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Filme sobre Ruth de Souza confirma o talento forte de Juliana Vicente

Documentário se destacou na Mostra de Cinema de Ouro Preto, a CineOP, que terminou nesta segunda-feira

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Esta 18ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto, a CineOP, que chegou ao fim nesta segunda-feira (26), será lembrada pelo tributo ao ator e cantor Tony Tornado, que fez um show antológico ao lado do filho, contou histórias sobre seus 93 anos de vida e apresentou filmes, como "Quilombo", lançado em 1984, de Cacá Diegues.

Também será rememorada pela presença de Lô Borges, que veio com "Toda essa Água", documentário de tom afetivo a respeito da sua carreira dirigido por Rodrigo de Oliveira. É provável ainda que deixe como recordação marcante "Diálogos com Ruth de Souza", documentário de Juliana Vicente que foi um dos filmes mais potentes e criativos da mostra.

A atriz Ruth de Souza em cena do documentário dirigido por Juliana Vicente - Divulgação

O fio condutor de "Diálogos" é uma série de entrevistas feitas pela cineasta com a atriz nos anos que antecederam a morte dela, em 2019. Ruth estava frágil, com idade bastante avançada, mas exibia uma lucidez espantosa, haja vista a ironia refinada.

A diretora de 38 anos se parece com uma artesã que conhece muito bem os elementos com que trabalha, costurando cuidadosamente as conversas reveladoras com a atriz de importância histórica, registros raros de arquivo e imagens que remetem a uma transcendência baseada nas raízes africanas, com participação de atores.

Também à frente do elogiado "Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo", Vicente agora desponta como um dos nomes mais talentosos entre as jovens cineastas brasileiros.

Outro documentário notável exibido em Ouro Preto foi "Lupicínio Rodrigues - Confissões de um Sofredor", de Alfredo Manevy. Assim como o filme sobre Ruth de Souza, "Lupicínio" apresenta as linhas gerais da trajetória do artista, mas ronda aspectos misteriosos da personalidade do retratado.

Ambos também mostram como, ainda que consagrados em seus campos de atuação, o racismo nunca lhes deu trégua. São documentários que reforçam o que os curadores do evento chamam de "patrimônio da cultura brasileira preta".

Na frente da preservação, nenhuma exibição foi tão festejada quanto "A Rainha Diaba", filme de 1974 dirigido por Antonio Carlos da Fontoura. A restauração bem-sucedida do filme com Milton Gonçalves havia sido aplaudida em fevereiro no Festival de Berlim. Em Ouro Preto, além de uma projeção em sala quase lotada, foi tema de um debate sobre as particularidades da recuperação da obra.

Milton Gonçalves em cena do filme 'Rainha Diaba', de Antonio Carlos da Fontoura, lançado em 1974
Milton Gonçalves em cena do filme 'Rainha Diaba', de Antonio Carlos da Fontoura, lançado em 1974 - Divulgação

Plano de preservação

Depois de mais de uma década de discussões, sempre uma vez por ano na CineOP, os integrantes da Associação Brasileira da Preservação Audiovisual concluíram um detalhado plano nacional para o setor. Segundo Raquel Hallack, diretora do festival, a proposta foi entregue ao Ministério da Cultura, que vai avaliar a regulamentação do projeto.

Aliás, integrantes dos ministérios da Cultura e da Educação participaram de diversas discussões ao longo dos seis dias de festival. Na temática da educação, as reflexões se concentraram na lei 14.533, sancionada pelo governo Lula em janeiro para criar a Política Nacional de Educação Digital (Pned). A lei ainda precisa ser regulamentada.

Do ponto de vista local, houve uma novidade. A restauração do histórico Cine Vila Rica, enfim, vai sair do papel, de acordo com Hallack. O cinema, que pertence à Ufop, a Universidade Federal de Ouro Preto, estava fechado desde 2019.

De acordo com a diretora da CineOP, a universidade conseguiu a liberação do dinheiro para a reforma do cinema, que deve durar pelo menos três anos.

O jornalista viajou a convite da organização do evento.

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