Artista Rodolpho Parigi encarna drag Fancy Violence, entre a dor e a luxúria

Espelhando as telas do pintor, personagem volta à cena depois de quase uma década, envolvida por um sol de prata

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São Paulo

Rodolpho Parigi é um homem de muitas faces. Há onze anos, o artista plástico se divide entre a rotina de exposições, em museus e galerias, e as performances de seu alter-ego, a drag queen Fancy Violence, que ele já disse ser uma mistura de ciborgue, vampira e poltergeist. Após quase uma década sem aparecer, ela retorna agora em um novo espetáculo da série "Levitação", que acontece nesta quinta, no Teatro Unimed.

Performance de Fancy Violence, do artista Rodolpho Parigi
Performance de Fancy Violence, do artista Rodolpho Parigi - Divulgação/Divulgação

É possível dizer que Violence é uma criatura saída de uma das telas do artista. A relação de Parigi com seu alter-ego, no entanto, sempre foi tensa, motivando uma permanente angústia existencial. Tanto que Parigi chegou a ir atrás de um pai de santo para saber a sua verdadeira identidade. O babalorixá classificou Fancy Violence como uma incorporação, mas sua angústia só se resolveu com as sessões de psicanálise.

"Eu achei que iria me transformar nela e ser uma mulher trans, mas vi que Fancy Violence só existe, porque eu existo antes", diz o artista. Numa continuação das suas telas, esse "tableau vivant" já foi flagrado, com bodysuits brilhosos, os olhos pintados de preto e os cabelos longos. Agora, Violence estrelará uma superprodução.

Parigi faz mistério sobre os detalhes de "Levitação_Atto_3", que será registrada pelo fotógrafo Mauro Restiffe. A drag será envolvida por um sol de prata, aos pés de um lago. Assinado por Gustavo Silvestre, o figurino será todo de rendinha preta. No passado, Violence se apresentava com bandas, mas, em "Levitação_Atto_3", a música é atmosférica, uma trilha sonora encomendada pelo artista. "Será a batcaverna da Fancy", afirma Parigi.

Fancy Violence é a encarnação da noite da metrópole paulistana, com roupas que dialogam com o universo do fetiche e parecem ser feitas de látex, assim como as figuras da série "Bodysuits", corpos sem rostos, cheios de dor e prazer. As formas de borracha brilhosas deslizam entre a figuração e a abstração, como os fluidos do sexo.

Ao todo, já são 14 aparições da fantasmagoria. Não seria uma surpresa se "Levitação" correspondesse à temática erótica. Quando Violence veio ao mundo, numa noite na galeria pivô, ela estava envolvida por uma vitrine cenográfica, que simulava o Red Light District, de Amsterdã, com um neon vermelho nas bordas, e ainda contracenava com um "boy", para ficarmos no léxico gay. Em outra apresentação, sempre rodeada por homens de grandes proporções, Violence simulava, com o microfone, estar fazendo sexo oral. Todas as aparições acontecem rapidamente.

A de amanhã vai durar 15 minutos, um tempo generoso para o futurismo ainda latente nas ruas de São Paulo. "A aparição precisa ser real e violenta. E não deve explicar nada."

Levitação_Atto_3

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