Show de Paul McCartney em São Paulo mostra como música atravessa gerações

Britânico sente a idade enquanto canta os sucessos da carreira, mas sua pessoa e a diversidade do público fazem apresentação

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São Paulo

Os Beatles não inventaram o rock, a indústria fonográfica e nem o sucesso de massa. Mas foram pioneiros e estão entre os maiores representantes de tudo isso.

O quarteto popularizou o estilo criado a partir do blues negro americano que ouviam quando adolescentes e transformou o fonograma —ou seja, a música gravada— no principal veículo de expressão musical quando pararam de fazer shows e lançaram "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", em 1967. Também protagonizaram a beatlemania, primeiro e até hoje um dos maiores fenômenos pop do mundo.

O cantor britânico Paul McCartney em show no Allianz Parque, em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

Esse é apenas um recorte da bagagem que carrega o nome de Paul McCartney, beatle remanescente que faz mais uma turnê no Brasil este mês. Nesta quinta-feira (7), ele faz o primeiro de três shows com ingressos esgotados no Allianz Parque, em São Paulo, antes de partir para Curitiba e para o Rio de Janeiro.

Até a década passada, ver McCartney por essas bandas era raridade. De lá para cá, ele fez dezenas de shows no país, e mesmo tantos anos depois de seu auge consegue mobilizar uma quantidade de público –em São Paulo, ele toca a mesma quantidade de vezes, no mesmo espaço, que o fenômeno pop contemporâneo Taylor Swift fez recentemente.

McCartney subiu ao palco meia hora atrasado, possivelmente esperando que os espaços no estádio fossem preenchidos pelo público que chegava. Às 20h, hora que o show deveria começar, muitas pessoas ainda estavam entrando no Allianz.

O show traz pouquíssimas novidades em relação às últimas vezes que o beatle esteve no Brasil. As falas em português, os comentários de apresentações das canções, a plataforma que o eleva em "Blackbird", as homenagens a John Lennon em "Here Today" e a George Harrison em "Something", o fogo em "Live and Let Die", os coros masculino e feminino em "Hey Jude" —tudo permanece como nas vezes anteriores.

O repertório também é praticamente igual ao dos shows que ele já fez por aqui, como em Brasília e Belo Horizonte. Vai desde os primórdios dos Beatles, com "In Spite of All Danger", quando a banda sequer existia com o nome com que ficou famosa, passa pela fase psicodélica e mais madura do grupo, com "Getting Better" ou "For the Benefit of Mr. Kite", entre outras, os Wings e a carreira solo do artista.

Foi fascinante ver a primeira música lançada pelos Beatles, há 60 anos, "Love me Do", ser cantada pelo estádio lotado. Também foi comovente ouvir McCartney se esforçando para cantar canções que gravou quando tinha 20 e poucos anos, como "Can't Buy me Love".

Mas talvez a faceta mais ressaltada de seu show seja a de compositor. No piano, violão, guitarra, bandolim ou, claro, baixo, Macca distribui melodias que sempre encontram um caminho doce para os ouvidos —mesmo quando estão "escondidas" por trás de guitarras distorcidas, como em "Jet", dos Wings.

Aos 81 anos, McCartney também não é mais o mesmo. Ele sofre um pouco mais do que nas últimas vindas para cantar as músicas mais agudas e gritar está mais difícil, mas ainda assim consegue segurar um show de 2h30 praticamente sem pausas.

Sua persona carismática, que vem dos anos 1960, também continua presente. Ele fez caras e bocas, dançou, agradeceu e provocou a plateia paulista como o beatle pelo qual os jovens eram apaixonados, capazes de fazer qualquer loucura para estar perto, de décadas atrás.

De certa forma, ver McCartney no palco é entender como a música atravessa gerações e barreiras etárias e estéticas. Talvez seja o show desta proporção com a plateia mais ampla em termos de idade –há pessoas com idade para ser bisavós e crianças com camiseta dos Beatles nos ombros dos pais.

É uma sensação que fica clara quando uma imagem de John Lennon surge no telão durante "I've Got a Feeling", com sua voz gravada ecoando nos alto-falantes. Trata-se da filmagem do último show dos Beatles, uma apresentação surpresa no teto do prédio da gravadora da banda, a Apple.

Nesse momento, McCartney e Lennon fazem um dueto que, ele próprio, atravessa os tempos. A letra da música, que pede que o ouvinte deixe o cabelo crescer, dialoga com o movimento hippie e transporta a plateia diretamente para a virada dos anos 1960 e 1970 —ainda que, de certa forma, continue fazendo sentido em 2023.

A reta final do show concentrou as canções mais famosas e celebradas. Foi de "Ob-La-Di, Ob-La-Da" a "Let it Be", passando por "Band on the Run", "Get Back", "Helter Skelter", "Sgt. Pepper's (Reprise)" e "Hey Jude", entre outras.

As últimas músicas cantadas foram a sequência de "Golden Slumbers", "Carry That Weight" e "The End", na ordem em que foram lançadas, no disco "Abbey Road", de 1969. Acabou pouco depois de 23h, após mais de 2h30 de show, com a plateia em êxtase.

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