Mostra em SP quer manter viva a memória das vítimas da pandemia de Covid-19

'O que Não Podemos Esquecer', do artista Edson Pavoni, um dos criadores do Memorial Inumeráveis, discute trauma coletivo

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Sorocaba (SP)

Perder alguém é um trauma, mas o que acontece quando esse trauma é coletivo e inclui o mundo como um todo? São essas perguntas que norteiam a exposição "O que Não Podemos Esquecer", do artista Edson Pavoni, um dos criadores do Memorial Inumeráveis, que pretende manter viva a memória dos que não resistiram à pandemia de Covid-19.

"Templo Orbital", obra de Edson Pavoni exibida na Bienal do Mercosul
Obra 'Templo Orbital, obra de Edson Pavoni exibida na Bienal do Mercosul, em Porto Alegre - Clara Marques/Divulgação

"Durante a pandemia, a gente lidou com a morte todos os dias. A gente acordava para um número novo de mortes. Depois de um tempo, esses números foram deixando de significar uma quantidade de pessoas, indivíduos, e se tornaram números na nossa cabeça. É uma exposição política", diz Pavoni.

A mostra de arte contemporânea feita por Pavoni conta com 21 obras, 20 delas inéditas. Há instalações, fotografias e esculturas, realizadas sobre a pandemia no Brasil e que já passaram anteriormente pela Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, pela Bienal do Uzbequistão e pela Singapura.

Esta é a primeira vez que "O que Não Podemos Esquecer" estará em São Paulo, numa passagem breve pela Casa Cósmica, neste final de semana.

Segundo o artista, a exposição tem um tripé como base —o toque, a morte e a memória. "A gente ficou proibido de tocar nas outras pessoas. De repente, a bolha da nossa intimidade ganhou dois ou três metros a mais e isso formou o que chamo de crise do toque", diz, sobre o período de quarentena.

A memória está associada ao esquecimento dos impactos da pandemia e dos responsáveis pela política de enfrentamento. "Tem gente que lucra com esquecimento. Faltou oxigênio em Manaus, a vacina não chegou a tempo, a propina era de US$ 1. Para essas pessoas, é muito bom que novas narrativas sobre essa memória aconteçam", diz Pavoni.

Já a morte reflete a questão do trauma coletivo e o impacto das mais de 700 mil mortes causadas pelo vírus. "Existe um passivo emocional. Ele está aí, você encontra quando conversa com uma pessoa que não está saindo mais tanto quanto antes, que fica mais em casa. Vai demorar muito para descobrirmos o tamanho disso, mas é algo que precisa ser tratado", afirma.

A organizadora da mostra, Carollina Lauriano, diz que a exposição reflete esses traumas. "Ela joga luz em um assunto recorrente na própria história do país, fazendo pensar que esse pode ser um momento importante para que nós, como brasileiros, pensemos sobre os nossos traumas históricos."

A abertura da mostra no sábado terá uma performance da artista Isabella Nardini, às 17h55 e, no domingo, às 15h, haverá bate-papo com a médica e escritora Ana Claudia Quintana Arantes, autora de "A Morte É um Dia que Vale a Pena Viver".

Um dos destaques da exposição é a obra "Templo Orbital", que visa homenagear os mortos e será o primeiro satélite artístico enviado ao espaço por um país do sul global. A iniciativa tem parceria de três empresas —SpaceX e Momentus, dos Estados Unidos, e a D-Orbit, da Itália.

"Estamos criando esse formato de encaixe para você poder usar espaços dentro do foguete que não necessariamente seriam usados, para mandar objetos muito pequenos ao espaço", afirma Pavoni.

Por meio de um site, as pessoas vão poder adicionar à obra nomes de seres humanos e animais que já morreram, trabalho que tem previsão de lançamento por um foguete da SpaceX em fevereiro do ano que vem. Ela deve orbitar o planeta por cerca de dez anos, carregada com os nomes.

O que Não Podemos Esquecer

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