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Marcos Augusto Gonçalves

Ideia de condicionar auxílio a curso profissional é sádica e inoperante

Se a ideia é dificultar o acesso ao dinheiro, o projeto começou muito bem acrescentando a novidade educativa inútil

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Marcos Augusto Gonçalves

Editor da Ilustríssima e editorialista. Foi editor da Ilustrada, de Opinião e correspondente em Milão e em Nova York

Reportagem desta Folha com informações de pessoas ligadas à equipe econômica revelou no domingo (7/2) que o governo federal prepara um plano para liberar três parcelas de R$ 200 para trabalhadores informais não atendidos pelo Bolsa Família. Os detalhes expostos sugerem uma proposta sádica e pretensamente metida a esperta.

O BIP (Bônus de Inclusão Produtiva), como se chamaria a coisa, prevê que, para receber o auxílio, a pessoa terá de participar de um curso de qualificação profissional.

Bem, curso de quê? Para as atividades que supostamente esses brasileiros excluídos teriam demonstrado habilidades ao longo da vida? Será contratado um general especializado em logística para organizar a entrega dessa reciclagem?

Quem vai oferecer o curso? O sistema público? Uma parceria com a iniciativa privada? Será presencial ou à distância? Na opção pela segunda hipótese, certamente a mais adequada diante da pandemia, estaria prevista a doação de celulares com 4G para que os vulneráveis consigam receber as aulas? Ou será por telepatia?

Se a ideia é dificultar o acesso ao dinheiro, o projeto começou muito bem. À tortura humilhante de obrigar as pessoas a lidarem com o monopólio da Caixa, acrescenta-se agora a novidade educativa inútil.

Além disso, a mensagem para os indivíduos dessa massa despossuída é que estão desempregados porque não estudam, não fazem reciclagem profissional —e não pelo fato de que vivem num país de tremendas desigualdades em meio a uma recessão sem fim e uma crise sanitária sem precedentes.

No capítulo falsa esperteza, a equipe econômica quer condicionar o gasto com o benefício a um corte de despesas em outras áreas. Para que o dinheiro venha a ser destinado aos beneficiários, o Congresso teria que aprovar uma PEC com medidas duras para retirar amarras do Orçamento e instituir gatilhos de ajuste fiscal. O truque sórdido (e na verdade também pueril) é usar os miseráveis como reféns para convencer parlamentares a engolirem a emenda.

Em meio ao impressionante o repertório de disparates do governo Jair Bolsonaro e do ministro Paulo Guedes, nada mais surpreende.

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