Bienal de São Paulo divulga lista completa de artistas da próxima edição; veja

Exposição terá 120 nomes, reunindo dezenas de artistas negros, indígenas de vários países e ampla representação trans

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São Paulo

Ao observarmos a lista dos 120 artistas selecionados para a próxima Bienal de São Paulo, é possível separá-los em grupos que dialogam com a programação dos museus, das galerias e das bienais de hoje.

Há, por exemplo, diversos artistas negros americanos, como o cineasta Marlon Riggs e a escultora Simone Leigh, que representou os Estados Unidos na última Bienal de Veneza com suas esculturas centradas na experiência de mulheres afrodescendentes.

Obra sem título e sem data de Aurora Cursino dos Santos
Obra sem título e sem data de Aurora Cursino dos Santos - Everton Ballardin/Museu de Arte Osório Cesar, Franco da Rocha

Também vemos na seleção um grupo de nomes vinculados à loucura, isto é, artistas que desenvolveram seus trabalhos em hospitais psiquiátricos ou que passaram por este tipo de instituição, como Aurora Cursino, Ubirajara Ferreira Braga e Arthur Bispo do Rosário.

A fluidez de gênero está representada pelo coletivo argentino Archivo de La Memoria Trans, pela escrava considerada a primeira travesti do Brasil, Xica Manicongo, e pela dupla não-binária Pauline Boudry e Renate Lorenz.

Por fim, há artistas indígenas de vários países, como a neozelandesa Nikau Hindin, com obras têxteis que resgatam as tradições do povo maori, além dos brasileiros do coletivo Mahku, que expôs suas pinturas no Museu de Arte de São Paulo este ano, e Denilson Baniwa, que está com uma mostra individual em cartaz na Pinacoteca do Estado.

Se as categorias servem para deixar mais compreensível a maior mostra de artes do país, os organizadores da bienal, que chega agora à sua 35ª edição, afirmam não se sentir confortáveis com estas divisões.

"Talvez tenhamos que olhar com uma visão futurista, para além dessas definições em categorias que nós estamos habituados a olhar. O que aparece [na seleção] é a procura de artistas que trabalham com as urgências do hoje, que lidam com as grandes demandas do agora", afirma Grada Kilomba, uma das curadoras da exposição.

São artistas de todas as partes do mundo que produzem em contextos nos quais a vida é tornada impossível, acrescenta Hélio Menezes, outro dos curadores, citando os artistas em diáspora ou em condição de fronteira. O debate, ele diz, é "como encontrar nessas expressões estéticas caminhos para abrir brechas de possibilidades".

O mapa-múndi desta bienal é mais latinoamericano —com predomínio de brasileiros—, seguido por nomes da Europa e, em terceiro lugar, da África. De todos os selecionados, cerca de 25% já morreram.

Depois do Brasil, o segundo país mais representado são os Estados Unidos, mas Menezes afirma que não houve uma busca objetiva por artistas americanos. Segundo ele, os selecionados são somente o resultado das pesquisas da equipe de curadores, que inclui ainda Diane Lima e o ex-diretor do museu Reina Sofía, em Madri, Manuel Borja-Villel.

Chama atenção na seleção a presença da Cozinha Ocupação 9 de Julho, um coletivo formado por moradores sem teto de uma ocupação em São Paulo que promovem almoços no prédio onde vivem. Na Bienal, eles trarão performances, faixas e vídeos, levantando questões sobre o direito à cidade e embaralhando o que é trabalho social e o que é trabalho artístico, segundo Menezes.

Outro nome que embaralha as categorizações é a portuguesa Raquel Lima, ao trabalhar a desconstrução de palavras para refletir sobre as ilhas de São Tomé e Príncipe, um ponto de descanso entre os continentes africano e sul-americano na época da escravidão.

O projeto expositivo, desenvolvido pelo estúdio Vão, propõe o percurso inusual de visitar o primeiro e o terceiro pavimentos do Pavilhão da Bienal e só ao fim chegar ao segundo, que será acessado por uma das rampas externas do prédio, colocando o visitante em contato com o verde do parque Ibirapuera.

O estúdio descobriu em suas pesquisas que, nas bienais mais antigas, existia uma ideia de hierarquia nas obras expostas de acordo com os andares em que as elas estavam dispostas, e a proposta agora é subverter esta lógica, diz Gustavo Delonero, um dos responsáveis pelo projeto.

