Conheça o Cameo, site para ganhar dinheiro usado por atores em greve nos EUA

Cheyenne Jackson e Andrew Rannells estão entre celebridades que usam a plataforma para gravar vídeos personalizados

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Perri Ormont Blumberg
The New York Times

Em 24 de julho, o ator Cheyenne Jackson publicou uma foto no Instagram que o mostrava sem camisa, com o abdômen lustroso, veias saltadas nos braços e lábios entreabertos. "Este sou eu sutilmente informando a vocês que estou de volta ao @cameo", dizia a legenda.

O ator Cheyenne Jackson - Michael Tran/AFP

O Cameo é um serviço por meio do qual celebridades e outras pessoas podem ser pagas para fazer vídeos personalizados em comemoração a aniversários, despedidas de solteiro, divórcios e coisas do gênero. Jackson, que participou dos programas de TV "American Horror Story" e "30 Rock", disse em uma entrevista por telefone que reativou sua conta por causa da greve do SAG-Aftra, o sindicato dos atores dos Estados Unidos.

Jackson, de 48 anos, cobra US$ 95, cerca de R$ 462, por uma mensagem de vídeo, e cita as contas a pagar –"tenho dois filhos"– como um dos motivos pelos quais ele está no Cameo. "Não há muitas fontes de renda", afirma.

"Meu marido não gostou muito", ele acrescenta. "Mas você precisa fazer aquilo que precisa fazer."

Desde a estreia do Cameo, em 2016, há atores que o utilizam quando não encontram trabalho tradicional. Em 2021, enquanto a pandemia se alastrava, o ator Andrew Rannells começou a trabalhar com o Cameo a fim de arrecadar dinheiro para o Entertainment Community Fund, uma organização sem fins lucrativos anteriormente conhecida como Actors Fund.

Em um episódio recente de "And Just Like That...", a continuação de "Sex and the City", a personagem Che Diaz, interpretada por Sara Ramirez, começa a fazer vídeos para o Cameo depois que um piloto de TV é cancelado.

De acordo com os dados fornecidos pelo Cameo, houve um aumento de 137% no número de contas reativadas ou criadas no app em julho, ante os números de junho (a greve começou em 14 de julho). O número de pedidos de vídeos permaneceu praticamente o mesmo em cada mês, mas o Cameo disse que os pedidos costumam cair em julho porque não há eventos como formaturas ou feriados como o Dia dos Pais, que acontece em junho nos Estados Unidos.

Algumas das contas novas e reativadas eram de pessoas não afetadas pela greve, mas outras eram de atores sindicalizados, como Jackson e Alyssa Milano. Fran Drescher, a presidente do SAG-Aftra, também reativou sua conta, de acordo com o Cameo, embora não esteja aceitando pedidos no momento.

Milano, de 50 anos, que cobra US$ 250 por uma mensagem de vídeo, diz por e-mail que o Cameo "é uma ótima maneira de complementar a renda durante esse período de inatividade". Os representantes de Drescher disseram que ela não estava disponível para comentar para este artigo.

Enquanto o sindicato dos atores estiver em greve, seus membros estão proibidos de filmar a maioria dos projetos e de promovê-los em eventos como estreias de filmes, festivais de cinema e conferências como a Comic-Con. Mas a criação de vídeos do Cameo em geral é permitida, diz Sue-Anne Morrow, diretora nacional de iniciativas estratégicas de contrato e podcasts no SAG-Aftra

"Contanto que não haja promoção no Cameo de trabalhos afetados pela greve, não há problema", diz Morrow por e-mail.

Em maio, na época em que os sindicatos de roteiristas de cinema e televisão entraram em greve, o sindicato dos atores fechou um acordo com o Cameo que permite que seus membros tenham os ganhos de determinados trabalhos aplicados à exigência de renda profissional mínima para seguro-saúde, diz Morrow.

Esses trabalhos devem ser feitas por meio do Cameo 4 Business, onde clientes empresariais como seguradoras e redes de supermercados contratam talentos para vídeos promocionais.

Morrow disse que o sindicato buscou o acordo porque o Cameo é uma das muitas maneiras pelas quais os atores podem se sustentar quando não estão atuando.

O preço médio de um trabalho para o Cameo 4 Business é de US$ 1,7 mil, diz Steven Galanis, fundador e presidente-executivo do Cameo. Já os pedidos de trabalho não comerciais, o tipo de vídeo pelo qual o Cameo é mais conhecido, custam em média US$ 70. O Cameo recebe comissão de 25% sobre qualquer trabalho, e o restante vai para o artista.

Galanis compara a oportunidade criada pela greve para o Cameo ao período de tempo no início da pandemia quando, como ele disse, "todas as outras fontes de receita meio que secaram", para atores e outros artistas. "Espero que a greve termine amanhã", disse ele. "Mas, se isso não acontecer, estaremos aqui."

Em 18 de julho, dias depois que o sindicato dos atores entrou em greve, o Cameo anunciou uma rodada de demissões, que aconteceu pouco mais de um ano depois que a empresa demitiu 87 funcionários, em maio de 2022. Galanis se recusou a comentar sobre o número de pessoas afetadas pelas recentes demissões ou sobre o número de pessoas que agora trabalham no Cameo.

Alguns atores que voltaram a usar o serviço depois da greve disseram que ganhar dinheiro não foi o único motivo pelo qual retornaram. Christa Allen, que trabalhou na série de TV "Revenge" e no filme "De Repente 30", disse que o Cameo oferece uma oportunidade de interagir com os fãs em um momento em que ela está fazendo menos aparições públicas.

"Não somos nada sem nossos fãs", diz a atriz. O Cameo, acrescenta, permite que os atores "se conectem com as pessoas que os amam e que apoiaram suas carreiras em um momento em que eles não estão na mídia tradicional".

Allen, de 31 anos, que usa o nome artístico Christa Belle, reativou sua conta no Cameo durante a greve depois de usá-la esporadicamente desde 2017. Ela cobra US$ 75 por trabalho e disse que ganhou cerca de US$ 1 mil até o momento.

"O Cameo não é algo que eu considere lucrativo", diz.

Tradução Paulo Migliacci

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