Descrição de chapéu Obituário Teixeira de Manaus (1944 - 2024)

Morre Teixeira de Manaus, saxofonista que vendeu mais que Roberto Carlos no AM

Criador do beiradão, estilo musical amazonense, músico foi o primeiro de seu estado a conquistar um disco de ouro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Igor Marques
Recife

Morreu nesta quinta-feira, dia 18, o saxofonista Rudeimar Soares Teixeira, conhecido pelo nome artístico Teixeira de Manaus e precursor do beiradão, estilo de música instrumental da Amazônia. Ele tinha 79 anos e estava internado na capital amazonense desde dezembro para tratar um tumor na hipófise.

O músico amazonense Teixeira de Manaus
O músico amazonense Teixeira de Manaus - Reprodução

A filha do músico, Darle Teixeira, confirmou a informação em sua rede social. "Cala-se para sempre o sax de Teixeira de Manaus. Fica em paz", ela escreveu. Detalhes sobre velório e sepultamento não foram divulgados.

Um dos grandes nomes da história da música do Amazonas, Teixeira chegou a desbancar Roberto Carlos nas lojas amazonenses de discos. Também foi o primeiro artista do estado a conquistar um disco de ouro.

Retrato criativo da história moderna do Amazonas, a obra musical de Teixeira traduziu a trajetória política do estado. Segundo Bernardo Mesquita, professor de história da música brasileira e antropologia da música pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e autor do livro "Das Beiradas ao Beiradão: a Música dos Trabalhadores Migrantes no Amazonas", a criatividade individual de Teixeira "refletia uma construção coletiva da música do Amazonas".

Teixeira começou a tocar tendo como principal referência o saxofonista mineiro Moacyr Silva, popular na década de 1950. Mas sua música também teve influência do carimbó e da lambada paraense, do forró nordestino e de musicalidades latinas como o merengue e a cumbia.

Este repertório variado, característico dos trânsitos nos rios e suas beiradas no Amazonas, acabou por nomear o estilo de música inaugurado por Teixeira. O beiradão, como ficou nomeado esse estilo, hoje é um símbolo da cultura amazonense, com amplo catálogo de artistas como Chico Caju, Toinho e seus Animais, Chiquinho David, Hadail Mesquita e a Orquestra de Beiradão Amazonense.

Paulatinamente, ele foi reposicionando as musicalidades ribeirinhas no mercado fonográfico e conquistando amplo alcance com músicas instrumentais e refrões curtos. Era um formato de composição que se diferenciava do rock nacional e de boa parcela das músicas populares nas rádios brasileiras dos anos 1980.

Essa sonoridade no meio do caminho entre e o instrumental e o cantado foi a marca registrada de Teixeira de Manaus. O estilo de música dançante se desenvolveu nas festas em comunidades espalhadas pelo Amazonas, justamente nas regiões de beira de rio, os beiradões.

Embora mais popular em seu estado de origem, o beiradão de Teixeira de Manaus ultrapassou os limites geográficos do estado. Ele é citado por músicos do lambadão matogrossense como uma referência para acelerar e recriar o ritmo, que teve origem no Pará.

"No interior da Amazônia não existia música instrumental com pequenos refrões, duas frases. Eu meti isso aí e fiz a música do beiradão, a música do interior amazônico", disse Teixeira, em entrevista à Folha, em 2012.

sax em frente à mata e a um rio
Capa do disco 'Solista de Sax', do saxofonista amazonense Teixeira de Manaus - Reprodução

Além disso, Teixeira foi o primeiro músico a fazer sucesso no Brasil tocando forró com saxofone. Anos depois, essa tendência seria adotada pelo forró cearense a partir dos anos 1990, com bandas como Forró Maior e Mastruz com Leite.

Nascido na comunidade da Costa do Catalão, no município de Iranduba, Rudeimar Teixeira da Silva foi o caçula entre os 12 filhos de um casal de agricultores. A influência do pai, que tocava pistom na banda da escola, e da mãe, que o presentou com seu primeiro saxofone, foram determinantes para sua paixão pela música.

Na Manaus que Teixeira adotou em seu nome artístico, ele teve a oportunidade de estudar e fazer suas primeiras apresentações em público, ainda na década de 1960, tocando no carnaval de rua da cidade e em pequenas apresentações para amigos.

Nos anos 1970, liderou a RT4 —siglas do seu nome, RT, acompanhadas da referência a formação em quarteto—, quando foi descoberto por Pinduca, cantor e compositor ícone do carimbó paraense. Influente na gravadora Copacabana, ele levou Teixeira até São Bernardo do Campo, em São Paulo, e dirigiu a gravação do disco em apenas cinco dias.

Quando foi convidado por Pinduca para gravar o álbum, já no começo da década de 1980, Teixeira duvidou da proposta. Ele pensava que o convite era uma "cascata" e imaginava que só teria uma participação no disco do músico paraense.

É de se imaginar a surpresa do artista ao receber um disco de ouro, em 1983, por ocasião das 100 mil cópias vendidas do seu primeiro álbum, "Solista de Sax". O evento de entrega da placa arrastou uma multidão para duas das principais avenidas da capital amazonense, com transmissão ao vivo por uma emissora de rádio local.

Teixeira seguiu em atividade até 2012, quando fez seu show de despedida dos palcos no Festival Amazônia Jazz, realizado no Teatro Amazonas. Na época, disse a este jornal que estava descontente com a carreira, e que só era convidado para fazer shows em festinhas de aniversário.

"Não vou parar por morte, mas... Um dia eu escutei um camarada dizer que eu só tocava pi-ri-ri-pi-ri-ri. É uma desinformação total", afirmou.

Em 2019, "Deixa Meu Sax Entrar", uma das suas composições mais famosas, foi eleita a "música que é a cara de Manaus", em votação popular realizada pela filiada local da Rede Globo.

Com a aposentadoria, veio também o distanciamento da imprensa. Na sua última —e rara— aparição, no documentário "O Áureo da Música do Beiradão" de 2021, o músico relatou a emoção de lotar o teatro e receber reverências dos maestros que lá estavam.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.