Descrição de chapéu Todas Moda

Semanas de moda matam luxo silencioso com flores, borboletas e dourado

Shorts curtíssimos e sapatos sem salto marcaram os desfiles de Milão, Paris, Londres e Nova York, reinados por febre da Miu Miu

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Borboletas vivas habitavam temporariamente os vestidos da Undercover na semana de moda de Paris Bertrand Guay/AFP

São Paulo

De quieto não sobrou nada. As semanas de moda de Nova York, Milão, Londres e Paris coroaram as tendências para o verão de 2024 e deram fim à febre do luxo silencioso, rescaldo do estouro que foi a série "Succession", da HBO.

Se estavam em voga a discrição, as cores sóbrias e as marcas que não fazem estardalhaço, a temporada primavera-verão dá meia-volta na direção da extravagância, do brilho, do maximalismo e do corpo de fora. E tudo indica que a italiana Miu Miu, vista como irmã mais nova da Prada, é capitã desse navio tanto nas passarelas quanto entre as celebridades.

Irmã caçula da Prada, a italiana Miu Miu continua a apostar em comprimentos curtíssimos com shorts que parecem calcinhas
Irmã caçula da Prada, a italiana Miu Miu continua a apostar em comprimentos curtíssimos com shorts que parecem calcinhas - Julien de Rosa/AFP

A começar pelo repeteco da avalanche de pernas de fora em Paris. A aposta da Miu Miu no inverno de 2023 com shortinhos à la hot pants apareceu de novo em peças igualmente curtas, quase do tamanho de calcinhas —aliás, só sabemos que não eram porque estavam forrados por roupas de baixo de verdade com seus generosos elásticos à mostra.

O tamanico bateu ponto em várias grifes. Stella McCartney, em desfile que homenageou as turnês dos pais Paul e Linda, repetiu sem dó o mesmo modelo de shortinho, em preto e em tons de creme cravejado de pedrarias.

A francesa Balmain colocou as pernas para jogo em vestidinhos e saias pretos, estruturados nos quadris. Fez sua versão do micro short Miu Miu estampado em poás, com complexos bordados florais em pedraria e fundo verde e em nude, sob vestidos vazados que simulam cercas de trepadeiras.

A temática floral —ironicamente— permeou a temporada primaveril de forma bem literal. A Balmain encheu as peças de flores tridimensionais em rosa, branco, vermelho e com acabamentos plastificados que saltavam dos vestidos, blusas e bolsas.

Na passarela da Marni, imperaram vestidos volumosos, longos e curtos, em rosa e laranja, compostos de flores chapadas que saltavam aos olhos em terceira dimensão. Ofuscou os looks mais básicos da coleção. Básico relativo, já que era composto de minissaias volumosas, listras verticais verdes e azuis misturadas com laranja e tubinhos curtíssimos, colados ao corpo.

Chama a atenção, literalmente, a quantidade de brilho. A kitsch Schiaparelli levou bom humor a Paris com detalhes dourados gritantes, caso de um colar de cerâmica gigante em formato de caranguejo que ocupou quase todo o peito da modelo.

Pode parecer que tudo era uma explosão de cor, forma e textura, mas essa extravagância apareceu também em notas delicadas. Foi o caso da coleção de Simone Rocha na semana de moda de Londres, apresentada no English National Ballet.

As camadas finíssimas de tules leves em nudes e pretos faziam casulos etéreos para rosas inteiras. Nas mãos, os modelos carregavam minúsculos bolos brancos de dois andares adornados com pérolas e fitas de cetim, responsáveis pelo brilho.

A delicadeza da transparência apareceu em nota mais melancólica na coleção da Undercover de Jun Takahashi. Shorts se tornavam calças com uma camada fina de tecido que deixava a perna toda à mostra. Bolsos se tornam detalhes indiscretos com mãos repousando ali a olhos vistos.

À la Simone Rocha, o designer usou as camadas de transparência como invólucro para objetos como cartas de baralho, lâminas e borboletas vivas, guardadas em viveiros iluminados costurados nas saias de minivestidos que pareciam um jardim de sonho, permeado pelo luto.

Foi unanimidade nas redes sociais, como a colega irlandesa. O que os dois ofereciam em comum, além do impacto de peças feitas em torno de plantas e animais, era um espetáculo sublime. Longe dos cortes impecáveis e dos tecidos de qualidade inquestionável da "quiet luxury", são roupas feitas para tirar o fôlego.

No entanto, o clássico coringa, marca registrada da moda popularizada com o guarda-roupa da herdeira Shiv Roy, continuou em voga. As camisas foram figurinha carimbada em quase todo desfile: Dries van Noten as apresentou desconstruídas, repletas de detalhes que lembram escamas e visíveis sob a transparência de saias.

A Stella McCartney, por sua vez, acoplou uma espécie de capa bufante no lugar das mangas, mas manteve a estrutura de gola e botões. Tom Ford as combinou, desabotoadas, com ternos de veludo. A Balmain as desfilou com mangas alongadas e punhos exagerados, fórmula potencializada pela Coperni, que ainda ampliou a gola em decotes profundos.

Desfile de Stella McCartney na semana de moda de Paris - Julien de Rosa/AFP

Não faltou uma boa camisa básica até na Miu Miu, a estrela da temporada. Além dos shortinhos microscópicos propostos no inverno de 2023, a italiana cimentou de vez a tendência dos sapatos baixos. Pipocaram alguns saltos, claro, mas sobraram releituras de sapatilhas, rasteirinhas e botas baixas depois que a grife instaurou a sapatilha de balé em seu inverno de 2022.

Não deixa de ser interessante a rápida absorção da tendência por outras etiquetas além da adoção voraz pelo mercado —as celebridades queridinhas da geração Z bateram ponto no desfile, como Sydney Sweeney, de "Euphoria", a influenciadora Emma Chamberlain e a diva do k-pop Yoona, do grupo Girl’s Generation.

A marca mostra na passarela, ao mesmo tempo, o que vai ditar moda, mas parece oferecer uma versão de luxo do que as jovens descoladinhas já usam, caso do top em formato de lenço, as cinturas baixíssimas e as calcinhas aparentes.

Vale mencionar, aliás, que a própria Sydney Sweeney foi ao desfile com um visual de barriga de fora e calcinha branca, Miu Miu, obviamente, para todo mundo ver. A ex-BBB brasileira Boca Rosa, outra convidada, fez a sobreposição de meia-calça, calcinha e microshorts transparente.

Fez barulho, ainda, a estreia do vietnamita Peter Do à frente da Helmut Lang. O designer, pupilo de Phoebe Philo nos tempos de Céline, homenageou Lang sem reciclar suas silhuetas e se inspirou na cultura automotiva, com pontos de cor discretos em pink, vermelho e amarelo, nos básicos conhecidos da grife.

Ele diz que quer vestir a cidade de Nova York. A ambição não é grandiosa, dado o histórico da Helmut Lang. Mas o mundo parece menos interessado na camiseta branca perfeita do que na irreverência instagramável de Miuccia Prada.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.