Aleijadinho tem autoria de obra confirmada por pesquisadores em Minas

Imagem de São Francisco de Assis Penitente passou por radiografias e análises químicas em estudos da UFMG

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Belo Horizonte

Estudos interdisciplinares de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais atribuíram a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, a autoria de uma imagem de São Francisco de Assis Penitente.

A obra, originária da Capela de Bom Jesus da Paciência, distrito de Cipotânea, a 240 quilômetros de Belo Horizonte, foi esculpida no fim do século 18, entre 1790 e 1792, quando o escultor esteve na região para trabalhar no retábulo da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto.

Imagem frontal de São Francisco de Assis Penitente, restaurada, com um resplendor prateado na cabeça, vestimenta marrom e segurando uma caveira.
Imagem de São Francisco de Assis Penitente após a restauração, com a caveira - Cláudio Nadalin/Divulgação

A conclusão é dos pesquisadores do Cecor, o Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, da Escola de Belas Artes da UFMG, que fizeram levantamentos históricos sobre a produção do artista.

A escultura de 127 centímetros de altura e 16 quilos esteve guardada por anos no subsolo da residência paroquial até ser levada para restauração na capital do estado, em 2016, num projeto de conservação encabeçado pelo Ministério Público de Minas Gerais.

Os pesquisadores confirmaram a autoria a partir de cruzamentos de dados. Segundo Alessandra Rosado, professora da EBA e diretora do Cecor, primeiro foram feitas comparações da peça com imagens produzidas por Aleijadinho. Os principais traços escultóricos —os estilemas do mestre— foram cotejados aos das imagens de São Simão Stock e São João da Cruz, de Sabará, e das obras dos Passos da Paixão, de Congonhas.

Detalhes como os cabelos e as barbas sinuosas, a parte central do queixo aparente, as sobrancelhas altas e ligadas visualmente ao nariz, a articulação em formato V do pescoço, o formato das orelhas, dos olhos e dos lábios foram observados.

O que dificultava essa leitura, diz Rosado, era a presença das repinturas que encobriam alguns estilemas. Com radiografias, conduzidas pelo Lacicor, o Laboratório de Ciência da Conservação, vinculado ao Cecor, verificou de modo conclusivo as características da talha do escultor antes da remoção das camadas.

De acordo com o professor da EBA e coordenador do Lacicor, Luiz Souza, as radiografias também foram importantes para compreender a técnica de construção e avaliar o estado de conservação do suporte.

Já as análises físico-químicas forneceram informações sobre as policromias —substâncias responsáveis pela carnação da peça, o que confere aspecto natural à imagem e maior significação devocional.

Segundo Souza, os exames confirmaram uma sequência de camadas característica das esculturas mineiras do período colonial. "Em termos de cronologia, os materiais batem com o período suposto de produção da obra".

Além disso, análises botânicas de uma amostra da madeira apontaram o jatobá como o material escolhido pelo artista. A espécie é encontrada na zona da mata mineira, provável região de origem da peça, como indica a pesquisa histórica.

A imagem sacra, classificada como uma imagem de vestir, por ser anatomizada para receber vestimentas, é composta por 11 blocos e uma caveira, dos quais apenas a cabeça possui as características escultóricas de Aleijadinho.

"O Cecor, em seus 45 anos de existência, atribuiu autoria a apenas duas obras, tamanho é o cuidado que a gente tem com relação a isso", afirma Alessandra Rosado.

Em abril passado, a imagem de São Francisco de Assis Penitente foi devolvida para a Igreja de São Caetano, em Cipotânea.

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