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Remake de 'Renascer' estreia com fôlego para salvar novelas da Globo

Nova versão perde a lentidão ousada e os horizontes saturados da obra original, mas seu roteiro indica uma trajetória firme

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Renascer

  • Quando Estreia nesta segunda-feira (22), às 21h20
  • Onde Globo e Globoplay
  • Classificação 12 anos
  • Autoria Bruno Luperi
  • Elenco Humberto Carrão e Marcos Palmeira
  • Direção Gustavo Fernandez

"Renascer" renasce mais de três décadas depois da novela original alguns tons abaixo da selvageria de outrora. Se na década de 1990 era Luiz Fernando Carvalho quem conduzia o clássico de Benedito Ruy Barbosa com todos os requintes de sua linguagem barroca, agora a trama, nas mãos de Gustavo Fernandez, parece ajustada aos tempos atuais.

O ator Humberto Carrão como José Inocêncio na primeira fase do remake de 'Renascer'
O ator Humberto Carrão como José Inocêncio na primeira fase do remake de 'Renascer' - Fabio Rocha/Globo

Não que o mundo tenha se pacificado de lá para cá. Mas o espectador da telenovela antiga, já de olhos calejados por tantos anos de streaming e a linguagem pasteurizada das séries, talvez não aceitasse a lentidão ousada e os horizontes saturados de então.

O primeiro capítulo do remake, a aposta mais alta da TV Globo para contornar uma crise de audiência sem precedentes, é um acerto, deslumbrante na medida certa.

Noveleiros já conhecem a trama, mas a saga de José Inocêncio, na pele de Humberto Carrão até a segunda fase da história, quando passa a ser vivido por Marcos Palmeira, tem tudo para conquistar uma nova geração desconectada do chamado Brasil profundo.

"Renascer", com a fotografia sem arestas de Fabrício Tadeu e o roteiro correto de Bruno Luperi, neto de Barbosa, deslancha num belo contraponto com a trama antecessora do horário nobre, a catastrófica "Terra e Paixão". Quem achava que duas novelas rurais pudessem cansar o público pode estar enganado, tamanho o contraste entre as obras.

O dramalhão agro de Walcyr Carrasco, calcado em cores berrantes, um sem-fim de subtramas que não levavam a lugar nenhum e diálogos sofríveis, está muito distante de "Renascer", mais sóbria nos figurinos, nos diálogos e na direção de arte, uma construção que resulta sofisticada mesmo arquitetada sobre as tintas épicas da história.

O elenco, com a participação de Maria Fernanda Cândido num papel que não existia, se mostrou entrosado no primeiro episódio. A atriz sustenta a maior parte das cenas com segurança e frescor, da mesma forma que Enrique Diaz, que faz um coronel violento.

Humberto Carrão tem imenso carisma, o que compensa certa apatia na atuação, e Juliana Paes, em poucos minutos de tela, também mostra que pode compor uma Jacutinga, a dona do bordel antes vivida por Fernanda Montenegro, com força e cores singulares.

"Renascer" vai trilhar uma rota de turbulência mais adiante. Ainda não vimos o polêmico triângulo amoroso formado por José Inocêncio, o filho rejeitado João Pedro, papel que pode levar Juan Paiva ao patamar que merece, e Mariana, papel de Theresa Fonseca que quase custou a Adriana Esteves a sua carreira.

Também resta ver com que jogo de cintura o roteiro vai contar a história de Buba, a chamada hermafrodita de Maria Luisa Mendonça da novela original agora vivida por Gabriela Medeiros, uma atriz trans.

É raro um remake desbancar o original. Na avalanche de novas versões, no entanto, Luperi se destacou com sua releitura hipnotizante de "Pantanal", que devolveu o lustro à Globo.

"Renascer" estreia sob pressão enorme. O pontapé inicial, sem delongas ou rodeios, indica uma trajetória firme, com a esperança de que a trama não derrape na troca de fases ou com desvios inúteis.

É um remake que, com sorte, pode consolidar uma espécie de renascimento do gênero, ágil e bem orquestrado, mas não será fácil —e é triste que só releituras de clássicos vinguem neste deserto de ideias.
Os obstáculos de um mundo em chamas estão aí para atrapalhar, mas as novelas sempre foram a dose diária de escapismo de um país que não nos dá trégua. A ver.

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