Descrição de chapéu China

Ivan Lins lança 'My Heart Speaks' e diz que Lula na China o deixou emocionado

Compositor demorou para perceber que 'Um Novo Tempo', de sua autoria, havia sido escolhida para recepção do presidente

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Rio de Janeiro

No último dia 14 de abril, o cantor e compositor Ivan Lins estava diante da TV, quando alguns acordes musicais entoados pela banda militar chinesa lhe pareceram familiares. "Eu conheço essa música, parece ‘Um Novo Tempo’."

Retrato de Ivan Lins
Retrato de Ivan Lins - Rodrigo Simas/Divulgação

Não parecia, era a canção de sua autoria –"Um novo tempo/ apesar dos perigos"–, escolhida pelo governo chinês para ser tocada logo após o hino nacional brasileiro para simbolizar um novo tempo nas relações Brasil-China, após os turbulentos anos Bolsonaro, em visita do presidente Lula ao país.

"Até a ficha cair, estava achando que era plágio. Aí fiquei emocionado. Eu amo meu país."

A escolha do compositor não é mero acaso. Lins é hoje um dos brasileiros mais gravados do mundo. Estima-se que só perca para o maestro Tom Jobim, mas ele tem suas dúvidas. "Isso apareceu no ar. Não que eu não goste de ouvir isso", diz.

De todo modo, desde que a cantora Ella Fitzgerald, em 1972, gravou "Madalena", o músico só cresceu na cena internacional. Agora, lança "My Heart Speaks", seu primeiro álbum em sete anos, gravado "como os de antigamente". O álbum foi concebido aos poucos ao lado do produtor e dono do selo Resonance Records, George Klabin, e do arranjador Kuno Schmid.

O compositor carioca havia feito um comentário acerca de outro álbum da dupla. Schmid, que gostava muito de sua música, ligou para agradecer. "Deixei uma deixa, para ser simpático: ‘Quem sabe um dia a gente faz um disco juntos?’", conta Lins.

Foi o começo de tudo. O arranjador alemão foi até George Klabin, que lhe fez a oferta. "Você não quer fazer um disco com os arranjos do alemão?" Habituado à nova realidade do mercado fonográfico, mesmo para nomes como ele, o compositor carioca respondeu: "Esse disco vai ficar muito caro."

Klabin, proprietário da Resonance Records, principal selo de jazz independente no mundo, disse que dinheiro não era o problema. "Ele é superdedicado ao jazz. No começo de carreira, era engenheiro de som, trabalhava em casas noturnas e costumava gravar [os shows]. Começou a ganhar dinheiro [vendendo essas gravações] e se deu bem. Ele é rico e adora gastar dinheiro com o que ele acha bonito", diz Lins.

Criada em 2008, a Resonance já lançou edições especiais de materiais recém-descobertos de nomes como John Coltrane e Stan Getz. O compositor carioca mandou uma lista com 30 músicas de seu repertório, reduzidas às 11 que compõem o disco.

"Renata Maria", parceria sua com Chico Buarque, foi mantida em português. "Corpos", sobre o período ditatorial, com letra de Vitor Martins, um de seus principais parceiros, foi vertida para o inglês. Assim como "Anjo de Mim", que no álbum tem o título de "I’m Not Alone" e é interpretada pela cantora Tawanda.

"The Heart Speaks", feita a partir de uma poesia da letrista Ana Terra, é inédita. "Achei numa fita cassete e mandei", diz Lins. A canção é interpretada por Dianne Reeves. A cantora e compositora Jane Monheit é a responsável pela adaptação desta canção e de "Rio de Maio", interpretada por ela mesma.

Foram seis meses para Schmid compor os arranjos, cujas bases foram gravadas em Los Angeles. A banda reúne músicos do Uruguai, Cuba, Brasil e Estados Unidos. "Depois, a agente alemã que contrata minhas turnês na Europa sugeriu a orquestra sinfônica na Geórgia. Fizemos um concerto sem cobrar. A orquestra não custou nada."

Lins vive hoje entre o Rio e Lisboa, sua base para turnês no exterior. Apresentou-se na primeira edição do The Town, em São Paulo, ao qual só tem elogios. "Fiquei impressionado com a capacidade que a gente tem de produzir eventos internacionais de grande porte, com muita habilidade."

É o compositor chegando às novas gerações, o que atribui aos shows que realiza em praças públicas e pelas periferias e subúrbios do Brasil. "Esses shows são os melhores, há pessoas de todas as raças, classes sociais, idades, as pessoas adoram."

Num desses shows ganhou um novo fã, que veio abordá-lo em certa ocasião. O garoto havia descoberto sua música entre os oito e nove anos. Onde? "Você estava fazendo o show numa praça, e eu estava na janela da casa da minha avó", disse. Começou a ouvir e não parou mais.

My Heart Speaks

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