali.

Também como ela, tive um encontro desagradável com o Código Penal e outros muitos, estes bem mais agradáveis, com outros corpos. Rita Lee foi a primeira cantora brasileira famosa a falar de sexo com prazer, com alegria. E com um suingue, melodias, e uma voz linda e irresistível.

Já jornalista, fui trabalhar na revista Capricho, e a diretora de Redação, Mônica Figueiredo, era amiga de Rita Lee e contava uma história dela no meio de uma reunião de pauta. Era surreal me imaginar a dois graus de separação.

Nessa época, meu cabelo já tinha escolhido ser vermelho. Pouco mais de dez anos depois, fui convidada para fazer parte do time de apresentadoras do Saia Justa, da GNT, emprego que ela já tinha tido.

Eu azucrinava o diretor, Nilton Travesso, para contar histórias dela. Foi dele a ideia de pedir à Rita o tema de abertura do programa TV Mulher, da Globo, nos anos 1980, que era uma revolução com Clodovil falando de moda, e Marta Suplicy, de sexo. Outra encarnação, mesma trilha sonora.

Acho que o sonho de ser imortal, que ela cantou em "Nem Luxo Nem Lixo", está oficialmente realizado, contando a partir deste triste 9 de maio.

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