Descrição de chapéu LGBTQIA+

Róisín Murphy hipnotiza público em celebração disco com um striptease contínuo

Cantora irlandesa se apresentou em casa na zona oeste de São Paulo antes de show no Primavera Sound neste domingo

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São Paulo

Primeiro ela surge como imagem. Com câmera na mão, Róisín Murphy começa a cantar dos bastidores, seu rosto espelhado no telão. O público, em número considerável, mas sem lotar a Audio, em São Paulo, vibra. Quando ela entra no palco, a excitação vira catarse.

Com um chapéu peludo que contorna a cabeça e uma capa roxa por cima de um terno verde, a cantora irlandesa iniciava ali não só o show desta sexta-feira, a dois dias de sua participação na versão paulistana do festival espanhol Primavera Sound, mas também uma espécie de striptease contínuo.

A cantora irlandesa Róisín Murphy durante show no Audio, em São Paulo
A cantora irlandesa Róisín Murphy durante show no Audio, em São Paulo - Mayara Cristina Giacomini/Divulgação

Durante quase duas horas, Murphy, de 50 anos, troca de figurino muitas vezes, e um blazer risca de giz um tanto folgado —à la David Byrne em "Stop Making Sense"— dá lugar a uma serpente de plumas, a um capacete que mais parece uma luminária japonesa e a outras peças que desafiam a capacidade de descrever.

O que se mantém, durante quase toda a apresentação, é um traje preto colado ao corpo, só mãos e rosto à mostra, com um tico de tinta branca para representar uma calcinha fio-dental, o umbigo e os seios, ao fim um espetáculo visual para acompanhar as canções disco, electropop e house tão celebradas por seus fãs.

As mudanças de roupa muitas vezes acontecem no palco, aos olhos do público e sem muita cerimônia, como se ela estivesse fazendo troça dos artistas pop famosos pelos shows ultraproduzidos e, justamente por isso, sem espaço para espontaneidade. A irlandesa, porém, está longe de fazer um show tosco ou sem preparação. Ao contrário, tudo é coreografado, mas de maneira natural, sem parecer engessado.

Além de músicas da carreira solo, como "CooCool" e "Something More", a cantora também incluiu no repertório "The Time Is Now" e "Sing It Back", do duo pelo qual ficou conhecida nos anos 1990, o Moloko. Considerada um ícone gay, já que grande parte de seu público é da comunidade LGBTQIA+, Murphy foi recebida calorosamente em São Paulo, como se não tivesse enfrentado um cancelamento há pouco.

Em agosto, a irlandesa postou um comentário em que criticava o uso de bloqueadores de puberdade por crianças e adolescentes em busca da transição de gênero, para ela uma forma de a indústria farmacêutica lucrar às custas de vulneráveis. O post, visto como um ataque a pessoas trans, foi massacrado.

No show paulistano, recebeu flores, distribuiu autógrafos enquanto cantava, citou o fato de que sua assistente é brasileira e foi ovacionada por cada gesto, seja ao usar o pedestal do microfone para simular o movimento de masturbação ou ao jogar de um lado para o outro um boneco de visual alienígena.

Os fãs também ficaram em polvorosa com a câmera que transmitia as imagens para o telão em tempo real, principalmente quando o público era enquadrado. Em dado momento, a cantora ficou de costas no palco, a câmera fechada em seu rosto. Era possível ver só a silhueta da banda, toda no contraluz, e os olhos de Murphy no telão, em preto e branco, hipnotizantes.

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