Descrição de chapéu Artes Cênicas

Veja peças de Zé Celso, que dirigiu obras de Shakespeare, Chico Buarque e Beckett

Dramaturgo buscou a inovação constante, dialogando com autores vivos e antigos e escrevendo suas próprias obras

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São Paulo

Morreu nesta quinta-feira (6), aos 86 anos, dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, nome central do teatro brasileiro, que não resistiu aos ferimentos causados por um incêndio em seu apartamento.

Zé Celso, criador do Teatro Oficina, em ensaio para a revista Serafina, da Folha, em outubro de 2016
Zé Celso, criador do Teatro Oficina, em ensaio para a revista Serafina, da Folha, em outubro de 2016 - Daniel Kaljmic

Além de textos de sua autoria, Zé Celso, criador do Teatro Oficina, deu seu olhar para a obra de autores de diferentes épocas e locais, que vão do grego Eurípedes ao brasileiro Nelson Rodrigues, sem ignorar Shakespeare ou Oswald de Andrade.

Veja algumas peças dirigidas por Zé Celso, de sua autoria ou de outros dramaturgos:

"Vento Forte para um Papagaio Subir" (1958), de Zé Celso

"Vento Forte para um Papagaio Subir" desvirginou em dose dupla. Foi o primeiro texto autoral de Zé Celso para o teatro e, em 1958, a obra que estreou os palcos do espaço que hoje carrega seu nome, na época conhecido como Teatro Novos Comediantes.

Na trama, o jovem João Ignácio deixa Bandeirantes, fictícia cidade do interior de São Paulo, após uma tempestade. Decide então seguir o vento, deixando a velha vida para trás, em ruma a onde a vida o levar.

"Andorra" (1961), de Max Frisch

"Andorra" tinha acabado de entrar em cartaz no Teatro Oficina quando explodiu a ditadura militar, em 1964. Seu enredo, que aborda o antissemitismo após a Segunda Guerra Mundial, serviu de mensagem do grupo contra as perseguições do regime instalado.

A obra marca uma segunda transição ao capturar a mudança de estilo de Zé Celso, que até então escrevia sob a influência do realismo de Stanislavski (1863-1938), mas passou a flertar com o teatro épico de Bertolt Brecht (1898-1956).

"O Rei da Vela" (1933), de Oswald de Andrade

Em 1967, Zé Celso realizou a primeira montagem "O Rei da Vela", peça do modernista Oswald de Andrade (1890-1954) escrita em 1933 que até então não tinha subido ao palco, em partes por sua natureza rebelde e anarquista.

O diretor preserva, e até realça, a antropofagia de Oswald ao apresentar o texto, que retrata um Brasil mergulhado na crise financeira de 1929, às vésperas do Estado Novo.

Cena da peça 'O Rei da Vela', peça de Oswald de Andrade montada pelo Teatro Oficina, com direção de Zé Celso
Cena da peça 'O Rei da Vela', peça de Oswald de Andrade montada pelo Teatro Oficina, com direção de Zé Celso - Reprodução

"Roda Viva" (1967), de Chico Buarque

Um ano após estrear a peça de Oswald de Andrade, Zé Celso dirigiu a primeira montagem "Roda Viva", de Chico Buarque, escrita no final do ano anterior.

Através do enredo sobre um famoso cantor que é manipulado pela imprensa e pela indústria fonográfica, a montagem representa uma reação mais combativa e violenta do Teatro Oficina à censura e à situação do país, que vivia a ditadura.

Heleno Prestes como Benedito Silva em 'Roda Viva', montada em 1968 no Teatro Princesa Isabel com Zé Celso
Heleno Prestes como Benedito Silva em 'Roda Viva', montada em 1968 no Teatro Princesa Isabel com Zé Celso - Acervo Teatro Oficina

"As Boas" (1947), de Jean Genet

"As Boas" foi uma das primeiras peças de Zé Celso após um longo período afastado da direção teatral. Ao seu lado na direção, estava Marcelo Drummond, que acompanharia Zé Celso à frente do Teatro Oficina a partir daí e com quem se casou neste ano.

A peça conta a história de duas empregadas domésticas que se engajam em rituais sadomasoquistas que encenam o assassinato de sua patroa.

"Ham-Let", adaptado de William Shakespeare

Em 1993, Zé Celso adaptou o clássico de William Shakespeare (1564-1616) "Hamlet", a tragédia do príncipe da Dinamarca que descobre que o pai foi assassinado pelo tio, que casou com sua mãe.

O diretor dá ao texto original uma camada musical, com sonoridades como batuque, samba, bossa nova e rock.

"Cacilda!" (1998), de Zé Celso

Em 1998, Zé Celso dirigiu mais um texto seu. "Cacilda!" conta a história de Cacilda Becker (1921-1969), grande estrela da época áurea do Teatro Brasileiro de Comédia nos anos 1950 e também uma figura central da classe teatral durante a ditadura.

Zé Celso descrevia a peça como um coma —de Cacilda Becker e também do teatro e das idéias a respeito dos padrões aceitos para a existência humana.

"Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues

No último ano do milênio passado, Zé Celso dirigiu "Boca de Ouro", peça de Nelson Rodrigues (1912-1980) que parte do assassinato de um bicheiro que trocou seus dentes por uma dentadura áurea.

Após sua morte, o repórter de um jornal sensacionalista começa a investigar o passado de "Boca" com a ajuda de dona Guigui, ex-amante do contraventor.

"Esperando Godot" (1952), de Samuel Beckett

Em 2001, alguns anos após escrever sobre Cacilda Becker, Zé Celso dirigiu "Esperando Godot", de Samuel Beckett (1906-1989), a última peça encenada pela atriz, que morreu em 1969, durante a temporada.

Na história absurda que surge logo após fim da Segunda Guerra, Estragão e Vladmir se encontram perto de uma árvore e esperam por Godot, figura enigmática que nunca chega.

"Os Sertões" (1902), de Euclides da Cunha

A partir de 2002, Zé Celso dirigiu uma série de cinco peças que adaptaram o romance épico "Os Sertões", de Euclides da Cunha (1866-1909), sobre a Guerra de Canudos no sertão brasileiro.

"A Terra" (2002), "O Homem I" (2003), "O Homem II" (2003), "A Luta I" (2005) e "A Luta II" (2006) somam mais de 20 horas de duração.

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