Fui vítima da guerra com cambistas e fiquei de fora do show dos Titãs

Na bilheteria, ninguém pôde me ajudar e ainda me senti como um ladrão, embora tivesse pagado caro pelos ingressos

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Roberto Gazzi

Consultor de mídia independente

O problema da compra de ingressos por cambistas é antiga. O uso da internet fez parecer que a questão seria resolvida, mas a venda de ingressos para os shows de Taylor Swift nas bilheterias do Allianz Parque na semana passada, com fãs agredidos por hordas de cambistas, beirou o inacreditável e escancarou também os problemas da venda digital.

No sábado à noite, no show dos Titãs no Allianz Parque, eu e minha mulher fomos vítimas desta guerra. Pela primeira vez comprei ingressos fora do site oficial, neste caso da Eventim. Apesar de vítimas, fomos tratados como ladrões, humilhados pela empresa e seus terceirizados.

Show da nova turnê dos Titãs em São Paulo, realizado no Allianz Parque - Adriano Vizoni/Folhapress

Aos detalhes da história. Um casal de amigos nos convidou no sábado de manhã para assistir ao show à noite. Não havia mais ingressos oficiais. Fui procurá-los na internet. Achei na Viagogo, o mais conhecido serviço de revenda digital de ingressos. Havia dezenas de opções. Escolhi uma, segui os passos, paguei pelo cartão de crédito. Com as taxas, ficou oito vezes mais caro do que o tíquete oficial.

Depois de minutos apareceu o e-mail para baixar e imprimir os ingressos. Só que eles não passaram na catraca. O supervisor olhou a catraca e me encarou como se eu fosse um criminoso. Ríspido, começou. "Tem documentos? Comprou onde, na Viagogo? Não vão entrar! Os bilhetes foram duplicados. Já teve gente que entrou com eles. Pergunta lá na Viagogo. Perdeu."

Vou ao site, o telefone anunciado para o Brasil não atende. Sigo outras instruções e descrevo o que está acontecendo. Pedem uma documentação. Mas as fotos do celular não são aceitas e o arquivo emperra. Volto e repito tudo de novo, mas não coloco as fotos. Aí, vai. Em seguida vem a robótica resposta com número de protocolo e o aviso de que minha pendência será respondida em até 20 dias. O bilheteiro, com dó, avisa que na grade do outro lado tem uma pessoa da Eventim.

Vou lá. Tem mesmo uma moça sentada em frente a um notebook. "Compraram na Viagogo, né? Aciona eles", diz. "Certo, mas o QR Code é da Eventim. Como conseguiram duplicar?", pergunto. "Não é nosso problema", ela responde. Cadê a empatia?

O show está começando. Vou para a grade do outro lado, onde mesmo de longe dá para ver os Titãs chegando ao palco. O público delira. Aos amigos, já alertados sobre o problema, desejo um bom show e um breve encontro. Do outro lado, um portão é aberto, as mulheres entram e vejo o supervisor vir correndo para fechá-lo.

Está terminando a primeira música, cantada por Paulo Miklos. Arnaldo Antunes inicia a segunda. Ali fora, já estou cantando e dançando como nos velhos tempos. O pessoal das catracas ri. "Não sou brasileiro, não sou estrangeiro". Acompanho os xingamentos da música. Aí aparece o chefe da segurança, que parece estar a par de um pedido que minha mulher tinha feito, de ir ao banheiro.

Ele berra. "Só vai no banheiro quem pagou pelo ingresso". Minha mulher responde. "O pior é que pagamos, e pagamos caro!" Ele se exalta. "Aqui não entra ninguém sem ingresso!" Ela se afasta. É o melhor a fazer. Vamos embora com a mesma sensação de quando somos vítimas de um golpe. Um misto de raiva, impotência e humilhação. Como é uma guerra que parece longe do fim, certamente muitos outros serão feridos.

Demorei um pouco para publicar este texto, esperando respostas da Eventim e da Viagogo. A resposta da Eventim veio na terça-feira (20). Ela lamentou o ocorrido, disse que orienta fortemente que os ingressos não sejam adquiridos em canais não oficiais, que não possui qualquer acordo ou parceria com cambistas virtuais e tem uma série de procedimentos para tentar barrar a prática, entre eles o cadastro prévio no site, compra limitada por CPF e detecção de robôs.

Lembra que Viagogo e similares são sites não oficiais e na maioria das vezes sem endereço no Brasil. A Eventim é alemã, mas lembra estar no Brasil desde 2016 e contar com mais de 60 funcionários. Sobre as orientações em casos como o meu, são praticamente as mesmas que seu pessoal forneceu no Allianz Parque. Basicamente: não compre de terceiros. A Viagogo, que é suíça, respondeu na quarta-feira (21) e disse que vai ressarcir o valor integral dos ingressos.

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