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Filmes guerra israel-hamas

Assassinato de Yitzhak Rabin é definitivo para o cinema de Amos Gitai

Longa reconstitui com detalhes a morte do premiê israelense que buscava, nos anos 1990, a paz entre Israel e Palestina

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O Último Dia de Yitzhak Rabin

  • Quando Estreia nesta quinta (2) nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Ischac Hiskiya, Pini Mitelman, Tomer Sisley
  • Produção Israel, França, 2015
  • Direção Amos Gitai

De Yitzhak Rabin pode-se reter de cara uma frase antológica, ao responder a um indignado israelense que o acusava de "fazer a paz com nossos inimigos". "Mas com quem eu deveria fazer a paz? Com nossos amigos?", respondeu.

O fato é que Rabin, malgrado a fama de herói militar e malgrado o Nobel da Paz, acabou assassinado em 4 de novembro de 1995 por um judeu ortodoxo. Sua morte acabou com a esperança de conciliação com os
palestinos, mas também com o projeto do cinema de Amos Gitai, que consistia em fazer filmes que ajudassem a tornar viável o entendimento de Israel com os palestinos.

Cena do filme 'O Último Dia de Yitzhak Rabin', dirigido por Amos Gitai
Cena do filme 'O Último Dia de Yitzhak Rabin', dirigido por Amos Gitai - Divulgação

"O Último Dia de Yitzhak Rabin" é um filme de 2015, que só agora chega ao Brasil. E, diga-se, o momento é oportuno, pois traz à tona a hipótese —como seria o conflito entre Israel e Palestina sem o assassinato de Rabin?

Para Gitai, o tema é uma obsessão, pois seu cinema também perdeu seu eixo depois da morte de Rabin. Errou entre tentativas de compreender Israel e a própria condição judia, a possibilidade de convivência entre israelenses e palestinos. De um modo geral, se enfraqueceu.

Para voltar a Rabin, Gitai não hesitou em recorrer seja ao documentário, seja à minuciosa reconstituição do processo que se seguiu à morte de Rabin. O processo é um paradoxo, e o cineasta insiste sobre o ponto, deixando no ar a questão —o que significa um comitê que tem a missão de descobrir o que falhou na proteção ao primeiro-ministro naquele dia em que foi baleado três vezes, mas não pode, por lei, deter-se sobre as razões políticas do atentado?

Razões políticas e religiosas, diga-se. Pois a oposição a Rabin, aqueles que o mais combatiam os Acordos de Oslo (firmados em 13 de setembro de 1995), eram justamente os religiosos ortodoxos, também líderes dos assentamentos na Cisjordânia —na verdade, usurpação de terras palestinas a pretexto de algum preceito bíblico.

E Gitai não se exime de dar seu ponto de vista: por trás dos religiosos, ou ao seu lado, estava o líder da oposição e hoje primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Os religiosos ascendem com ele, após a morte de Rabin.

Essa genealogia do assassinato é reconstituída minuciosamente, mesmo naquilo que tem de vazio (o processo posterior quase inteiro), o que poderá soar um tanto inútil ao espectador ocidental, não diretamente ligado às questões políticas internas de Israel. Talvez, de fato, as duas horas e meia pudessem ser reduzidas e garantir um maior público para o filme.

No entanto, esse é o ponto de Gitai. Para compreender o sonho e o modo de agir da extrema direita e dos ortodoxos de Israel, é preciso deter-se sobre os fatos, pois seu pensamento, assim como suas atitudes desembocam, aos olhos de Amos Gitai, na ideia da Grande Israel —ou seja, de impedir a fixação dos palestinos em Gaza e Cisjordânia para, progressivamente, tomar conta de suas terras.

Pode-se concordar ou não com esse ponto de vista, mas não se pode negar a já longa coerência desse pensamento propenso à convivência ao menos tolerante entre esses dois povos, israelenses e palestinos. Ao vencer, porém, a barreira do que o filme traz de meticuloso, pode-se descobrir muita coisa sobre certos desarranjos do mundo atual —entenda-se, não só do Oriente Médio.

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