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Entenda a greve dos roteiristas nos EUA e qual o prejuízo bilionário que pode causar

Até que os conflitos sejam resolvidos, parte da programação da TV será interrompida, incluindo ficção e talk shows

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São Paulo | Reuters

Milhares de roteiristas de cinema e televisão entraram em greve nesta terça, lançando Hollywood em turbulência enquanto o setor de entretenimento enfrenta mudanças desencadeadas pelo boom global do streaming.

O Sindicato de Roteiristas dos Estados Unidos —WGA, na sigla em inglês— convocou sua primeira paralisação em 15 anos após não conseguir chegar a um acordo com estúdios como a Disney e a Netflix. A última greve durou cem dias e custou à economia da Califórnia mais de US$ 2 bilhões.

Cartazes pedem solidariedade à paralisação de roteiristas
Manifestação durante a última greve de roteiristas dos EUA, em 2007 - Chris Delmas/AFP

"O comportamento das empresas criou economia de bicos dentro da força de trabalho sindicalizada e sua postura inamovível nesta negociação demonstrou o compromisso de desvalorizar ainda mais a profissão de escritor", diz o WGA em comunicado.

O sindicato representa cerca de 11,5 mil roteiristas em Nova York, Los Angeles e outros polos cinematográficos dos Estados Unidos. Os membros estavam programados para começar a fazer piquetes fora dos estúdios de Hollywood a partir da tarde desta terça-feira.

A Organização de Produtores de Cinema e Televisão, a AMPTP, que representa os estúdios, disse, na noite de segunda-feira, que ofereceu "aumentos generosos na compensação" aos roteiristas, mas os dois lados não conseguiram chegar a um acordo.

As empresas de mídia estão enfrentando um cenário econômico difícil. Os conglomerados estão sob pressão de Wall Street para tornar seus serviços de streaming lucrativos depois de investir bilhões de dólares em programação para atrair assinantes.

O aumento do streaming levou ao declínio da receita de anúncios de televisão, à medida que o público da TV tradicional encolhe e os anunciantes buscam alternativas.

Até que os conflitos sejam resolvidos, parte da programação da TV será interrompida. Programas noturnos como Jimmy Kimmel Live e The Tonight Show with Jimmy Fallon, que usam equipes de roteiristas para escrever piadas atuais, devem interromper imediatamente a produção.

Isso significa que novos episódios não estarão disponíveis durante os horários tradicionais da televisão ou nos serviços de streaming que os disponibilizam no dia seguinte.

Mais à frente, a greve pode atrasar a temporada de outono da televisão, uma vez que a escrita dos roteiros para shows da estação normalmente começa em maio ou junho.

Se a paralisação do trabalho se prolongar, as redes preencherão cada vez mais suas linhas de programação com reality shows improvisados, programas de notícias e reprises.

Projetos de longa duração para a TV também serão afetados. A longínqua "Grey’s Anatomy", por exemplo, inicia sua produção entre março e junho, e tem episódios abertos para revisão pelos roteiristas.

Já "A Casa do Dragão", hit da HBO que conta a história da linhagem Targaryen antes de "Game of Thrones", está prevista para continuar a produção de sua segunda temporada normalmente. Os roteiros já estavam prontos, mas não poderão ser alterados enquanto a greve estiver de pé.

Apesar do cenário, a paralisação deve afetar menos os estúdios do que a realizada entre os meses de novembro de 2007 e fevereiro de 2008.

Com o advento do streaming e a produção de obras exclusivas para o digital, muitos estúdios pretendem cobrir os vácuos dos trabalhos paralisados. A Warner talvez seja a que mais sofra, uma vez que seu CEO, David Zaslav, congelou as principais produções para seu serviço de streaming, Max, o antigo HBO Max.

Segundo Ted Sarandos, um dos diretores da Netflix, a plataforma tem um material robusto para ser lançado ao longo de todo o ano e produções prontas ao redor do mundo, o que diminuiria o impacto da greve ao menos no streaming.

O cenário é parecido no cinema. Na programação de 2023, a maioria dos estúdios já tem lançamentos previstos para este ano que estão finalizados e outros que já estão em processo de pré-produção com roteiros finalizados.

Para 2024, os filmes considerados carro-chefe dos estúdios já estão em pós-produção, como "Avatar 3" e "Wicked".

O que deve ditar a escala do prejuízo é o tempo. Caso ultrapasse cinco meses, como em 1988, o maior período de paralisação dos roteiristas americanos, a situação se torna caso de preocupação na indústria.

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