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Newton Cannito

Para fazer o próximo filme de Silvio Santos, aprendi o poder da lábia e do humor

Longa-metragem que estreia em setembro narra trajetória do apresentador e dono do SBT a partir de seu sequestro em 2021

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Newton Cannito

É um dos roteiristas do filme 'Silvio'

Com Silvio Santos, que morreu no sábado aos 93 anos, aprendi o poder da lábia e do humor. A lábia positiva, o poder de convencer a pessoa, mas sempre aliado à lealdade. Era o poder do fio de bigode.

Quando fui chamado para escrever a cinebiografia de Silvio Santos que será lançada em setembro —"Silvio"—, imergi em uma grande pesquisa sobre sua biografia, lendo, assistindo a seus programas e entrevistando muitas pessoas.

Silvio Santos
Silvio Santos em seu programa no SBT - Lourival Ribeiro/Divulgação

O que mais me impressionou foi seu poder de ganhar empatia de seus colegas de auditório, de ganhar confiança, de se comunicar de forma didática e, também, a lealdade afetiva que ele tinha com seus fãs, amigos e sócios. Ele cuidou de todos que foram leais a ele e foi leal a todos também.

Foi por isso que propus centrar a história no dia em que Silvio foi sequestro e ficou horas preso em sua casa com um crimonoso armado. Ele, depois de muita conversa, convenceu o criminoso a soltar sua família e, depois, a se entregar. A pergunta que me movia ao escrever o roteiro era: como Silvio conseguiu isso?

O que fiz no filme é uma fabulação sobre os bastidores daquele dia. Foi obviamente uma ficção, mas fui muito fiel à personalidade de Silvio. O filme é um thriller, mas é biográfico. No roteiro, Silvio conta sua história de vida para o sequestrador, para ganhar empatia e dar ensinamentos.

No clássico árabe "As Mil e Uma Noites", Sherazade conta histórias para evitar ser morta. No filme "O Sequestro", Silvio Santos é uma Sherazade tropical.

Para ganhar a confiança do próprio sequestrador, Silvio atuou como um mestre. Cada episódio de sua história de vida é contado para dar uma mensagem clara para o sequestrador e o público.

Para ganhar a empatia do bandido, por exemplo, ele conta a história de Silvio camelô, preso ainda na infância, e como conseguiu se safar. Depois, explica o poder da opinião pública, de ser fiel à palavra e ganhar a simpatia das audiências. O filme é uma aula de lábia positivada.

Também aprendi com Silvio o poder de fabular a própria história com humor. Ao contar para Sérgio Mallandro a história, Silvio usou de seu humor genial e comparou o sequestro com o Show do Milhão, provocando risos na audiência.

O relato aconteceu poucos dias após o sequestro. O superpoder do humor para contar a própria história ajudou a transmutar o trauma de ter passado horas com uma arma na cabeça.

Por fim, o que mais mostramos na história do filme é a parceria que ele criou com seus colegas de auditório. Foram eles que deram a ele tudo o que tem. Ele convenceu Geraldo Alckmin, então governador de São Paulo, a intervir na cena do sequestro, mesmo que isso contrariasse as recomendações de seu secretário de Segurança Pública.

Tem uma história que me foi contada por um importante assessor de Silvio, que não contei no filme, sobre quando Silvio recebeu Tancredo Neves, candidato da reabertura à democracia, que pedia apoio. Silvio sabia que o regime militar estava terminando e, como empresário, tinha que se adaptar aos novos tempos.

Tancredo pediu apoio para Silvio, mas Silvio foi enfático. Disse algo em torno disso: o general Figueiredo foi meu gênio da lâmpada, me concedeu meu maior desejo, minha rede de televisão, então não me peçam jamais para falar mal dele, porque serei leal até a morte.

Tancredo respondeu que admirava demais essa lealdade e disse esperar que Silvio fosse tão leal a ele quanto era a Figueiredo caso fosse eleito. A partir daí, Silvio ajudou nas negociações da transição para a democracia.

A história de Silvio Santos é um grande exemplo para os influencers atuais. Silvio é o arquétipo do camelô, do comunicador popular que construiu um império com seu poder de lábia e empatia com o público. Ele pode ensinar muito às novas gerações. É um verdadeiro mestre da sabedoria tropical.

Silvio

  • Quando 12 de set. nos cinemas
  • Classificação Não informada
  • Direção Marcelo Antunez
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