Archivo de la Memoria Trans [Arquivo da Memória Trans] Fondo Documental Mónica Andrada, c. 1995
Foto do Archivo de la Memoria Trans, de 1995 - Fondo Documental Mónica Andrada, c. 1995

Intitulada "Coreografias do Impossível", a bienal acontece de 6 de setembro a 10 de dezembro. A Fundação Bienal afirma não conseguir estimar ainda o custo total do evento, dado que o período de captação de verbas vai até o final do ano, quando será feito um relatório.

Dados públicos mostram que a fundação obteve até agora, pela Lei Rouanet, R$ 16,6 milhões dos R$ 39 milhões que foi autorizada a captar em 2023. Além de colocar a bienal em pé, o dinheiro é utilizado para todas as atividades da fundação no ano, como a manutenção predial, o pagamento dos funcionários e o cuidado com o acervo.

Artistas da 35ª Bienal de São Paulo

  • Ahlam Shibli
  • Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami
  • Aline Motta
  • Amador e Jr. Segurança Patrimonial Ltda.
  • Amos Gitai
  • Ana Pi e Taata Kwa Nkisi Mutá Imê
  • Anna Boghiguian
  • Anne-Marie Schneider
  • Archivo de la Memoria Trans
  • Arthur Bispo do Rosário
  • Aurora Cursino
  • Ayrson Heráclito e Tiganá Santana
  • Benvenuto Chavajay
  • Bouchra Ouizguen
  • Cabello/Carceller
  • Carlos Bunga
  • Carmézia Emiliano
  • Castiel Vitorino Brasileiro
  • Ceija Stojka
  • Charles White
  • Citra Sasmita
  • Colectivo Ayllu
  • Cozinha Ocupação 9 de Julho
  • Daniel Lie
  • Daniel Lind-Ramos
  • Davi Pontes e Wallace Ferreira
  • Dayanita Singh
  • Deborah Anzinger
  • Denilson Baniwa
  • Denise Ferreira da Silva
  • Diego Araúja e Laís Machado
  • Duane Linklater
  • Edgar Calel
  • Elda Cerrato
  • Elena Asins
  • Elizabeth Catlett
  • Ellen Gallagher* e Edgar Cleijne
  • Emanoel Araújo
  • Eustáquio Neves
  • flo6x8
  • Francisco Toledo
  • Frente 3 de Fevereiro
  • Gabriel Gentil Tukano
  • George Herriman
  • Geraldine Javier
  • Grupo de Investigación en Arte y Política (GIAP)
  • Gloria Anzaldúa
  • Guadalupe Maravilla
  • Ibrahim Mahama
  • Igshaan Adams
  • Ilze Wolff
  • Inaicyra Falcão
  • Januário Jano
  • Jesús Ruiz Durand
  • John Woodrow Wilson
  • Jorge Ribalta
  • José Guadalupe Posada
  • Juan van der Hamen y León
  • Judith Scott
  • Julien Creuzet
  • Kamal Aljafari
  • Kapwani Kiwanga
  • Katherine Dunham
  • Kidlat Tahimik
  • Leilah Weinraub
  • Leopoldo Méndez
  • Luana Vitra
  • Luiz de Abreu
  • Mahku
  • Malinche
  • Manuel Chavajay
  • Margaret Taylor Goss Burroughs
  • Marilyn Boror Bor
  • Marlon Riggs
  • Maya Deren
  • M'barek Bouhchichi
  • Melchor María Mercado
  • Morzaniel Ɨramari
  • Mounira Al-Solh
  • Nadal Walcott
  • Nadir Bouhmouch e Soumeya Ait Ahmed
  • Nikau Hindin
  • Niño de Elche
  • Nontsikelelo Mutiti
  • Patricia Gómez e María Jesús González
  • Pauline Boudry e Renate Lorenz
  • Philip Rizk
  • Quilombo Cafundó
  • Raquel Lima
  • Ricardo Aleixo
  • Rolando Castellón
  • Rommulo Vieira Conceição
  • Rosa Gauditano
  • Rosana Paulino
  • Rubem Valentim
  • Rubiane Maia
  • Sammy Baloji
  • Santu Mofokeng
  • Sarah Maldoror
  • Sauna Lésbica por Malu Avelar com Ana Paula Mathias, Anna Turra, Bárbara Esmenia e Marta Supernova
  • Senga Nengudi
  • Sidney Amaral
  • Simone Leigh
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