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São Paulo Fashion Week volta com marcas pequenas em busca dos holofotes

Com 38 desfiles, semana de moda terá retorno de Helô Rocha e cinco estreias, dentre as quais a hypada Hist, de streetwear

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Look de Renata Buzzo, marca que desfila na São Paulo Fashion Week

Look da nova coleção de Renata Buzzo, marca que desfila na São Paulo Fashion Week Diro Blasco

São Paulo

Uma olhada na lista de marcas que desfilam na edição da São Paulo Fashion Week que começa nesta quarta-feira (8) e se estende até domingo (12) mostra muitos nomes desconhecidos do público.

São etiquetas que produzem peças exclusivas sob encomenda, a exemplo de Renata Buzzo e seus vestidos obras de arte, ou então para uma clientela bem específica, como a Bold Strap e sua moda queer de regatas semitransparentes e arreios de couro de apelo sexual.

Modelo veste look de João Maraschin, marca que desfila na São Paulo Fashion Week
Modelo veste look de João Maraschin, marca que desfila na São Paulo Fashion Week - Angel Castellanos/Divulgação João Maraschin

Das 38 grifes prontas para ocupar as passarelas no shopping Iguatemi, no Komplexo Tempo e em algumas locações externas da capital paulista, apenas um punhado já furou a bolha fashionista, a exemplo da Handred —a marca carioca, com lojas de rua e em vários shoppings, vai mostrar uma coleção inspirada no mestre do móvel moderno Sergio Rodrigues, com peças em couro e patchwork de seda.

Em sua edição de número 56, a São Paulo Fashion Week vive um momento em que algumas etiquetas que atingiram o estrelato com a ajuda das suas passarelas agora lhe viram as costas, como é o caso da super hypada Misci, que mostrou a nova coleção num desfile independente.

Mas isto não impossibilita a existência de uma fila de marcas menores ansiosas por exibir seus looks no evento de maior visibilidade da moda nacional —nesta edição, todos os desfiles são presenciais.

O desejo de fazer parte, diz Paulo Borges, o fundador da semana de moda, acontece porque "a passarela ainda é o grande lugar da narrativa e os desfiles são autênticos".

Segundo ele, ao desfilarem no evento as marcas constroem rapidamente a sua reputação e uma percepção para o mercado, acelerando o crescimento. Borges cita como exemplos mais recentes de ascensão a partir da semana de moda a Handred e também a Neriage, grife conhecida por seus vestidos plissados, e menciona casos de sucesso do passado, como Osklen, Cavalera e Fause Haten.

Borges acrescenta que as marcas jovens de hoje não necessariamente querem uma expansão comercial ilimitada, como era o modelo de negócio da moda nos anos 1990, representado por Forum e Ellus.

"Se você pergunta para os jovens estilistas o que eles buscam, eles falam 'ser feliz'. Eles não precisam ter três lojas. Para ter o reconhecimento do público que eles querem, eles podem customizar a demanda. A [marca] Another Place é um sucesso, e ela não tem uma loja física. Nasceu na internet, onde tem uma penetração e influência enormes."

Sobre as etiquetas estabelecidas que optam por desfilar de forma independente, criando seu próprio calendário de lançamento, Borges afirma que isto é uma decisão de cada estilista e uma maneira de chamar a atenção só para si, como se as marcas não precisassem de mais ninguém e se bastassem.

Cinco nomes estreiam nesta São Paulo Fashion Week —João Maraschin, com vestuário de técnicas manuais como o crochê e o bordado, Mateus Cardoso, que trabalha uma alfaiataria moderna, Artemisi, etiqueta vestida por celebridades como Ludmilla e Luisa Sonza, Sau, de moda praia feminina, e Hist.

A etiqueta da cearense Giuliana Braide, cujo nome é a sigla para "how I see things", ou como vejo as coisas, é uma das estreias mais esperadas. Com menos de três anos de existência e um ponto de venda no bairro paulistano de Pinheiros, a marca conquistou uma clientela de jovens urbanos fissurados pela sua mistura de streetwear e alfaiataria em peças fáceis de usar.

Modelo veste look de coleção da Handred inspirada no designer Sergio Rodrigues
Modelo veste look da Handred inspirado no trabalho do designer modernista Sergio Rodrigues - Demian Jacob/Divulgação

São camisetas, regatas, moletons e jaquetas de caimentos amplos, como manda a cartilha do streetwear. "Fazer modelagem unissex boa é muito difícil", afirma a estilista de 26 anos, formada em negócios de moda em Nova York.

Intitulada "Voyeur", a sexta coleção da Hist é uma narrativa sobre a adaptação e a sobrevivência na Terra, com looks em tons terrosos e ampla linha de acessórios —óculos escuros, seimijoias e bolsas.

Outro desfile sensação é a volta de Helô Rocha, a estilista que ficou pop ao desenhar o vestido de casamento de Janja com Lula e, depois, um dos looks que a primeira-dama usou no dia da posse do presidente.

Na passarela a ser montada no Teatro Oficina, em homenagem a José Celso Martinez Corrêa, que morreu há pouco, o público verá uma retrospectiva de looks da marca nos últimos anos, com foco no carro-chefe —os vestidos.

"A gente faz alta costura à brasileira. Tudo é feito à mão, sob medida. É um trabalho têxtil de crochê, bordados de linha, bordados de pedraria, uma mistura de técnicas de trabalhos manuais", conta Rocha, que capitaneia a marca com sua sócia, Camila Pedroza.

João Pimenta, tradicional designer de moda, conta ter trabalhado bastante a construção das roupas, criando uma estética desconhecida para seu cliente —as peças da nova coleção têm ombros grandes e afunilam como lápis.

"Estamos vivendo um momento da moda em que parece que só o que você quer dizer já é o suficiente. Mas roupa não é só comunicação. É construção, tem o acabamento, a modelagem", ele afirma, enaltecendo o trabalho minucioso de ateliê.

Conceitualmente, Pimenta quer questionar a brasilidade em seu trabalho e, para isso, pensou no barroco e no minimalismo, dois movimentos opostos, na hora de criar os novos modelos, que terão somente três cores —branco, preto e dourado, numa leitura de Brasil longe do ufanismo verde e amarelo.

"A gente está sempre em busca da imagem da moda brasileira, mas não consegue identificar. A roupa francesa e italiana você já fala ‘isso é desse lugar’", ele diz. "A nossa aqui é muito misturada. O que seria uma moda com cara de Brasil?"

São Paulo Fashion Week 56

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