Descrição de chapéu Obituário Seiji Ozawa (1935 - 2024)

Morre Seiji Ozawa, um dos maiores maestros do Japão, aos 88 anos

Regente que esteve à frente de várias das maiores orquestras do mundo venceu preconceito contra músicos asiáticos no meio

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O maestro Seiji Ozawa, que foi regente da Orquestra Sinfônica de Boston Reprodução/Sociedade de Cultura Artística

James R. Oestreich
Tóquio e Nova York | AFP e The New York Times

O maestro japonês Seiji Ozawa, que conduziu as orquestras de maior prestígio do mundo durante sua longa carreira e conquistou o mundo da música clássica ocidental com sua energia, morreu em sua casa em Tóquio, aos 88 anos.

Ele foi um dos maiores da segunda metade do século 20 e ficou célebre por suas interpretações de autores como Gustav Mahler e Igor Stravínski. Também foi responsável por vencer o preconceito contra músicos asiáticos no meio erudito.

O maestro japonês Seiji Ozawa, em Viena, em 2001 - Artinger Guenter/AFP

Ozawa atuou como diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Boston entre 1973 e 1995 e regente da Ópera Estatal de Viena entre 2002 e 2010. No Japão, foi criador da Orquestra Saito Kinen, nos anos 1990, a primeira do país a atingir renome internacional.

O canal de televisão público NHK e outros meios de comunicação japoneses informaram que Ozawa morreu na terça-feira (6), vítima de insuficiência cardíaca. O funeral foi realizado em caráter privado, apenas com familiares próximos, informou o jornal Asahi Shimbun.

Ozawa foi o mais proeminente precursor de um movimento que transformou o mundo da música clássica nos últimos 50 anos: um influxo de músicos do Leste Asiático para o ocidente, que por sua vez ajudou a difundir o evangelho da música clássica ocidental para a Coreia, Japão e China.

Durante grande parte desse tempo, uma crença generalizada, mesmo entre críticos, sustentava que, embora músicos asiáticos altamente treinados pudessem desenvolver habilidades técnicas consumadas na música ocidental, eles nunca poderiam alcançar uma compreensão real de suas necessidades interpretativas ou um sentimento profundo por seu conteúdo emocional.

O irreprimível Ozawa superou esse preconceito por meio de sua personalidade marcante, musicalidade completa e trabalho árduo.

Com sua cabeleira negra, aparência jovial e energia aparentemente inesgotável, Ozawa conquistou a imaginação popular desde cedo.

O maestro Seiji Ojawa rege a Orquestra Sinfônica de Boston no Carnegie Hall, em New York, em 1997
O maestro Seiji Ojawa rege a Orquestra Sinfônica de Boston no Carnegie Hall, em Nova York, em 1997 - Chang W. Lee/New York Times

Ele chegou ao topo do mundo orquestral americano em 1973, quando foi nomeado diretor musical da Orquestra Sinfônica de Boston. Ele obteve muitos sucessos ao longo dos anos, mostrando-se especialmente hábil em obras grandes e complexas que muitos outros achavam difíceis de manejar.

Ele fez turnês extensas e gravou amplamente com a orquestra. Mas seu mandato de 29 anos foi considerado por muitos como longo demais para o bem de todos —dele, o da orquestra e dos frequentadores.

Embora relativamente inexperiente em ópera, ele deixou o cargo em 2002 para se tornar diretor musical da prestigiosa Ópera Estatal de Viena, onde permaneceu até 2010. O restante de sua vida foi principalmente consumido por problemas de saúde e sonhos de um grande retorno ao palco dos concertos, que ele nunca conseguiu alcançar.

Seiji Ozawa nasceu de pais japoneses em Shenyang, na China então ocupada pelos japoneses, em 1º de setembro de 1935. A família retornou ao Japão em 1944. Ele estudou piano quando criança, mas desistiu da ideia de uma carreira pianística quando quebrou dois dedos jogando rugby. Ele estudou regência com Hideo Saito, o professor preeminente de música ocidental no Japão, na Escola de Música Toho em Tóquio.

