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Filme de Tatá Werneck e Ingrid Guimarães reaviva a boa comédia brasileira

Diretora de 'Minha Mãe É uma Peça 3' desenrola situações malucas em trama de irmãs que se unem para cuidar da mãe

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Minha Irmã e Eu

  • Quando Estreia nesta quinta (28) nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Ingrid Guimarães, Tatá Werneck e Taís Araújo
  • Produção Brasil, 2023
  • Direção Susana Garcia

Para começar, "Minha Irmã e Eu" assimila a tradição da "comédia maluca" —"screwball"— com desenvoltura bastante para fazer com que as confusões armadas ao longo do enredo se resolvam sem ofender o espectador.

No caso, Mirelly, personagem de Tatá Werneck, é a irmã que responde pela parte maluca da comédia. Intrépida, ela deixa o conforto familiar de Goiás para viver no Rio de Janeiro, enquanto Mirian, papel de Ingrid Guimarães, a irmã careta, seguirá um destino tradicional —casamento, filhos, tudo sem nunca sair do interior do país.

Minha Irmã e Eu
As atrizes Ingrid Guimarães e Tatá Werneck em cena do filme 'Minha Irmã e Eu', de Susana Garcia - Ellen Soares/Divulgação

As coisas seguiriam assim, não fosse a necessidade de alguém se ocupar da mãe, agora idosa. Uma empurra para a outra, e nesse choque ficamos sabendo que Mirelly não é tão bem-sucedida quanto queria fazer crer.

Mirian, em sua ingenuidade, acredita que Mirelly é rica, sim, e apenas faz corpo mole para não ter de se ocupar da mãe. Em vista disso, resolve ir ao Rio de Janeiro para ver se a irmã para com essa embromação e assume as responsabilidades de mulher rica.

Começam aí os quiproquós, já que Mirelly se envolve em pequenos trambiques, que se desdobram em novas mentiras, que força a mais trambiques, que prosseguem em uma longa viagem Rio-Goiânia, de carro, a que não faltam tropeços e mal-entendidos, mas também surpresas e descobertas.

O dinamismo do roteiro é bem aproveitado pela diretora Susana Garcia, cujo sucesso em uma série de comédias da década passada —culminando com "Minha Mãe É uma Peça 3"— parece ter dado a segurança para se manter num gênero.

Os momentos de riso, sorriso e alguma gravidade se alternam no roteiro, em que a oposição entre os temperamentos de Mirian e Mirelly ocupa lugar central —como essas oposições entre marido e mulher nas antigas comédias do casamento.

As personagens, digamos, são complementares e, irmãs sempre, até deixam suas diferenças de lado quando a mãe decide desaparecer da vista de todos e o problema se transforma —em vez de ser cuidar da mãe, agora encontrar a mulher se torna a questão.

Depois de não poucas decepções, na bilheteria, na recepção dos espectadores —as mais recentes com "Mussum O Filmis" e "Mamonas Assassinas, O Filme"—, a comédia brasileira pela primeira vez se põe em condição de superar a morte de seu comediante maior, Paulo Gustavo.

Ao buscar inspiração nas clássicas tramas "screwball", consegue superar —mas não esnobar— o estilo Globo, que afinal foi a garantia de contato dos filmes com o público ao longo das duas primeiras décadas deste século.

Não é à toa que Ingrid Guimarães, de resto nome-chave desse ciclo, nos fala em "ir à guerra para que o cinema brasileiro volte aos cinemas". Desconheço se ela se empenhou pessoalmente para que o Congresso passasse a lei de cotas para o audiovisual brasileiro, ou se a frase é um tanto retórica.

Um tanto, mas não demais —Guimarães foi outra figura-chave das comédias das primeiras décadas do século e sabe que a retomada desse ciclo exige mesmo algo como uma "guerra" que leve à reconquista de um público, seja por causa da pandemia, seja porque desde 2019 já não havia tanto motivo para rir.

Essa guerra começa, assim, com um trabalho que remete a antigas oposições brasileiras —o campo versus a cidade; irmã mais velha versus irmã mais nova; liberdade versus caretice— em um roteiro que não se acomoda demais a elas e também não dá um lugar fixo às personagens, permitindo a elas certos movimentos ousados, por vezes até surpreendentes —as descobertas sobre o destino da mãe entre eles.

Nessa guerra em que o audiovisual brasileiro tenta trazer para si, novamente, um público capaz de gerar grandes bilheterias, talvez o primeiro movimento forte da comédia seja este —precedido apenas por "Nosso Sonho", o filme de Claudinho e Buchecha, que não era comédia.

Também fiel à tradição, o filme pretende se encaixar e retomar uma tradição, mas não explorar sentidos inéditos. Não é este seu objetivo. Mas há um sentido obrigatório a mencionar —o filme trata das brigas e
reencontros entre duas irmãs, de pessoas que divergem, mas que, acima de divergências, descobrem suas afinidades profundas. Tem algo a ver com o Brasil atual, não tem?

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