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'Vampira Humanista' é joia leve e divertida da Mostra de Cinema de SP

Longa canadense tem a despretensão como maior trunfo e leva horror e acidez para uma história de romance adolescente

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Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário

  • Quando 29.out, às 15h30, no Espaço Itaú de Cinema - Augusta, e 31.out, às 19h, na Cinemateca
  • Onde Mostra de Cinema de São Paulo
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Sara Montpetit, Félix-Antoine Bénard e Noémie O'Farrell
  • Produção Canadá, 2023
  • Direção Ariane Louis-Seize

O cinema tem uma sede voraz por vampiros, que podem até alterar sua forma, mas nunca saem de moda nas telas. Tanto que só na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece na capital paulista até o dia 1° de novembro, são dois os longas que tomam as criaturas como personagens.

"A Mordida", do francês Romain de Saint-Blanquat, acompanha uma estudante católica que, convencida de que está em seu último dia de vida, foge do colégio rumo a uma festa que tem como anfitrião uma figura trevosa. Mas é outro título, "Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário", que finca suas presas no tema de forma mais escancarada.

Cena do filme "Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário", de Ariane Louis-Seize
Cena do filme 'Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário', de Ariane Louis-Seize - Pavlin Shawn/Divulgação

Uma daquelas gratas surpresas da Mostra, que com sua seleção que ultrapassa os 300 filmes tem títulos menores que conseguem se firmar como destaques apenas pelo boca a boca, o longa canadense é deliciosamente despretensioso, distante das narrativas mais cabeçudas que formam a parte mais estrelada desses eventos.

Nem por isso deixa de ter algo a dizer. Por meio do encontro entre a comédia romântica e o "coming of age", subgênero sobre as agruras e os prazeres do amadurecimento, "Vampira Humanista" faz uma leitura afiada e leve de uma juventude caída em desilusão, inconformada com o mundo à sua volta, embora melancólica demais para reagir.

Dirigido por Ariane Louis-Seize, o filme foi premiado no Festival de Veneza com quatro láureas paralelas, incluindo a Jornada do Autor, destinada a produções independentes de cineastas em início de carreira.

"Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário", como seu título sugere, bebe do absurdo para narrar a história de uma vampira que não consegue matar.

Ela se alimenta de saquinhos de sangue, que sua mãe abastece sempre que faz uma nova vítima –mas ela cansou de caçar para os outros e manda a jovem para a casa da prima durona. Lá, correntes na geladeira impedem que a jovem Sasha fique com os restos.

Enquanto a prima sai para flertar e traz para casa rapazes apalermados que logo viram presas, a adolescente fica cada vez mais enojada com aquele estilo de vida predatório, até que encontra um humano com pensamentos suicidas. É com ele que ela consegue, pela primeira vez, pôr seus dentes para fora. Daí nasce uma relação estranhamente adorável, centrada em dois personagens adoravelmente estranhos.

Sasha e Paul são desajustados e vivem assombrados pelo fato de não serem compreendidos por ninguém. É um tema clássico dos filmes adolescentes, mas que ganha contornos originais graças ao roteiro afiado escrito por Louise-Seize em parceria com Christine Doyon.

Com um humor ácido, o filme vai dissecando os personagens e seu estilo de vida, como na divertidíssima cena de abertura, um flashback que mostra a protagonista ainda criança recebendo em seu aniversário um palhaço –contratado pela tia, que está mais interessada em tirar proveito, ela própria, do presente.

Ou quando Sasha e Paul estão sentados desconfortavelmente na cama da primeira, ao lado um do outro, sem saber muito bem quais são os próximos passos daquela interação –no roteiro, uma mordida, mas no subconsciente, claro, um despertar sexual desajeitado.

"Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário" tampouco é leviano ao tratar de depressão ou suicídio. A lente com a qual os observa pode até ser mais colorida que a seriedade desses temas ou um filme de horror pedem, mas há cuidado e delicadeza na abordagem original e que deve soar bastante relacionável.

Um filme que dá vontade de ver e rever, "Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário" entra para o hall de tramas de vampiro que fogem do óbvio com maestria, misturando o tom existencialista do ótimo "Amantes Eternos", de Jim Jarmusch, à rebeldia juvenil de "Os Garotos Perdidos", de Joel Schumacher, e ao humor sagaz de "O que Fazemos nas Sombras", de Taika Waititi.

E, assim como eles, há enorme potencial para se tornar um clássico cult com o passar do tempo, por mais insignificante que o tempo seja para os vampiros.

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