Festival de arte eletrônica, File destaca trabalhos feitos com inteligência artificial

Exposição chega à 22ª edição com série de trabalhos interativos que transportam o espectador para vários mundos virtuais

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'Captured', obra da finlandesa Hanna Haaslahti exposta no File Divulgação

São Paulo

Entrar em outros universos está cada vez mais fácil, e não necessariamente você precisa de óculos de realidade virtual. Na primeira obra do File, o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, o visitante tem sua imagem capturada por uma câmera e em seguida trabalhada por um computador.

Depois de alguns minutos, seu rosto é acoplado a um corpo longilíneo embalado num vestuário monocromático —este repórter ganhou uma roupa verde—, e então seu avatar é colocado na convivência de outros humanos virtuais. No telão onde o enredo se desenvolve, os avatares alternam momentos de harmonia com outros de briga, mimetizando a convivência das pessoas na vida fora dali.

Imagem da animação 'Unbonded on a Bonded Domain', do brasileiro Gabriel Massan, em exposição no File - Divulgação

A obra da finlandesa Hanna Haaslahti, exposta agora no centro cultural da Fiesp, em São Paulo, coloca o visitante como espectador no mundo físico e ator no virtual. Esta interação do homem com a máquina — capaz de criar universos convincentes em 3D— é um dos pontos centrais do File, que chega este ano à sua 22ª edição. Boa parte dos trabalhos expostos estabelece uma relação personalizada com o visitante a partir de pesquisas com inteligência artificial, afirma Paula Perissinotto, fundadora do evento e uma das organizadoras da mostra.

Outro exemplo de conexão está na instalação da brasileira Anaisa Franco, artista que já havia exposto na primeira edição do File, em 2004. Ela apresenta uma espécie de canhão flutuante, envolto numa carcaça que parece saída do filme "Alien", na ponta do qual o visitante coloca seu olho. A máquina escaneia a íris e, no telão à frente, a projeta misturada com imagens de galáxias e de nuvens.

Em outra obra, do turco-americano Memo Akten, o espectador mexe com objetos como cordas e toalhas e vê imagens inspiradas no fogo, na terra, na água e no ar se formarem a partir daí. "É inerente ao meio digital uma demanda de atitude [por parte do espectador], porque se você não tiver nenhuma atitude nada acontece —com os seus aplicativos, com a sua vida digital", afirma Perissinotto.

Intitulado "Singularidades Interativas", o File apresenta cerca de 180 obras de artistas de 39 países, selecionados por edital. Este ano, pela primeira vez na história do festival, a exposição ocupa o subsolo da Fiesp, um espaço com metade do tamanho do primeiro andar —onde habitualmente a mostra acontece—, e pé direito baixo. A mudança foi necessária porque a galeria maior está em reformas, e a organização do evento optou por não pular um ano.

Mas nem tudo à mostra exige interação. Há dezenas de obras sonoras, em vídeo e animações, todas apresentadas em monitores, que requerem somente a atenção do visitante, assim como os trabalhos que serão projetados no painel de LED da fachada da Fiesp, de frente para a avenida Paulista, parte dos quais foi realizada por alunos da Escola de Comunicação e Artes da USP.

Numa época de onipresença da inteligência artificial no noticiário, a organizadora afirma que ela está se tornando uma ferramenta inerente à produção de obras eletrônicas, num movimento de ascensão que já vem ocorrendo há alguns anos. Segundo Perissinotto, a junção de ferramentas digitais sofisticadas com a abordagem humana dá uma mistura potente, e cada artista se apropria disso à sua maneira. "Talvez daqui a pouco a gente nem fale mais disso porque vai ser óbvio, a inteligência artificial vai se integrar", ela diz.

File - Festival Internacional de Linguagem Eletrônica

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