Bienal Sesc de Dança celebra diversidade de ritmos e corpos em nova edição

Com apresentações em Campinas e São Paulo, festival traz coreógrafos de nove países e tem mais de 60 atividades

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São Paulo

O cearense João Paulo Lima não tem a perna esquerda. No lugar, existe uma prótese metálica. Seu torso é coberto por uma camisa preta e transparente, que deixa ver o seu peitoral. Na altura do ombro, duas faixas de couro remetem à estética bondage.

Espetáculo 'Clamores', na Bienal Sesc de Dança - Youssef Iskandar/ Divulgação


Em "Devotee", espetáculo incluído na 13ª Bienal Sesc de Dança, que começa nesta quinta-feira, dia 14, Lima tematiza a atração sexual por pessoas com deficiência, o chamado devoteísmo. Ele questiona, assim, os conceitos de belo e feio, que historicamente definiram os corpos dignos de entrar em cena.


"A Bienal é um catalisador da dança contemporânea, quisemos trabalhar com a diversidade estética e abarcar diferentes corpos", afirma Talita Rebizzi, uma das organizadoras do festival.

Essa proposta vai ao centro da linguagem contemporânea da dança, um ato de desagravo ao balé clássico. A fluidez formal das coreografias e a liberdade de gênero dos bailarinos se contrapõem aos passos do balé.


Até o dia 24 deste mês, Campinas, no interior paulista, vai sediar, em diferentes espaços, 60 atividades envolvendo a Bienal, entre performances, espetáculos e instalações. São obras de nove países e de 12 estados brasileiros. Seis espetáculos estrangeiros vão estrear durante a Bienal.


É o caso de "O Sacrifício", da artista sul-africana Dada Masilo, uma coreografia que já esteve nos principais palcos da Europa. Masilo funde "A Sagração da Primavera", de Igor Stravinski, à dança tswana, típica da Botswana. Musicalmente, a violência do compositor russo se soma aos ritmos tradicionais africanos.


Por isso, os bailarinos usam sobretudo braços e pernas, para marcar os compassos. "Masilo olha para a história da dança e inclui corpos negros num contexto em que antes apenas pessoas brancas mostravam a sua arte", diz Rebizzi.


A exemplo de "O Sacrifício", o solo "Clamores", de Mithkail Alzghair, bailarino sírio refugiado na França, e "O Êxtase", do americano Jeremy Nedd têm sessões em unidades do Sesc na capital paulista.

Entre as atrações nacionais apresentadas em São Paulo, se destaca "A Beleza Revela-se Acessória", do bailarino brasileiro transmasculino Pol Pi, que criou a obra refletindo sobre a troca de cartas entre o
compositor alemão Paul Hindemith e a bailarina Dore Hoyer, também da Alemanha.


No que se refere aos padrões corporais, a crítica não se aparta do próprio universo da dança. "Corpos Velhos – Para que servem?", de Luis Arrieta, questiona a brevidade da carreira dos bailarinos. Com a idade, muitos deles deixam de se apresentar e se tornam professores, num processo de descarte.

Durante a criação da coreografia, Arrieta se juntou a expoentes da dança brasileira, como Marika Gidali e Décio Otero, para investigar as potencialidades do corpo idoso.

"Não sei se é uma denúncia ao etarismo, mas a coreografia busca mostrar a arte que as pessoas mais velhas podem desenvolver, afirma Rebizzi.

Bienal Sesc de Dança

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