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Taylor Swift prova em show que cancelamento é coisa de internet

Cantora faz boa apresentação da 'Eras Tour' em São Paulo, mas não sai do roteiro e perde chance de convidar Paula Fernandes

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A cantora americana Taylor Swift se apresenta em São Paulo Adriano Vizoni/Folhapress

São Paulo

"Oi, sou eu. Eu sou o problema. Sou eu." Taylor Swift está prestes a encerrar o primeiro de seus três shows em São Paulo neste fim de semana quando canta "Anti-Hero", um single de seu último álbum de inéditas, "Midnights".

Talvez não passe por sua cabeça que os versos podem ter ganhado outra interpretação após a estreia caótica de sua turnê no Brasil, com a morte de uma fã e o desmaio de mil pessoas devido ao calor no Rio de Janeiro há uma semana.

A cantora americana Taylor Swift em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

Para parte do público brasileiro, Swift é mesmo o problema. No entanto, para quem assistia na noite desta sexta-feira à sua primeira apresentação no estádio Allianz Parque a cantora americana era mais uma vítima do que uma anti-heroína.

Ao menos foi o que indicou o fôlego da plateia, que cantou cada uma das 45 músicas da setlist de três horas de duração a plenos pulmões, mesmo depois de enfrentar horas de fila debaixo da chuva e assistir a outro show de meia hora, o de abertura, com Sabrina Carpenter, uma novata do pop que tem Swift como madrinha.

Os fãs não culpam Swift pela morte da estudante de psicologia Ana Clara Benevides, de 23 anos, mas eles se incomodam com o silêncio que a artista fez diante da inação da T4F. Sem assistência, a família de Benevides precisou fazer uma vaquinha para levar seu corpo de volta a Mato Grosso do Sul, onde vivia.

A impressão foi a de que, no show, isso são águas passadas. Não parece justo, no entanto, culpar os fãs por serem fãs. Eles gastaram milhares de reais com a compra de um ingresso, transporte, hospedagem e alimentação, custos que normalmente não podem ser reembolsados em caso de desistência.

Não foi difícil. Em termos de produção, o show é um espetáculo difícil de comparar, em que Swift revisitou todos os seus dez discos e trocou de roupa, junto com seus dançarinos, 16 vezes, se não falha a memória deste repórter. Tantas transições poderiam prejudicar o ritmo, mas, rápidas ao ponto de o público mal sentir, acabam por conferir dinamismo à apresentação.

Para isso, a artista recorreu a tudo o que a tecnologia pode oferecer, dos tradicionais e batidos fogos de artifício, holofotes e pulseiras de LED a projeções cinematográficas, mais ou menos como fez Rosalía para sua tour do disco "Motomami".

Ainda que sem um videografista que acompanhasse cada um de seus passos no palco, uma série de câmeras fixas espalhadas pelo estádio ofereciam aos editores diferentes opções de corte, ora exibidos sozinhos, ora interpolados com cenários de alusão a cada composição.

Outro trunfo foi o palco, que atravessa o estádio com uma passarela de uma ponta à outra, com diferentes plataformas que elevam Swift alguns metros de altura em determinadas canções e tem projeções até no chão, para as tomadas áreas que vão para o telão.

Mas incomoda que, para além das duas músicas surpresas que são uma tradição, Swift tenha seguido tão à risca o roteiro da apresentação, sem apresentar nenhuma diferença em relação não só aos três shows que já havia feito no Brasil, mas a todos os outros que fez nos Estados Unidos, no México e na Argentina, os países pelos quais já passou com a turnê.

É compreensível o receio de extrapolar o plano ao ter de entregar uma apresentação tão longa e com tantas trocas de looks e cenários, algo que exige não só que ela vá de uma ponta do palco à outra, mas suba e deite no telhado de uma casa, para a era do disco "Folklore", e pule de cabeça dentro de uma área do palco que se abre para reaparecer em outro local e apresentar as canções do álbum "Midnights".

Swift não precisava rasgar o roteiro, porque isso nenhum artista de seu porte faz numa turnê de mais de cem shows. Mas, mesmo sem fazer nenhuma homenagem à fã que morreu, o que seria de bom tom, ela poderia, por que não, convidar ao palco Paula Fernandes.

Apesar de não estar no auge, a sertaneja ajudou a cultivar a fama de Swift no Brasil, ao gravar um dueto em "Long Live" para o álbum "Speak Now", de 2010. O convite acenaria à passionalidade dos brasileiros, como fez grupos como o Coldplay e tantos outros artistas que se apresentaram este ano no país.

Ou quem sabe ao menos ter mudado algumas frases ao interagir com a plateia. O público de São Paulo, por exemplo, ouviu o mesmo "nem fodendo" que ela disse no Rio ao cantar "We Are Never Ever Getting Back Together", um de seus hits do disco "Red", de 2012. Uma piada repetida não é tão legal como na primeira vez.

Nada disso, porém, pareceu ser um problema para os "Swifties", os seus fãs. Prova disso foi a apresentação da regravação de "All Too Well", quando o show já tinha passado de uma hora e meia de duração. Por nada menos do que dez minutos, foi difícil ouvir a voz de Swift, de tão alto que a plateia cantava.

Talvez tenha ajudado o fato de que os fãs tiveram mais conforto do que o usual. Embora seja difícil caracterizar em números, havia mais policiamento nas ruas, mais organização nas filas, com brigas contidas rapidamente, além de distribuição de água em todo canto. Pode parecer o mínimo, mas é surpreendente para o público costumeiro de shows deste porte e principalmente para quem assistiu à estreia da "The Eras Tour" no Rio.

O tempo também ajudou, visto que a chuva e as baixas temperaturas que estavam previstas nos dias anteriores ao show não se concretizaram. Garoou na fila, mas a chuva cessou assim que Swift subiu ao palco e só voltou quando a apresentação havia acabado.

Apesar de espaços vazios ao fundo da pista e de o palco ocupar uma parte considerável da arena, a T4F divulgou que a apresentação desta noite bateu o recorde de público do Allianz Parque para um show, com mais de 50 mil pessoas. A lotação máxima do estádio não foi informada.

A celebração da plateia, por fim, representa um sinal importante para a era do cancelamento —o de que, não importa o quanto a imagem de um ídolo possa ter sido arranhada, seus fãs continuarão a consumir seu trabalho. Ainda que, nas redes sociais, possam gritar o contrário.

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