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Taylor Swift volta ao pop em álbum que não está entre os seus melhores

Em 'Midnights', cantora esconde Lana Del Rey em dueto e faz arranjos eletrônicos que levam seus vocais a perderem o brilho

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São Paulo

Taylor Swift nunca esteve tão confiante como em seu décimo álbum de estúdio, "Midnights". Embora tenha quebrado o recorde de disco mais tocado em um dia no Spotify e ocupado todas as dez primeiras posições da Billboard Hot 100, o que não acontecia há 64 anos, a cantora americana não parece estar preocupada em criar um hit que toque no rádio como "Shake It Off" ou "Blank Space", mas em fazer experimentações um tanto quanto arriscadas.

Taylor Swift em ensaio de divulgação de 'Midnights', seu décimo álbum de estúdio
Taylor Swift em ensaio de divulgação de 'Midnights', seu décimo álbum de estúdio - Beth Garrabrant/Divulgação

A crítica aplaudiu. A Rolling Stone e o The Guardian, por exemplo, deram nota máxima para o disco. É incontestável a criatividade da cantora e do produtor Jack Antonoff, que também trabalha com Lorde e Lana Del Rey. Em sua volta ao pop, com as batidas e os arranjos eletrônicos que tinham sumido dos discos anteriores, "Folklore" e "Evermore", Swift vai dos bramidos de elefante que cercam "Labyrinth" a uma distorção de vocais tão profunda que sua voz chega a parecer a de um homem em "Midnight Rain".

O ouvinte pode não entender nada a princípio, mas é uma escolha coesa, já que ambas as composições versam sobre estereótipos de gênero. "Ele queria uma noiva, mas eu estava fazendo meu nome", protesta uma Swift andrógina em "Midnight Rain", antes de dizer, em "Labyrinth", que está se apaixonando de novo quando deveria mesmo é estar dando a volta por cima.

É notável ainda que, enquanto a maioria das mulheres apostem nos agudos, Swift acredite no potencial de seus graves.

No entanto, diferente do que ocorre em álbuns anteriores, como "Reputation" e "Lover", também cheios de efeitos que alteram sua voz, muitas faixas de "Midnights" parecem prender Swift numa câmara de reverberação que faz seus vocais perderem o brilho e, por vezes, até a clareza, como ocorre na introdução de "Snow on the Beach", sua parceria com Lana Del Rey.

A métrica, outra aposta alta do disco, também é um desafio. Se em "Anti-Hero" Swift se sai bem com nada menos do que quatro rimas a cada dois versos do pré-refrão, em "Bejeweled" a pronúncia do refrão parece não ser tão fácil.

A produção ainda joga contra uma das melhores faixas, "Snow on the Beach". Era esperado um encontro arrebatador entre duas das maiores compositoras da música pop contemporânea, mas a voz esfumaçada de Del Rey que tanto poderia favorecer a canção mal aparece.

É como se Swift cantasse com uma backing vocal de luxo em vez de fazer um dueto, uma decepção ainda maior porque não é a primeira vez que a cantora faz isso. Para lembrar um exemplo recente, ela também escondeu as irmãs Haim em "No Body, No Crime", de "Evermore".

Se as experimentações são abundantes nas melodias, as composições, o ponto mais forte de Swift, são um resgate do eu-lírico autorreferente deixado para trás nos últimos discos. Estão por lá todos os seus temas frequentes, como a relação com a própria imagem e a infância, que são o cerne de "Anti-Hero" e de "You’re on Your Own, Kid".

É o caso ainda de seus relacionamentos amorosos, tanto os fracassados quanto os bem-sucedidos, como o que ela retrata em "Lavender Haze", a primeira faixa do álbum, sobre seu namoro com Joe Alwyn. O ator também escreveu uma faixa para o álbum, "Sweet Nothing", sob o pseudônimo de William Bowery.

Swift também continua com as garras afiadas, mas seus sentimentos parecem menos hiperbólicos. "Não me visto para mulheres, não me visto para homens/ ultimamente tenho me vestido para vingança", ela canta em "Vigilante Shit", uma composição que poderia fazer parte de "Reputation", assim como "Karma". Mas agora, muito mais contidas e sem os chicotes estalando ao fundo, as faixas dão lustro a "Midnights".

São composições que, embora sejam boas, não estão à altura de seus trabalhos anteriores, inclusive dos mais recentes, como a versão extendida de "All Too Well". Apesar de juntas comporem um álbum mais coeso do que qualquer outro de Swift, a impressão é a de que, sozinhas, as canções perdem força e talvez não tenham potencial para ter vida própria.

São ainda letras que dão saudade de ouvir Swift, como a boa contadora de histórias que é, criar personagens e cantar sobre a vida de outras pessoas, como fez com maestria em "Folklore" e "Evermore", que representaram um salto de evolução sem tamanho ante seu trabalho anterior, "Lover", e que seguem como os seus melhores álbuns até agora, intocados por "Midnights".

Midnights

  • Quando Disponível nas plataformas digitais
  • Autoria Taylor Swift
  • Produção Taylor Swift, Jack Antonoff
  • Gravadora Universal Music
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