Descrição de chapéu Obituário Caçulinha (1938 - 2024)

Morre Caçulinha, músico que trabalhou por décadas no Domingão do Faustão

Célebre pelo trabalho na TV, Rubens Antônio da Silva gravou mais de 30 discos após cultivar seu talento desde a infância

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São Paulo

Morreu na madrugada desta segunda-feira (5) o músico e compositor Rubens Antônio da Silva, mais conhecido como Caçulinha, que se tornou célebre por fazer a trilha do Domingão do Faustão por mais de 20 anos. Ele tinha 86 anos e se recuperava de um infarto, há dez dias, no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo.

O músico Caçulinha em seu apartamento em São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Segundo nota publicada nas suas redes sociais, o velório será na capela do Cemitério São Paulo, às 11h, e o sepultamento será às 16h, no mesmo local.

"Uma vida de dedicação à música popular brasileira. O maestro, com ouvido absoluto, que tocou com os grandes artistas, gravou mais de 30 discos e divertiu muita gente por 60 anos na televisão, deixa um legado imenso de amor à arte", afirma a nota.

Nascido em Piracicaba, no interior paulista, em 1938, foi criado numa família musical. Seu pai, Mariano de Silva, compositor sertanejo de sucesso na região, formou com o irmão Caçula, tio de Caçulinha, a primeira dupla sertaneja a gravar disco no Brasil. Após o tio desistir da carreira para se dedicar à fazenda, pai e filho se apresentaram como o duo Mariano e Caçulinha.

Aos oito anos, Caçulinha já tocava acordeão, e exibia sua habilidade com o ouvido absoluto —capaz de identificar ou recriar qualquer nota mesmo sem tom de referência. Largou o Colégio São Luís na quarta série e, autodidata, aos 20, já se apresentava na noite paulistana entre o piano, violão, acordeão e escaleta.

"Não sou concertista. Não sou solista. Me aperfeiçoei tocando piano eletrônico, teclado", disse à Folha na ocasião dos seus 80 anos. "Aprendi tocando à noite, em boate. Pra não ficar em pé com o acordeom o tempo todo, falavam: ‘Senta no piano e descansa aqui tocando alguma coisa’. Foi assim", lembra. "Se cair [com o acordeom], morre", brinca. "[O instrumento] pesa uns 20 kg. Se tocar meia hora de pé, uns 30 kg. Por que você acha que eu sou baixinho [risos]?"

Do sertanejo à bossa nova, foram 31 discos gravados —o primeiro solo em 1959; o último, em 2019, a partir de um show para celebrar os 60 anos de carreira, ao lado de Sérgio Reis, Agnaldo Rayol, Claudette Soares, Wanderléa e outros— e colaborações com nomes como Luiz Gonzaga, como na música "Sabido", "Arrasta-pé na Tuia" em conjunto com Lourival dos Santos e a valsa "Primeiro Amor".

Ao longo da carreira, acompanhou também, entre apresentações e turnês, músicos como Dominguinhos, Gonzaguinha, Roberto e Erasmo Carlos, João Gilberto, Simonal, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia e Milton Nascimento.

Antes do Domingão do Faustão, que deu a ele projeção sem igual por fazer a trilha sonora ao vivo por 20 anos, sua carreira esteve ligada à TV desde os anos 1960, quando foi contratado pela Record para participar do programa O Fino da Bossa, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues. Na emissora, faria ainda Esta Noite se Improvisa e Bossaudade.

Nos anos 1980, foi para a Bandeirantes com o programa Caçulinha Entre Amigos, seguido do Perdidos na Noite, acompanhando as piadas de Fausto Silva. Essa parceria se estenderia com a ida do apresentador à Globo, a partir de 1989.

Caçulinha permaneceu no programa até 2009, quando foi demitido do programa após, segundo publicou a Folha na época, ter feito críticas ao próprio Faustão, sobre o programa. "Ele quis mudar tudo, acabou com a música porque não dava audiência. Aí eu saí e fui fazer outra coisa", afirmou, lembrando que com o fim da trilha ao vivo, restrita aos jingles de merchandising, o trabalho já não era o mesmo.

Durante o período na emissora, de onde seria desligado em 2014, fez também músicas incidentais no humorístico "Sai de Baixo". De lá, foi para a Gazeta, acompanhando Ronnie Von em Todo Seu, com o quadro "Causos e Canções", contando histórias conforme tocava ao piano. Apesar de dizer que o salário já não era tão bom quanto o da Globo, elogiava a liberdade da por Ronnie Von para que se apresentasse. Deixou a emissora paulistana em 2019.

Restrito à sua rotina caseira nos últimos anos, uma de suas últimas publicações no Instagram havia sido o lamento pela morte de Rita Lee, em maio do ano passado.

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