Show de Roger Waters em Brasília desfila hits e evita polêmica sobre nazismo

Fundador do Pink Floyd fez a primeira apresentação de sua turnê de despedida, 'This is Not a Drill', no Brasil

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Brasília

Roger Waters desfilou hits do Pink Floyd e fez críticas a violações de direitos humanos em show nesta terça-feira (24), no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Esta é a primeira apresentação da sua turnê de despedida, "This is Not a Drill", no Brasil. Ele ainda passa por São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba.

Com uma obra bem conhecida pelo público, o artista abriu com uma versão mais lenta e sombria de "Comfortably Numb" e seguiu com hits como "Another Brick in the Wall" e "Wish You Were Here" —e também trouxe para o espetáculo canções que não são as mais consagradas do repertório da banda e da carreira solo.

O cantor britânico Roger Waters durante show da turnê "This is Not a Drill", em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Os posicionamentos já conhecidos de sua obra —contra o capitalismo e o fascismo, por exemplo— foram costurados por histórias mais pessoais que imprimiram um tom nostálgico ao show e cortaram o ritmo de apresentação das músicas em alguns momentos. Ele lembrou em textos nos telões Syd Barrett, fundador do Pink Floyd que deixou a banda em 1968 por conta de problemas de saúde mental, e também homenageou seu irmão e sua mulher.

Embora tenha começado o show com um aviso de que falaria de política, Waters evitou na primeira metade do show posicionamentos mais contundentes sobre a guerra de Israel contra o Hamas. Ele mencionou o assassinato de um palestino entre uma série de mortes arbitrárias no mundo todo, fora do contexto do conflito atual —o Rio de Janeiro apareceu entre os locais de denúncia do artista.

Waters ainda chamou presidentes americanos —passando por Obama e Trump— de criminosos de guerra. Em outra série de críticas exibidas nos telões do show, reivindicou os direitos humanos de palestinos, indígenas, transsexuais e outros grupos vítimas de violência.

O posicionamento mais vocal foi sobre a Guerra da Ucrânia. "Seria uma ótima ideia se Joe Biden, Vladimir Putin e Zelensky, se necessário, se juntassem no bar, conversassem e se entendessem", disse ele, já se encaminhando para o fim da apresentação.

Era uma referência a uma composição mais recente que ele tem apresentado na turnê, "The Bar", que Waters define como um lugar "em que se pode conversar, conhecer desconhecidos, sem ser cancelado ou preso" —e que era esse o clima que queria criar nesta noite.

Ele não usou o traje semelhante aos uniformes nazistas que causou polêmica antes da turnê chegar ao país. Em junho, o advogado Ary Bergher, vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil, entrou com uma ação contra o cantor para que ele fosse impedido de ingressar no país e realizar os shows previstos para outubro e novembro.

A ação foi motivada por Waters vestir uma roupa de cor preta e braçadeiras vermelhas com um emblema que lembrava a suástica. No pedido, Bergher e duas advogadas solicitavam escolta policial em eventuais apresentações do artista.

Após saber que era investigado pela polícia alemã pelo mesmo motivo, Waters se pronunciou. "Os elementos de minha performance que foram questionados são claramente uma declaração em oposição ao fascismo, injustiça e fanatismo em todas as suas formas", disse ele.

"As tentativas de retratar esses elementos como algo diferente são dissimuladas e politicamente motivadas. A representação de um demagogo fascista desequilibrado tem sido uma característica dos meus shows desde 'The Wall' do Pink Floyd em 1980’."

Na ocasião, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino afirmou que apologia ao nazismo é crime no Brasil, mas descartou censura prévia aos shows. "É regra geral que autoridade administrativa não pode fazer censura prévia, sendo possível ao Poder Judiciário intervir em caso de ameaça de lesão a direitos de pessoas ou comunidades", escreveu em publicação no X, o ex-Twitter.

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