Nano Art Hub, nova feira de arte em shopping center, quer desmistificar o mercado

Evento no Lar Center tem obras de até R$ 80 mil e quer atingir compradores de bairros de São Paulo sem galerias e museus

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São Paulo

Que muitos colecionadores compram pinturas para enfeitar as paredes de seus apartamentos, todos sabem, mas não pega bem dizer que a escolha de uma tela se deu em função das cores do sofá. Agora, uma nova feira de arte em São Paulo quer quebrar este paradigma, associando obras de arte à decoração ao convidar o público a investir numa fotografia, por exemplo, assim como numa poltrona.

Com trabalhos de valores não tão estratosféricos para os padrões do mercado, a Nano Art Hub vai ocupar por três meses, a partir desta quarta-feira (8), uma área no shopping de decoração Lar Center, na zona norte da capital paulista. Serão 27 galerias de quatro estados brasileiros —das quais 23 de São Paulo—, de pequeno ou médio porte, comercializando obras com valor máximo de R$ 80 mil.

Obra de Alberto Pitta, da Carmo Johnson Projects
Obra de Alberto Pitta, da Carmo Johnson Projects, que estará na feira Nano Art Hub - Divulgação Carmo Johnson Projects

Desta forma, nomes fortes como Amilcar de Castro, Volpi e Adriana Varejão, comercializados por centenas de milhares ou até alguns milhões de reais na SP-Arte, a maior feira do país, marcam presença no novo evento com múltiplos, isto é, obras de menor valor e tiragem em série.

Outra novidade em relação às feiras de arte tradicionais, que em geral se estendem por quatro ou cinco dias, é a duração. A Nano Art Hub vai se alongar por três meses, com as galerias funcionando como lojas pop-up e trocando os artistas expostos de tempos em tempos. Neste período, é possível também que alguns expositores saiam e novos entrem.

Karla Osório, da galeria de Brasília que leva o mesmo nome, diz que não acha shopping o lugar adequado para arte, mas topou participar para mostrar os artistas que representa para um público que de outra maneira não os veria. A Nano Art Hub ficará numa área sem galerias e museus e distante das regiões dos Jardins, do Itaim Bibi e da Barra Funda, onde boa parte dos marchands e dos compradores está.

"Teoricamente eu não participaria de um evento pequeno assim, porque a gente já faz feira no mundo todo hoje. Eu não considero isso uma feira, é um evento que amplia o mercado e leva arte contemporânea para uma região de São Paulo que nunca teve", ela afirma. Sua galeria mostrará obras com valores entre R$ 15 mil e R$ 35 mil, dentre as quais pinturas de Alexandre Furcolin, artista que publicou um livro sobre São Paulo pela Louis Vuitton.

Um dos atrativos para os galeristas, afirma Marga Pasquali, da Bolsa de Arte, é o fato de não ser preciso pagar aluguel pelos estandes, como nas outras feiras. Ela conta que, em 2019, quando participou da SP-Arte pela última vez, desembolsou mais de R$ 100 mil pelo espaço.

Mas o espaço expositivo, obviamente, não sai de graça. A Nano Art Hub fica com comissão de 20% sobre todas as obras comercializadas. Isto acontece porque as vendas são efetivadas pelo site da feira, que já funciona normalmente como uma loja com obras de arte, em que é possível comprar uma pintura, por exemplo, com poucos cliques, sem passar por um galerista. O evento oferece aos expositores a montagem dos estandes, o manuseio, o empacotamento e a entrega das obras para os clientes.

"Você não fica com a preocupação de ter que vender uma fortuna para sair sem prejuízo. Aqui, se não vender, eu paguei funcionários, divulguei a galeria, fiz uma tentativa", afirma Pasquali, acrescentando que mostrará múltiplos de Nelson Leirner, fotos de Andre Lichtenberg, esculturas de Hugo França e trabalhos de Eduardo Haesbaert, ex-assistente de Iberê Camargo.

Janaina Torres, da galeria de mesmo nome, pondera que, como o preço das obras em geral não é tão alto, o modelo de comissão se torna atrativo para os marchands, o que não seria o caso se os trabalhos mostrados fossem bem mais caros, como acontece na SP-Arte, na ArtRio e na ArPa. Torres vai exibir fotografias de Feco Hamburguer, pinturas de Pablo Ferretti e gravuras de Kika Levy, com preços entre R$ 3.000 e R$ 20 mil.

Foto de Feco Hamburger da série 'Noites em Claro', artista da galeria Janaina Torres
Foto de Feco Hamburger da série 'Noites em Claro', artista da galeria Janaina Torres - Divulgação Janaina Torres galeria

A feira é uma iniciativa do galerista Thomaz Pacheco, dono da OMA galeria, que abriu originalmente em São Bernardo do Campo mas depois se transferiu para a região dos Jardins, em São Paulo. Uma de suas preocupações é desmistificar o mercado de arte, tido por muitos como impenetrável e classificado por ele como "uma caixa preta". Por isso a política de preços nos expositores da Nano Art Hub será transparente, com QR codes nas obras que levam para o site onde se pode ver o valor de uma obra.

Além disso, toda a comunicação nas redes sociais da feira é didática e direta, com frases de efeito tipo "comprar obras de arte é investir em crescimento pessoal" e "quem compra obras de arte investe em cultura". "As galerias têm um blasè na forma de comunicar, até no vocabulário que usam, que acaba sendo restritivo", diz Pacheco. "Mas eu não vou ficar rodeando se meu intuito é a venda, é o comércio."

Nano Art Hub

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