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Como é votar no Globo de Ouro, sem presentes e vendo muita coisa ruim

Em dois meses, foram mais de 50 filmes e outros tantos seriados vistos para a premiação, que tenta se reabilitar

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Fernanda Ezabella

Jornalista sediada em Los Angeles e votante do Globo de Ouro

Los Angeles

Em outubro, virei uma das novas eleitoras do Globo de Ouro. O que se seguiu na minha vida foi uma avalanche de filmes e seriados que cheguei a temer pela minha sanidade. Era tanta coisa, e tanta coisa ruim, que quase desisti. No fim, claro, achei boas pérolas.

Robyn Beck/AFP
O troféu do Globo de Ouro - AFP

A premiação mais popular de Hollywood depois do Oscar vive uma nova fase, após ganhar novos donos no ano passado. Regras rígidas foram impostas, e os votantes ficaram proibidos de receber presentes e convites para viagens luxuosas, uma prática comum do passado e parte dos escândalos revelados dois anos atrás.

Sem os antigos "jabás" e com uma enorme papelada para assinar, embarquei mesmo assim animada para julgar com esmero o trabalho alheio. Em dois meses, foram mais de 50 filmes e outros tantos seriados. Num final de semana, vi seis filmes inteiros. Meu prazer de ver cinema se desmilinguia a cada rolar de créditos.

Diariamente, entre outubro e dezembro, minha caixa de emails entupia com mensagens da vice-presidente de operações do Globo de Ouro. Eram repasses de convites para ver as produções online ou ao vivo em salas de cinema de Los Angeles.

As exibições mais badaladas eram seguidas por uma recepção com comes e bebes, além da presença de diretores e elencos dos filmes. Foi assim que conheci Helen Mirren depois de ver "Golda" e conversei com Alexander Payne e Paul Giamatti, de "Os Rejeitados". Talvez não por coincidência este último ficou entre os meus filmes favoritos do ano.

Foi assim que fui percebendo a influência das campanhas, incluindo esses eventos. Conversar com os criadores, famosos ou não, pode trazer um melhor entendimento do trabalho, simpatia pelo esforço da empreitada ou até mesmo nos levar a curtir a obra ainda mais.

A enxurrada de convites também tem objetivo claro. O maior desafio do assessor de um filme em campanha é levar gente para vê-lo. E eles pagam caro pelos convites que eu recebia por email. Pelas regras, o assessor precisa mandar o convite para a organização do prêmio, que cobra dele uma taxa para repassá-lo aos votantes —no Oscar, um único email aos membros da Academia custa entre US$ 500 e US$ 1.000, entre R$ 2.400 e R$ 4.800.

E como escolher o que ver nesse mundaréu de produções? Minha estratégia com cinema foi ver longas premiados em festivais, depois obras de diretores importantes, os trabalhos mais comentados e, finalmente, me jogar no desconhecido. Só de filmes estrangeiros, eram uns 90.

Numa dessas, me esforcei para ver do outro lado da cidade um longa marroquino de um diretor estreante. O fato de a recepção acontecer numa churrascaria da moda ajudou na decisão, confesso. Mas o filme não foi indicado e, pelas regras, não posso revelar meus votos.

No geral, gostei das indicações, principalmente pela variedade internacional em duas categorias importantes, melhor drama e direção. Dos seis dramas em disputa, três trazem histórias estrangeiras: "Anatomia de uma Queda", "Vidas Passadas" e "Zona de Interesse". Na direção, dois são estrangeiros: Yorgos Lanthimos, de "Pobres Criaturas", e Celine Song, de "Vidas Passadas".

Que seja um sinal dos novos tempos do Globo de Ouro, agora com um painel de jurados mais diversificado —300 eleitores em 75 países.

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