Feira do Livro em São Paulo encorpa cardápio literário em edição mais ambiciosa

Festival incrementa, no terceiro ano, uma lista de convidados com Rita Lobo, Martinho da Vila e Jamaica Kincaid no Pacaembu

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Ilustração da capa do livro 'Annie John', de Jamaica Kincaid

Ilustração de Brunna Mancuso para a capa do livro 'Annie John', de Jamaica Kincaid - Brunna Mancuso / Brunna Mancuso

São Paulo

Paulo Werneck, diretor da Associação Quatro Cinco Um, responsável pela Feira do Livro que começa neste sábado em São Paulo, rechaça a ideia de uma curadoria autoral. Abraçando um paralelo culinário, quer montar seu cardápio com "o que está bom no mercado hoje".

É como os restaurantes que investem numa "cuisine du marché", com o perdão do estrangeirismo, aproveitando os ingredientes mais frescos da estação —e os mais variados.

"A curadoria precisa ser eclética para ativar vários públicos", diz o jornalista e editor. "Também porque as pessoas têm interesses múltiplos. O mesmo cara que lê romances faz receitas com o ‘Panelinha’, um trabalho autoral e de relevância pública da Rita Lobo."

A chef não surge por acaso, afinal, é uma das estrelas deste primeiro fim de semana de programação, que ainda terá o sambista veterano Martinho da Vila, o premiado romancista Stênio Gardel, o experiente diplomata Rubens Ricupero e a atriz vulcânica Alice Carvalho —só para dar uma ideia da diversidade da oferta.

As mesas são todas abertas e gratuitas, mas são a superfície do projeto: mais de 150 editoras, livrarias e iniciativas ligadas ao livro e à leitura erguem tendas em torno da praça Charles Miller para vender seus produtos e, se quiserem, até fazer programações autônomas. A Folha é parceira do evento, onde terá um estande.

A feira salta neste ano de cinco para nove dias do calendário, incluindo dois fins de semana. Incrementa, assim, o tempo hábil de vendas, a oportunidade de visitas de um público em período de férias e o número de mesas no programa oficial —são quase 60.

"Nós descolamos do formato da Flip e nos inclinamos mais ao das feiras de rua ibéricas, nossa inspiração desde o começo", diz Werneck. "Também é uma espécie de seguro meteorológico. Se chover num dia, o problema é menor."

Werneck repete algumas vezes que não aspira à originalidade, mas a apresentar em São Paulo, um centro nervoso do mercado editorial, um modelo já de sucesso em outros lugares. Afirma, inclusive, que "o campo dos festivais literários tem que se unir para trabalhar por políticas públicas", reduzindo assim o cenário de insegurança por que todos passam.

A Flip, por exemplo, costumava ocupar essa época de julho e acontecerá no fim do segundo semestre pelo terceiro ano consecutivo, por dificuldades de captação de recursos e negociação com autoridades.

A permissão da Feira do Livro para usar o espaço público da Charles Miller também depende de articulação perene com a prefeitura de São Paulo, uma relação que tem sido saudável, mas foi mais desafiadora em ano de eleição e de reformas intensas num Pacaembu recém-privatizado.

Aliás, o arquiteto Álvaro Razuk, diretor da Maré Produções, diz ter tido "acertos positivos" com a construtora que transforma o estádio no Mercado Pago Hall. A expectativa é que a obra não interfira na programação, exceto pela passagem pontual de caminhões.

"A feira precisa do desejo do mercado e das autoridades para acontecer", afirma Werneck. "Por isso cobramos o mínimo possível pelo aluguel do espaço e pedimos contribuições para pagar os cachês. Mas não tem bilheteria e não queremos ganhar em cima."

Da parte das editoras, o desejo parece seguir firme, ainda que com queixas de que o estilo de "feira livre" tenha gerado um clima de improviso que deixou muita coisa confirmada só de última hora. Nada que tenha impedido o festival de ter nomes como Camila Sosa Villada, Jamaica Kincaid, Tatiana Salem Levy, Rui Tavares, Claudia Piñeiro e Marcelo Rubens Paiva. Um menu bem nutritivo —e tudo fresquinho.

A Feira do Livro

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