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Sean Penn faz jorrar sangue em 'Black Flies', ode a paramédicos em Cannes

Drama com o vencedor do Oscar traz Tye Sheridan como paramédico assombrado por traumas e sob teste moral

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Cannes (França)

Em 15 minutos de "Black Flies", o espectador é bombardeado por imagens de um homem coberto por furos, uma criança com a perna estraçalhada e um cachorro levando um tiro. Não é fácil ver o novo filme estrelado por Sean Penn, exibido no Festival de Cannes como parte da competição oficial.

Primeiro por causa das imagens fortes, que fazem escorrer sangue da tela. Segundo, porque sua mixagem de som é ensurdecedora, com sirenes, heavy metal e muitos gritos de "fuck you" se alternando a todo momento.

Cena do filme "Black Flies", de Jean-Stéphane Sauvaire, que compete no Festival de Cannes de 2023
Cena do filme 'Black Flies', de Jean-Stéphane Sauvaire, que compete no Festival de Cannes de 2023 - Divulgação

É uma tentativa desagradável, embora válida, de pôr o público na mente do protagonista vivido por Tye Sheridan, assombrado por traumas e um emprego como paramédico que testa seu estômago, seus limites morais e, mais importante, seu psicológico.

Essa parte, no entanto, só entra em cena no segundo ato. A primeira metade é de sucessão de pacientes à beira da morte e cenas que exalam testosterona, típicas daqueles filmes hipermasculinos recheados de brigas. Esse lado de "Black Flies" o aproxima de um "buddy cop", subgênero de ação em que dois sujeitos de personalidades conflitantes precisam trabalhar juntos, normalmente para combater o crime.

Aqui, no entanto, ele ganha um tom mais humanista, já que segue paramédicos, não policiais. "Black Flies" caberia perfeitamente numa sessão do Tela Quente, mas o diretor francês Jean-Stéphane Sauvaire, acostumado a filmar gente com arma na mão, teve o cuidado de embalar sua trama de forma que a credenciasse para o circuito de festivais.

Há ótimas atuações de Penn e Sheridan, por exemplo, além de discussões sociais que vão do consumo de drogas ilegais ao negacionismo ou da desigualdade social à xenofobia. Também há uma parcela considerável de cenas de nudez e de um sexo melancólico, que serva para o protagonista extravasar a angústia ou pôr os pensamentos em ordem.

É um filme que não tem medo de abusar dos clichês, com sequências de pensamentos tristonhos deslizando água abaixo pelo ralo do banho ou de pensamentos raivosos que pululam ao som dos graves de uma balada. Tudo coroado por um desfecho edificante e uma mensagem sobre o difícil trabalho dos paramédicos.

Quando "Black Flies" termina, logo questionamos o que um filme como este está fazendo na corrida pela Palma de Ouro. Sua segunda metade até tenta encontrar redenção, ancorada num alerta urgente sobre saúde mental que, em dois dias de Festival de Cannes, já apareceu com força em "Monster", de Hirokazu Kore-eda. Mas o filme não segura a barra.

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