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Artes Cênicas Aracy Balabanian (1940-2023)

Aracy Balabanian, antes de explodir na TV, forjou a sua carreira no teatro

Com presença excepcional, atriz sabia que tinha todos os requisitos para se firmar como o grande nome que se tornou

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Natália Beukers

Atriz e criadora do site Infoteatro

São Paulo

Apesar da extensa carreira na TV —na qual atingiu o reconhecimento popular—, Aracy Balabanian é fruto dos palcos. Como disse o ator e autor Oswaldo Mendes, "ela aconteceu no teatro". "Pena que, por conta da televisão, o teatro não pôde usufruir do seu talento como poderia."

Escrever a respeito de Balabanian é entrar em contato com o melhor de nosso teatro. Isso inclui seu êxito desde o início, no fim dos anos 1960 e início de 1970, quando reconhecida pela dramaturgia paulista.

Aracy Balabanian em cena da peça 'Os Ossos do Barão', exibida no Teatro Brasileiro de Comédia em 1963 - Reprodução

Com sua presença excepcional, tinha todos os requisitos para se firmar como a grande atriz que veio a ser —talento, força e, acima de tudo, vocação. Essa vocação a fez perceber, desde cedo, que poderia atingir a glória com estudo e dedicação, sempre em busca do aperfeiçoamento.

Brasileira, filha de pais armênios, Aracy Balabanian foi criada em São Paulo e, desde a infância, cultivou o anseio de ser atriz, quando assistiu, pela primeira vez, a uma peça. Era "Mirandolina", de 1955, com direção de Ruggero Jacobbi. Ali, Balabanian teve certeza de que o teatro era seu lugar.

Aluna do colégio Bandeirantes, Balabanian teve a oportunidade de participar de uma conferência com Augusto Boal, liderança do Teatro de Arena, em São Paulo, na década de 1960. Ao demonstrar interesse pelo teatro, Boal convidou a jovem, aspirante a atriz, para um teste de elenco no Teatro Paulista do Estudante. Aracy Balabanian passou no teste e, lá, no TPE, iniciou sua tão sonhada vida de atriz.

Nem tudo foram flores. No começo, ela não teve apoio dos pais para seguir na profissão. Em entrevista, Balabanian contou que o pai criou uma série de dificuldades, incluindo o corte de mesada. O reconhecimento paterno só veio com o sucesso na TV.

Nessa época, a jovem promissora atriz teve a oportunidade de conhecer a já consagrada, atriz Beatriz Segall. É possível dizer que Segall ensinou os princípios da carreira a Aracy Balabanian. Aos 16 anos, Balabanian integrou o elenco de "Almanjarra", sobre a qual o crítico Décio de Almeida Prado escreveu haver nascido, naquele dia, uma estrela e aconselhou que guardassem esse nome —e Balabanian logo se firmou como um talento de sua geração.

Seu primeiro trabalho profissional foi em "Os Ossos do Barão", de Jorge Andrade, em 1963, sob direção de Maurice Vaneau. Simultaneamente, começou a ensaiar "Veredas da Salvação", também de Andrade, com direção de Antunes Filho, um grande diretor.

Um espetáculo de suma importância em sua vida foi, em 1967, a peça "Marat/Sade", texto de Peter Weiss, sob direção de Ademar Guerra. Nessa montagem, Balabanian estava ao lado de atores como Armando Bogus e Rubens Corrêa. Por essa montagem, a atriz ganhou prêmios por sua posição como coadjuvante.

Em 1970, Balabanian fez parte do elenco de uma das peças mais emblemáticas da época, "Hair", com direção de Guerra.

A parceria de Aracy Balabanian com Guerra diminuiu quando a atriz foi morar no Rio de Janeiro —por causa dos recorrentes trabalhos na televisão. No entanto, retomaram a parceria em 1976, com "Brecht Segundo Brecht", roteiro com poemas do autor alemão Bertolt Brecht, idealizado pelo dramaturgo Oswaldo Mendes. O espetáculo estreou no Teatro Paiol, em Curitiba, mas não foi apresentado nas capitais paulista e fluminense.

Outro grande sucesso da atriz, ao lado do diretor Ademar Guerra, foi a peça "Boa Noite Mãe", que estreou em 1984. Sua parceira de cena era a genial Nicette Bruno, os cenários e figurinos eram da artista plástica Maria Bonomi. Aqueles que tiveram oportunidade de assistir ao espetáculo afirmam terem visto interpretações excepcionais.

Nessa linha do tempo, não poderia deixar de citar a importante participação da atriz nos primeiros anos de formação do Grupo Tapa —Balabanian foi convidada pelo diretor e fundador do grupo, Eduardo Tolentino de Araujo, para integrar o elenco de "O Tempo e os Conways" em 1985.

Por fim, gostaria de citar o espetáculo "Clarice, Coração Selvagem", de 1998, com direção de Maria Lucya de Lima.

E, com Clarice Lispector, uma grande paixão na vida de Balabanian, finalizo o pequeno apanhado de sucessos com um trecho —"como se eu procurasse não aproveitar a vida imediata, mas sim a mais profunda, o que me dá dois modos de ser: em vida, observo muito, sou ativa nas observações, tenho o senso do ridículo, do bom humor, da ironia, e tomo um partido".

Atriz e criadora do site Infoteatro

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