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Televisão Aracy Balabanian (1940-2023)

Aracy Balabanian captou as sutilezas e grandezas da alma feminina na TV

Artista foi da intensidade dramática ao humor de sitcom sem nunca esquecer o calor humano de todos os seus personagens

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Mauro Alencar

Doutor em teledramaturgia pela Universidade de São Paulo e autor de 'A Hollywood Brasileira: Panorama da Telenovela no Brasil'

São Paulo

Minha avó materna exultou quando soube que Aracy Balabanian entraria para o elenco da novela "O Primeiro Amor", sucesso de Walther Negrão na Globo em 1972.

A já consagrada atriz da Tupi havia encantado o público com sua elegante Heloísa Dias Leme, par romântico de Antônio Maria, o português que declamava Camões em novela protagonizada por Sérgio Cardoso.

A atriz Aracy Balabanian, durante gravações da novela 'Elas por Elas' - Cedoc/TV Globo

Era 1968 e a novela "Antônio Maria", de Geraldo Vietri e Walther Negrão, virou sensação no cotidiano brasileiro. Portanto, nada mais natural que o sentimento introvertido, terno e romântico tão característicos das maiores composições de Balabanian suscitassem um frenesi. Afinal, a atriz ia dividir novamente a cena com Sérgio Cardoso, à época o primeiro ator do país.

Na emissora pioneira, Aracy Balabanian estrelaria ainda dois grandes sucessos. "Nino, O Italianinho" e "A Fábrica", desta vez, dividindo o protagonismo com Juca de Oliveira.

Chamou a atenção da imprensa ao compor com maestria uma humilde moradora de vila, Bianca, em "Nino", logo após a milionária de "Antônio Maria". E em "A Fábrica" causava furor o envolvimento da proprietária da indústria têxtil, Isabel, com Fábio, o líder operário.

Antes disso, em seus primeiros passos na nascente indústria televisiva destaco a sua estreia no gênero com "Marcados pelo Amor", de Walther Negrão, com base em radionovela de Oduvaldo Vianna, na TV Record, em 1964, e "O Amor tem Cara de Mulher", de Cassiano Gabus Mendes, inspirada em texto da argentina Nene Castellar, dividindo a cena com Eva Wilma, Cleyde Yáconis e Vida Alves, em 1966. Isso após a passagem pelo histórico teleteatro da Tupi, como "Antígona", de Sófocles.

O sucesso em novelas se transfere para o popular programa infantil da TV Cultura com a Globo —"Vila Sésamo", a primeira adaptação mundial do sucesso americano, em 1972. Sua personagem, Gabriela, ensinava a ler, contar e até jogos recreativos em meio a figuras como Garibaldo.

Acompanhando a ascensão da Globo, Balabanian participou de inúmeras produções a partir de "Corrida do Ouro", de 1974. Em "Bravo!" viveu com intensidade romântica a personagem Cristina, mulher do maestro Clóvis di Lorenzo.

Mas foi em "O Casarão", de Lauro César Muniz, que Balabanian adensou seu trabalho ao dar vida à Violeta, mulher submissa e introspectiva que ao final rompe com as amarras patriarcais. Depois, com Eva Todor, Lucélia Santos e Walmor Chagas, liderou o elenco de novela que virou coqueluche, "Locomotivas", em 1977. Charme, talento e beleza para ninguém botar defeito.

Entre essas produções, a sofrida cobradora de ônibus Maria Faz Favor de "Coração Alado". Outro tipo maltratado pela vida foi a Ana de "Transas e Caretas", o que aborreceu à censura em 1984.

Em sua carreira passou pela extinta TV Manchete. Ao voltar para a Globo, conhecemos uma nova chave interpretativa de Aracy Balabanian na composição de dona Armênia, sucesso absoluto de "Rainha da Sucata", de Silvio de Abreu, em 1990, com o bordão "na chon!" que protegia a todo custo suas filhinhas —na verdade, três marmanjos.

A personagem seguiu para outra novela, "Deus nos Acuda". Do autor, mais um sucesso, a dominadora Filomena Ferreto de "A Próxima Vítima".

A descoberta do potencial de humor na dramática verve de Aracy Balabanian se estendeu à sitcom "Sai de Baixo". Cassandra, socialite decadente, ficou no ar de 1996 a 2002.

Em sua vasta galeria de personagens feitos para a televisão, os olhões armênios de Aracy Balabanian captaram as sutilezas e grandezas da alma feminina, revelando ao público uma intimidade composta dos mais variados afetos.

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