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Sem coração de pedra, a bela Gal Gadot é o melhor do filme 'Agente Stone'

A atriz e o longa-metragem não vão além das sequências de ação heroica e tentativa de papo cabeça roda à parte da ação

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Como é de se esperar, o melhor em "Agente Stone" é Gal Gadot, pela beleza e pelo sorriso maroto. Só que ela e o filme não vão além das sequências de ação heroica. Contudo, o que chama a atenção é a tentativa de um papo cabeça, que infelizmente roda completamente à parte da ação. Discurso, ou "mensagem", e narrativa não se misturam, o que é a maior deficiência do filme. A outra é não aproveitar melhor o sorriso, a leveza irônica de Gadot.

No título em inglês "Heart of Stone" significa coração de pedra, e Gadot se chama Rachel Stone. Há um cérebro, misto de hipercomputador e de figura espiritual, que processa trilhões de dados e quer manter a paz no mundo, para o que conta com uma equipe de egressos de serviços secretos de potências inimigas, mas que se reuniram –os egressos– em prol da paz.

Mulher branca de cabelos escuros sentada com machucados nos braços
Gal Gadot no papel de Rachel Stone em 'Agente Stone' - Robert Viglasky/Divulgação

O cerne dessa figura que reúne saber e ética é chamado de Coração. Obviamente, a turma do mal quer tomar o Coração para mandar no mundo. O chefe ou talvez único personagem do Mal diz que quer fazer o bem, mas na verdade deseja apenas ter poder.

No plano do discurso, há várias discussões. Uma delas é sobre a moral utilitarista, que é a da Carta –a organização que detém o Coração, para a qual Stone trabalha em segredo. "Os fins justificam os meios", diz sua chefe, que por alguma razão se chama Nomad, que luta pelo máximo de vidas salvas em comparação com vidas perdidas.

Fica implícito que, quanto mais vidas forem salvas, melhor será, mesmo que custem mortes. É a moral dos utilitaristas britânicos, que não hesitavam em considerar ético matar um, para salvar cinco. Essa, acrescento, é a moral dos melhores estadistas, e na prática a de quase todos nós –embora relutemos muito em admitir que ela implique danos colaterais, isto é, vidas sacrificadas.

O Coração é um misto de máquina (ou aplicativo –um software tão poderoso que é hard) e de médium, como se vê do ator que o decifra e que gesticula sem parar. Ele prevê o futuro, graças à Inteligência Artificial. Fica tudo misturado: o que é mediunidade, o que é IA? Não por acaso, o filme lembra "Minority Report - A Nova Lei", que tinha médiuns que anteviam futuros crimes, com vistas a impedi-los.

Rachel Stone defende outra moral. Não aceita as perdas de vidas. Nisso, apesar de ser britânica a personagem, ela recicla o velho ideal do cinema americano, com o heroísmo do indivíduo contra o "Sistema", seja este o das agências secretas nacionais, seja o da própria (e alternativa) Carta.

As metáforas –a partir dos nomes Coração e Pedra– são muitas, mas mal trabalhadas. A certa altura, Stone diz que devia "ouvir o Coração", o que ela talvez não tivesse feito. Aí ela muda de atitude. Sua chefe, a racionalíssima Nomad, no começo do último ato do filme diz que é preciso ter fé. Isso, logo depois, ao falhar tudo o que é elétrico ou eletrônico, de Nomad recorrer ao telefone fixo, resquício e símbolo de uma tecnologia antiga.

Mas, em seguida, discute com Stone, dizendo para não confiar em determinada pessoa, ao que Stone retruca: pois eu acredito. Lembremos que ter fé é igual a acreditar, que é igual a confiar. E fé não é algo racional, como dizia o padre da Igreja que afirmou "credo quia absurdum", ou seja, acredito porque é absurdo. Se não fosse absurdo, não acreditaria, teria certeza.

Assim, a fé, a moral não utilitarista, triunfa da racionalidade com vistas a resultados, instrumental. O coração fica pertencendo a Stone, a agente. Que, claro, tem coração. Em suma, o Coração, o "core" da máquina/mediunidade que é todo poderosa –mas que, no fim, é apenas um instrumento, podendo ser usado para o bem como para o mal– é tomado por Rachel Stone.

O amor triunfa. Não um amor sexuado, mas um amor/amizade, um amor mais ágape do que Eros. A vitória e o finale se dão quando fica claro que o coração de Gadot não é de pedra, longe disso. Stone é apenas um nome.

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