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Chico Felitti investiga caso de influenciadora acusada de tráfico humano em 'A Coach'

Para o jornalista, caso de personagem que se inspirava em Bolsonaro e João de Deus inicia debate sobre redes sociais

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São Paulo

"O inverno em Bangu é uma fraude. Faz mais de 30 graus às duas da tarde do segundo dia de agosto quando eu chego a uma cadeia neste bairro do subúrbio carioca." O jornalista Chico Felitti começa assim seu novo podcast, "A Coach", com uma fórmula já conhecida por quem acompanhou seus outros trabalhos investigativos. Como em "A Mulher da Casa Abandonada" e o mais recente "O Ateliê", ele leva o ouvinte junto consigo para dentro da história.

Em sua ida ao presídio, após descobrir um pouco sobre como as coisas funcionam por ali, a audiência descobre quem será o novo alvo do faro do investigador. No programa, produzido junto à Wondery —estúdio de podcasts da Amazon—, Felitti quer reconstruir a trajetória de Katiuscia Torres Soares, 35, também conhecida como Kat Torres ou Kat A Luz.

Arte do podcast 'A Coach', de Chico Felitti
Arte do podcast 'A Coach', de Chico Felitti - Divulgação

Kat Torres, influenciadora digital que dizia ser guru espiritual, começou a ser investigada quando amigos e parentes de uma de suas supostas vítimas estranharam seu completo isolamento após a jovem ser levada para morar com ela. O comportamento inesperado motivou um boletim de ocorrência por suspeita de tráfico humano e o início de uma campanha na internet. A advogada Gladys Pacheco reuniu esta e mais de dez outras denúncias de pessoas que dizem ser vítimas da influenciadora.

Kat Torres foi presa nos Estados Unidos em novembro de 2022 por estar ilegalmente no país. No Brasil, sua prisão preventiva foi decretada pela 5ª Vara Federal de São Paulo, e a medida foi cumprida no dia 18 de novembro. Agora, ela aguarda seu julgamento.

A história de Kat A Luz começou muito antes, no entanto. A influenciadora já tivera uma carreira como modelo, havia sido declarada amante de Leonardo DiCaprio após sair em uma foto com o ator e tinha figurado no clipe de umas das faixas oficiais de um "Velozes e Furiosos", entre outros feitos. Para Felitti, é claro que ela tinha algum talento.

O podcast mostra uma trajetória alimentada por semiverdades. Através de distorções, Kat Torres cultivou diversas carreiras bem-sucedidas, numa trajetória que o jornalista associa ao clichê do "jeitinho brasileiro".

"Cada lugar que eu ia e começava a entrevistar as pessoas era uma grande surpresa. Em Los Angeles tinha o boato de que ela tomava Ayahuasca. Daí eu chego em Los Angeles e não só se confirma que ela tomava Ayahuasca numa mansão com grandes figurões e figuronas de Hollywood, como isso rendeu um emprego em 'Velozes e Furiosos'. É só um dos exemplos de quão frondosa e completamente surreal foi a trajetória dessa pessoa até aqui."

Se "A Mulher da Casa Abandonada" teve como pano de fundo a escravidão moderna, o jornalista acredita que "A Coach" diz muito sobre nossa relação com as redes sociais.

Acho que a grande discussão que existe por trás é se ainda acreditamos nas redes sociais. Elas já estão mocinhas, acabaram de fazer uma festa de 15 anos e agora vão tirar carteira de motorista", brinca.

"Por que a gente acredita que tudo que está ali é verdade? Como a gente deposita tanto do nosso poder e do nosso dinheiro em cima desses hologramas que não existem de verdade? Porque a Kate Torres é isso, uma criação. No podcast, o ex-marido dela chega a dizer que ela admirava o João de Deus, o Bolsonaro e o Trump porque eles eram capazes de manipular as pessoas através da internet."

A Coach

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