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Exposição de Laura Lima tem 'discos voadores' criados com pratos de comida

Artista mineira mostra na galeria Luisa Strina, em São Paulo, conjunto de 'assemblages' com referências de ficção científica

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São Paulo

Um disco voador recebe quem visita a galeria Luisa Strina, em São Paulo. Dois pratos de comida emborcados um sobre o outro, flutuando no espaço presos por um cabo ligado ao teto, formam uma pequena escultura que lembra o tema de fascínio dos filmes de alienígenas.

Se a obra de Laura Lima —parte de sua exposição "A Viagem d_s que Não Foram", em cartaz até 21 de outubro—, tem algo de rudimentar e de improviso, não é por acaso. A artista diz ter se inspirado nos filmes precários de ficção científica de Ed Wood, cineasta americano conhecido por seus longas de baixo orçamento, para criar os onze trabalhos da mostra, todos intitulados "disco voador".

Obra de Laura Lima
Obra da série 'Disco Voador', de Laura Lima - Edouard Fraipont/Divulgação

No espaço expositivo, vemos "assemblages" compostas pela amarração de objetos de metal, como ralos de pia, colheres, parafusos, porcas e chaves de fenda, a outros de vidro e cerâmica, como copos americanos e pratos de porcelana. São louças tipicamente brasileiras, ou "o prato de PF do trabalhador, as compoteiras de tia", diz a artista.

As esculturas ficam presas ao teto por molas que se movimentam delicadamente, e o resultado é um conjunto de obras que transporta o espectador ao ambiente doméstico, pela familiaridade dos objetos, mas que também causa estranheza, porque tudo flutua.

"A louça doméstica é a referência da conquista do espaço", afirma Lima, ao apontar que disco voador em inglês, "flying saucer", significa "pires voador" em tradução literal. "Parece que as obras voam, mas elas ainda estão por voar."

As esculturas da terceira exposição da mineira na galeria paulistana são o desdobramento de um trabalho que ela executou pela primeira vez em 2019, "Balé Literal", que consistia numa série de objetos enviados de uma janela a outra, em imóveis nos dois lados da rua, presos por fios e movimentados por um sistema de roldanas impulsionado por uma pessoa de bicicleta.

Bandeiras, fotografias, coxinhas de frango, copos com pinga e até um peixe foram defenestrados a partir da sede da sua galeria no Rio de Janeiro, A Gentil Carioca. Um desses objetos era justamente o disco voador feito com pratos.

Apesar de parecerem enjambradas, as esculturas expostas têm um trabalho intrincado de feitura, que fica evidente nas conexões entre as dezenas de objetos pelos quais cada uma é formada. Lima conta ter tido a ajuda dos hippies que têm banquinhas de rua perto de seu ateliê, na Lapa carioca. Ela os contratou para que soldassem as peças umas nas outras e fizessem suas "pequenas gambiarras".

Sobre o universo referencial dos trabalhos, e sobre as obras da mostra em si, a artista diz que "tudo constrói uma beleza desse tempo". "São tempos estranhos. Ainda bem, né? Se não fossem, talvez fossem desinteressantes."

A Volta d_s que Não Foram

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