Em 1959, ele viajou para a Europa em um navio de carga, trazendo uma scooter e um violão. Ele venceu um concurso para regentes de orquestra em Besançon, na França, naquele ano, e foi convidado por um dos jurados, Charles Munch, então diretor musical da Orquestra Sinfônica de Boston, a estudar no Berkshire Music Center em Tanglewood, a casa de verão da orquestra no oeste de Massachusetts.

Após vencer o prêmio Koussevitzky para regentes estudantes excepcionais lá, ele retornou à Europa. Estudou com Herbert von Karajan em Berlim e despertou o interesse de Leonard Bernstein, que o nomeou maestro assistente da Filarmônica de Nova York em 1961.

Dois anos depois, ainda pouco conhecido, ele apareceu no programa de televisão "What's My Line?", no qual os painelistas famosos tinham que adivinhar sua ocupação com base em respostas de sim ou não. Levou um tempo para eles descobrirem. Mas sua ascensão já havia começado.

Em 1964, ele se tornou diretor artístico do Festival Ravinia em Illinois, a casa de verão da Orquestra Sinfônica de Chicago. Em 1965, Bernstein o recomendou a Walter Homburger, diretor administrativo da Orquestra Sinfônica de Toronto, que estava procurando um diretor musical para substituir Walter Susskind. Ozawa aceitou o emprego e sua carreira decolou.

O maestro japonês Seiji Ozawa em 2013 - Yuya Shino/Reuters

Ele deixou ambos os cargos em 1969 e foi diretor musical da Orquestra Sinfônica de San Francisco de 1970 a 1976. De 1970 a 1973, ele também foi diretor artístico do Berkshire Music Center em Tanglewood, compartilhando o cargo com o compositor Gunther Schuller e solidificando sua posição com a Orquestra Sinfônica de Boston.

Além de reger concertos da Orquestra Sinfônica de Boston, a relação de Ozawa com Tanglewood ao longo dos anos foi um tanto irregular, mas ocasionalmente marcante. Em 1994, a orquestra construiu um magnífico auditório com 1.180 lugares no campus. Norio Ohga, presidente da Sony Corp., doou US$ 2 milhões dos quase US$ 10 milhões que custou sob a condição de que a estrutura fosse chamada de Seiji Ozawa Hall.

Um clima ruim se formou anos depois, quando Ozawa, após uma relativa inatividade no Tanglewood Music Center, como a escola era agora chamada, afirmou suas prerrogativas como diretor musical da orquestra.

Reclamando de uma queda na qualidade do programa de regência e da representação insuficiente dos membros da orquestra no corpo docente, ele demitiu um administrador-chave em 1996. No ano seguinte, membros proeminentes do corpo docente, incluindo os pianistas Leon Fleisher, diretor artístico do centro, e Gilbert Kalish, presidente do corpo docente, saíram em protesto, citando a falta de uma visão clara por parte de Ozawa.

Ozawa permaneceu ativo no Japão durante seu tempo em Boston. Ele se tornou diretor artístico honorário da Orquestra Filarmônica do Japão —agora Nova Orquestra Filarmônica do Japão— em 1980.

Quatro anos depois, ele ajudou a fundar a Orquestra Saito Kinen, em memória ao amado mentor de sua juventude. Isso deu origem ao Festival Saito Kinen em Matsumoto em 1992; o evento foi renomeado Festival Seiji Ozawa Matsumoto em 2015.

Ozawa enfim deixou a Orquestra Sinfônica de Boston em 2002. Como seu diretor musical laureado, ele retornou a Boston para dois concertos no Symphony Hall em 2008.

Ele se apresentou pela última vez em Tanglewood em 2006 e cancelou um retorno programado em 2010 por motivos de saúde e teve que cancelar novamente em 2016, porque não tinha a força física necessária em seu retorno ao Japão depois de reger brevemente na Europa.

Nos últimos anos de sua vida, Ozawa passou a reconhecer a sabedoria que vem dos anos de fazer música.

"O sabor especial de um músico se revela com a idade", disse ele em "Absolutely on Music", um livro de conversas entre Ozawa e o romancista Haruki Murakami, lançado em 2016. "Sua interpretação nessa fase pode ter qualidades mais interessantes do que no auge de sua carreira."

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