Feira ArPa toma estádio do Pacaembu em reforma e destaca a América Latina

Evento tenta estimular mercado no continente e acontece junto do Mercado Arte e Design, o Made, com peças autorais

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São Paulo

Unir a América Latina pelas suas raízes espirituais e conexões com a natureza parece ser o desejo da ArPa, jovem feira de arte que abriu as portas num Estádio do Pacaembu em reformas nesta quinta, ao mesmo tempo do Made, ou Mercado Arte e Design, que destaca peças autorais para colecionadores.

Obra de Aline Motta, da galeria Mitre
Obra de Aline Motta, da galeria Mitre - Divulgação

Além da proposta de impactar mais público com menos galerias, a aposta desta edição está na organização de quatro setores, um deles dedicado a artistas latino-americanos. "Fazer uma feira com curadores permite um olhar mais plural e o diálogo entre os artistas exibidos", diz a diretora do evento, Camilla Barella, sobre o diferencial da feira em comparação a outras no país.

Ao contrário das duas edições anteriores, neste ano as galerias não exibirão as obras no gramado do estádio do Pacaembu, mas no Mercado Pago Hall, pavilhão para eventos construído onde antes ficava o tobogã —estrutura demolida em 2021. A entrada da ArPa não será mais pela praça Charles Miller, onde estará acontecendo a Feira do Livro, mas pela rua Capivari.

A mudança deixou algumas pessoas confusas na abertura para convidados, nesta quarta-feira, que depois de enfrentarem o engarrafamento das ruas laterais do edifício precisaram também subir as ladeiras que contornam a estrutura até a nova entrada, em meio a uma nuvem de pó que sobrevoa parte do estádio, ainda em obras.

São 60 galerias espalhadas pela estrutura subterrânea. Em comparação, na SP-Arte, maior feira do país, são 99. A compressão é positiva para Ana Carolina Ralston, curadora do setor chamado Base, que destaca a relação entre o corpo humano e a natureza inspirada pela frase do filósofo italiano Emanuele Coccia "todo ser vivo é terra dos outros".

"São muitas obras. Sem um olhar editado, você acaba passando batido por muita coisa. A ArPa é um programa cultural, não só uma loja para vender", ela diz, defendendo que o Brasil isola seu circuito artístico do resto do mundo, mesmo em relação a países do mesmo continente. "Queremos criar pontes com a cena internacional que faça sentido para o nosso mercado."

A aposta para estreitar laços com os vizinhos é o setor Uni, organizado por Germano Dushá, que recebe galerias de outros países da América Latina, como a Instituto de Visión. O destaque da galeria colombiana será Aycoobo, artista indígena que expõe na atual Bienal de Veneza e esteve em evidência na Artbo, a feira de arte de Bogotá, no ano passado.

"A gente ouve muito que brasileiro só compra de brasileiro. Queremos que as galerias de fora entendam que o Brasil é um mercado potencial", diz Dushá. A ArPa, aliás, parece se inspirar na feira colombiana de arte, uma das mais influentes da América Latina.

Já o setor Satélite, pensado por Raphael Fonseca —organizador da última Bienal Sesc Videobrasil— se dedicará às obras audiovisuais, com artistas como Fabian Guerrero, apresentado pela galeria americana Commonwealth and Council, e Carla Chaim, da galeria brasileira Raquel Arnaud.

O setor Arte em Campo, dedicado a obras de grandes dimensões, é organizado pelo mexicano José Esparza Chong Cuy e terá obras da série "Travessia", de Alexandre da Cunha, apresentadas pela galeria Luisa Strina. No espaço, água escorre de uma coluna de orelhões empilhados como uma espécie de fonte.

Outra novidade é que o ambiente não será dividido com o Made, que ocupará uma quadra de tênis feita toda de madeira na década de 1940. A estrutura do estádio é a ideal, segundo Waldick Jatobá, organizador da feira. "Celebramos o Pacaembu como um dos poucos e grandes edifícios art déco de São Paulo."

A Casa de Marimbondo, estúdio criado pela artista Naná Oliveira na comunidade do Tigre, no pantanal sergipano, participa pela primeira vez do evento com peças feitas de hastes de metal e taboa, fibra resistente e que pode ser trançada. Outro destaque é o trabalho de Carol Gay, que consiste em produzir peças de vidro modelado.

O foco da feira é apresentar poucas peças autorais, sem reedições de grandes mestres do design modernista. Há 75 estúdios presentes nesta edição —na última SP-Arte, foram 54 as galerias de design escaladas.

Unir arte e design é uma estratégia que se repete pelo mundo, segundo Jatobá. "Há uma sinergia de olhares e preferências. O colecionador de arte quer ter também em sua casa objetos limitados e de vanguarda, mais escultóricos do que funcionais", diz.

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